Mohamed Al-Fayed, o empresário egípcio que era pai do namorado da princesa Diana, Dodi, é acusado de ter violado cinco mulheres e abusado sexualmente de pelo menos mais 15, de acordo com uma investigação da BBC. A maioria das mulheres era funcionária dos armazéns Harrods, uma das lojas de departamento mais conhecidas do mundo, onde estão presentes inúmeras marcas de luxo, do qual o empresário foi proprietário até 2010.
A BBC falou com mais de duas dezenas de ex-funcionárias, no âmbito do documentário e podcast "Al-Fayed: Predator at Harrods" (algo como "Al-Fayed: Predador no Harrods", em português), algo que veio confirmar os rumores que já circulavam há anos. Os alegados crimes que são abordados no podcast da emissora britânica aconteceram em vários locais do mundo, como Londres, Paris, St. Tropez e Abu Dhabi.
"Mohamed Al-Fayed era um monstro, um predador sexual sem bússola moral", afiança uma das vítimas, que não se identificou. Esta era adolescente na altura em que terá sido violada por Mohamed Al-Fayed no apartamento do próprio, em Park Lane, na capital britânica – local em que mais três mulheres terão sido violadas, diz a investigação.
É o caso de Rachel (nome fictício), que, na década de 90, trabalhava como assistente de vendas no Harrods. A mulher foi chamada ao apartamento do patrão depois do trabalho e, embora não tenha estranhado o pedido numa primeira instância, quando o magnata lhe pediu que se sentasse e lhe pôs a mão na perna, rapidamente a situação escalou. “Lembro-me de sentir o corpo dele em cima de mim, o peso dele. De o ouvir fazer estes ruídos. E de ir para outro sítio na minha cabeça. Ele violou-me”, descreve.
Quem também se pronunciou sobre o assunto foi Sophia, ex-assistente pessoal do empresário (de 1988 a 1991). Decidiu abordar o tópico depois de o magnata ter sido retratado em "The Crown", a série da Netflix que retrata a família real britânica, como um homem simpático. "As pessoas não deveriam lembrar-se dele assim", lamenta a mulher, que frisa que o patrão a tentou violar várias vezes. Resistiu de todas as vezes, até que acabou por se despedir.
Gemma, também nome fictício, é outra das mulheres com uma história semelhante, com a particularidade de que a sua agressão sexual aconteceu na Villa Windsor, em Paris, que pertenceu ao duque de Windsor, tio de Isabel II, onde acordou a meio da noite, enquanto Al-Fayd se tentava deitar com ela. Apesar de o ter negado de forma recorrente, "ele continuou a tentar entrar na cama".
"Estava em cima de mim e eu não me conseguia mexer", continuou Gemma. Depois de a ter violado, mandou que se lavasse com Dettol, uma marca de desinfetante. "É óbvio que ele queria que eu apagasse qualquer vestígio de que ele tivesse estado perto de mim", continuou, citada pela mesma publicação.
"Estava ciente do abuso de mulheres quando estava no andar de vendas", diz Tony Leeming, que foi gerente de departamento do Harrods durante uma década, de 1994 a 2004. "Não era sequer um segredo", acrescenta, dizendo que, no entanto, não tinha conhecimento sobre as denúncias mais graves de agressão ou violação.
Tendo em conta tudo o que se passava, as vítimas admitem nunca se terem pronunciado não só devido à cultura do medo instaurada na empresa, mas porque tinham medo de estar sob escuta e de falar sobre o assunto. Além disso, dizem que assinaram acordos de confidencialidade e receberam indemnizações para se manterem em silêncio.
Entretanto, o Harrods, que pertence à família real do Qatar desde 2010, já reagiu à polémica, tendo emitido um pedido de desculpas, no qual admitem estar “profundamente chocados” com as alegações. "Estas foram as acções de um indivíduo que pretendia abusar do seu poder onde quer que operasse e nós condenamo-las nos termos mais fortes", dizem, reconhecendo que falharam com as mesmas enquanto empresa.