Em 2019, na sequência de um vídeo partilhado pelo youtuber João Sousa, Hugo Strada viu a sua reputação posta em causa. Foi acusado de crimes sexuais, entre eles pedofilia, perdeu contas de Youtube com anos de trabalho e, segundo conta, oportunidades que se traduziram em milhares de euros em prejuízo. O caso chegou à justiça portuguesa no mesmo ano e foi arquivado em 2021, mas voltou esta semana a público com um novo desenvolvimento.

O ex-agente da Team Strada, grupo de influenciadores que esteve no centro do polémica, pede agora uma indeminização no valor de 58.800€ aos youtubers João Sousa e Paulo Borges (Wuant), acusados de sete crimes de difamação. Valor que, segundo revelou em entrevista à MAGG, foi reconhecido como "o mínimo que deveria ser feito, tendo em conta os danos morais e não só".

Youtubers Wuant e João Sousa podem ter de pagar indemnização de 58 mil euros por crimes de difamação
Youtubers Wuant e João Sousa podem ter de pagar indemnização de 58 mil euros por crimes de difamação
Ver artigo

Hugo Strada deixa claro que não "ressuscitou" o assunto, sendo que já está "há muito tempo nos tribunais". No entanto, admite que, quase três anos depois da chegada do processo à justiça portuguesa, o seu principal objetivo continua o mesmo: restabelecer aquela que diz ser a verdade e limpar "o seu bom nome".

"Por mim, este assunto é para ser resolvido só nas barras do tribunal. A minha única dúvida é se as pessoas estão realmente arrependidas ou se não têm consciência da gravidade do que fizeram", começou por explicar.

O criador de conteúdo prepara-se agora para lançar uma panóplia de músicas e dedicar-se ainda mais à sua carreira musical, principalmente por ter encontrado na música a única forma de se expressar.

"Devido a tudo o que se passou, comecei a ficar com receio de falar para uma câmara, porque percebi a facilidade com que o mundo digital consegue editar e deturpar alguns assuntos. Cada vez que agia e me tentava expressar era mal compreendido", explica.

O ex-agente da Team Strada garante que "a verdade está aos olhos de todos", mas admite que o caso nunca será inteiramente esquecido. "O que esses senhores fizeram e o que foi feito relativamente à minha pessoa vai durar para sempre. A pegada digital vai estar lá sempre", diz.

"Houve um boicote à minha pessoa"

Recorde-se que, em julho de 2019, o comportamento do criador de conteúdos, à data, com 36 anos, começou a ser escrutinado. Isto, na sequência de um vídeo partilhado por João Sousa, de 21 anos, que foi juntando imagens de Hugo Strada com membros da Team Strada. "Não faço esta merda pelo clout, acredito mesmo que existam crianças em risco".

A partir da divulgação do vídeo, as imagens começaram a ser escrutinadas nas redes sociais. Queixas contra Hugo Strada, que alegavam comportamentos excessivos e crimes sexuais, chegaram à Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção de Crianças e Jovens pela VOST Portugal, uma rede de voluntários digitais, e, mais tarde, o caso acabou por ser encaminhado para o Ministério Público.

"Houve um boicote à minha pessoa (...) alguns youtubers, com a arma que têm em mãos, devido ao seu poder influenciador, incitaram e levaram as pessoas as chamarem-me o que toda a gente sabe. Usaram a fama e o poder, que são armas, efetivamente, e o objetivo era claro: destruir-me", explicou Hugo Strada, esta quinta-feira, 5 de maio, depois de questionado pela MAGG sobre o caso.

O criador de conteúdo diz que, no centro da polémica, estão "vídeos destroncados, editados com malícia, para fazer com que pareça o mau da fita".

"Eu misturava o pessoal com o profissional, porque éramos uma família"

Relativamente ao teor das imagens, Hugo Strada explica que foram deturpadas. "A minha maneira de trabalhar é muito familiar. Eu gosto mesmo de trabalhar num ambiente assim. Por isso é que as imagens foram facilmente deturpadas", começou por explicar. "Depois de tantos anos a trabalhar juntos, horas em estrada, concertos e toda a sinergia que tínhamos, (...) eu misturava o pessoal com o profissional, porque éramos uma família".

"A maldade que não existia naqueles vídeos foi deturpada exatamente com a intenção de passar essa visão de mim. Portanto, foi intencional", acrescenta.

O agente de 39 anos recorda o impacto que as acusações tiveram na sua vida, mas admite que não foi o único lesado. Segundo conta, a "onda de ódio" alastrou-se de tal forma que episódios de bullying e agressões chegaram a ser protagonizados por fãs da Team Strada. Principalmente, por aqueles que, na altura, em 2019, vestiam roupa alusiva ao grupo de influenciadores na escola.

