Foi em 2017 que, através das suas publicações nas redes sociais, fomos surpreendidos pelas crenças políticas e ideológicas de Maria Vieira. Uma breve passagem pela sua conta de Facebook deixa isto claro: há já algum tempo que vemos textos de apoio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao do Brasil, Jair Bolsonaro, e, mais recentemente, dirigidas ao deputado André Ventura, do partido Chega.
Depois de ter visto a sua conta ser suspensa durante 30 dias, a atriz regressou ao Facebook a 2 de dezembro e publicou um texto onde resume aquilo que são os seus ideais. Este é apenas um trecho:
"E de resto, continuarei lutando contra o globalismo, contra a falácia do 'aquecimento global' que agora se designa por 'alterações climáticas', contra a ideologia de género, contra a imigração ilegal, contra o aborto indiscriminado, contra a eutanásia e sobretudo contra o socialismo e o comunismo que sempre destroem e aniquilam os países por onde passam e infligem pobreza, miséria e opressão sobre os povos que tiranizam."
É na sequência deste posicionamento alegadamente repentino que nasce o conflito com a antiga amiga e colega de décadas, Ana Bola: "O que escreve ali, no meu caso, é grave demais para eu ser amiga de uma pessoa daquelas. Tenho lido no Facebook da Maria e já não leio porque a bloqueei. Isto para mim são coisas gravíssimas. Eu tenho muitos amigos de direita com os quais me dou lindamente e o que se passa ali, naquela página do Facebook, é para lá de ser de direita ou de esquerda. É uma coisa quase ao nível de coisas perigosas, de coisas nazis, salazaristas... e com isso eu não posso concordar", terá dito pela altura, citada pelo jornal "Sol".
Precisamente um ano depois de Manuel Luís Goucha ter recebido o ativista da extrema-direita Mário Machado, esta segunda-feira, 2 de janeiro, foi a vez de Maria Vieira ir ao "Você na TV". Participou num jogo, em que teria de comentar as palavras escritas em papéis que ia retirando de um pote. Um dos temas foi, precisamente, "Ana Bola", a antiga amiga e colega, com quem se relacionou ao longo de várias décadas.
"Houve atitudes muito incorretas, muito feias... Houve uma altura que tive de me justificar. Acho que [a guerra] não se resolve, não vou esquecer nunca. Foram coisas muito graves", disse sobre o fim da amizade com Ana Bola.
"Não vou fazer o que esta pessoa fez comigo, foi para programas de televisão ofender-me. Até neste. Num telefonema muito desagradável, desde execrável, fascista, nazi... Tudo me chamou", continuou, afirmando depois que não iria mais falar sobre o assunto. "Não quero falar sobre essa senhora."
Pela altura em que se chatearam publicamente, Ana Bola terá referido que Maria Vieira era uma "doçura de pessoa", chegando mesmo a duvidar da autoria daquelas publicações no Facebook: "Ou era, mas eu acredito que continue a ser. Uma excelente colega, amiga, talentosa. Sei que a Maria Vieira não tem verve [vivacidade, imaginação] para escrever aqueles linguados de prosa no Facebook dela e acredito, sem prova nenhuma, que não é ela que escreve aqueles textos."
Pela mesma altura, Ana Bola justificou o facto de ter chamado "execrável" à amiga: "Eu jamais chamaria execrável à Maria Vieira. Este post que eu fiz não foi na sequência do post do Trump, com o qual eu não concordo, mas sim na sequência daquele discurso que a Meryl Streep fez na entrega dos Globos de Ouro em que a 'Maria Vieira' fez um comentário estranhíssimo, sendo ela também uma mulher e atriz. Isto vem numa sequência de comentários em que eu não acredito que sejam escritos pela Maria Vieira".
"Não é justo não estar a trabalhar"
No "Você na TV", Maria Vieira falou ainda sobre a alegada ostracização de que tem sido alvo desde que tornou públicas as suas convicções políticas. "Pelo facto de me ter assumido uma mulher de direita e conservadora comecei a ser ostracizada, marginalizada. Comecei a perder trabalho. Há dois anos que não trabalho no meu País por conta de ter assumido as minhas posições políticas. Isso não é correto, não faz sentido. Só prova que vivemos numa ditadura de esquerda. Não é justo não estar a trabalhar."
Maria Vieira recusou um trabalho para regressar à televisão no verão de 2019, como relatou na sua página de Facebook. Acabou por recusar a oferta — em causa, estariam as suas publicações nas redes sociais, como também explicou.
"Acabo de ser convidada para fazer parte de uma produção televisiva (não revelarei, por motivos deontológicos, o canal para o qual essa produção se dirige) durante uma conversa de cerca de meia hora, onde me deram a conhecer o conteúdo do projeto, as datas de gravação e o salário que iria auferir”, começa por explicar a atriz.
“Até aí tudo bem. Acontece que perto do final dessa conversa telefónica, a pessoa que me contactou sugeriu de maneira dissimulada e muito fofinha que entretanto seria aconselhável eu parar de publicar comentários políticos na minha página de Facebook, pois os mesmos poderiam eventualmente prejudicar a minha imagem e de alguma forma embaraçar o próprio projeto para o qual me estava convidando”,
Maria Vieira também elogiou o trabalho do deputado recém chegado à assembleia da republica André Ventura:
"Gosto muito do Chega. Acho que é muito importante", disse, assim que leu o nome do partido no papel retirado do pote. "Que bem que ele se está a portar. Ele é de facto uma pessoa que que mudar este País."