Hugo Strada sobre acusações de crimes sexuais. "Nunca houve comportamentos excessivos"
Hugo Strada sobre acusações de crimes sexuais. "Nunca houve comportamentos excessivos"
Ver artigo

"Uma menina do Alentejo, inclusive, ficou com um traumatismo craniano, porque foi pontapeada no recreio pelo hate [ódio] que esta gente gerou em torno do projeto e de mim", revelou Hugo Strada. "Os jovens que pertenciam à Team Strada também têm sequelas gravíssimas e nunca mais foram os mesmos".

"Houve muita reação e pessoas a defenderem-me na internet, mas para os média era um conteúdo absolutamente delicioso. Isto eram manchetes e manchetes, eu abri os telejornais, era muito fácil ver aquelas imagens, que deram a entender que eu era um predador. Aquilo gerou ali uma onda tão grande, que as próprias pessoas, que estavam indicadas nos vídeos e tinham alguma coisa a dizer, não foram ouvidas".

Hugo Strada garante que "o interesse aqui não era salvaguardar a integridade dos menores, mas destruir o seu bom nome". Face ao mediatismo do caso, o criador de conteúdos explica que "isso, sim, foi agredir e fazer com que houvesse uma exploração da imagem daqueles menores, de uma forma vil. Quando os próprios estavam a dizer que aquilo não tinha mal nenhum".

Hugo Strada acredita que foi um "bode expiatório"

Enquanto ex-agente do grupo, Hugo Strada admite que, à data, não tinha noção dos perigos do universo digital e daquilo que era (ou do impacto que tinha) um "cancelamento".

"Estava a trabalhar com agenciados com menos de 18 anos, o que é logo uma porta aberta para que me possam fazer mal. Porque, quando se trata de menores, basta a mínima suspeita e eu fico logo sob o radar do Ministério Público (MP). Até porque é obrigação – e muito bem – do MP avaliar tudo o que possa ser suspeito. E quanto a isso, não sou contra. Sou é contra a forma leviana e vil com que puseram o meu nome associado a algo horrível, sem qualquer tipo de preocupação com os menores ou com os pais", diz.

"Aquilo era um conteúdo que era feito muito à semelhança do que se grava nas casas dos influencers no Brasil, só que tinha um adulto de 36 anos lá. O que faz logo com que haja um bode expiatório para puderem criar toda aquela dinâmica à volta".

O ex-agente da Team Strada conta que ficou "traumatizado" com o caso

Hugo Strada explica que, após a polémica, sentiu a necessidade de se resguardar. "A dor e todas as sequelas internas fizeram com que tivesse mesmo de dar um passo atrás e afastar-me um bocadinho do spotlight [dos holofotes, em português]", explica, acrescentando foi a mulher, Ana, a pessoa mais importante durante de todo este processo. "A minha mulher foi o meu maior apoio. Suportou tudo comigo".

O criador de conteúdo (que pondera regressar ao Youtube em breve) conta que se apercebeu de que, apesar de a sua figura associada a projetos como a Team Strada contribuir para que tudo funcionasse "mais rápido", as acusações fizeram com que o impacto da sua imagem deixasse de ser positivo.

O artista admite que não pode precisar a intenção de quem diz ter "boicotado" a sua carreira, mas avança: "o que é facto é que a Team Strada, efetivamente, estava no auge. E, em termos de panorama nacional, Portugal não é assim tão grande. Se a Team Strada começa a ganhar as marcas todas e as estar em todos os palcos, possivelmente achariam que não haveria espaço para todos".

Durante o tempo em que esteve ausente e fora do olho público, o artista e criador de conteúdo conta que chegou mesmo a criar um podcast (que contou com convidados como Elma Aveiro, irmã de Cristiano Ronaldo), mas que ainda não o divulgou publicamente por receio de que, tal como diz ter acontecido com as imagens divulgadas por João Sousa, também fosse deturpado.

"O primeiro [episódio] que gravei foi extremamente doloroso, porque estou a gravar conteúdo e já estou a pensar em como podem agarrar no início e no fim, cortar, fazer uma reação àquilo e vai parar ao Twitter", explica. "Ou seja, isto foi mesmo extremamente traumático e eu preciso de perceber se os senhores que fizeram isto têm noção dos traumas e do mal que fizeram a tanta gente, inclusivamente a mim".

O artista admite que quis "recolher-se" e voltar quando "estivesse forte" e "com a verdade a ser restabelecida" — o que, no caso, diz estar a acontecer agora.

"Neste momento, eu já fui investigado e o processo foi arquivado, porque não havia provas de nada. As pessoas que me fizeram mal foram acusadas pelo Ministério Público de sete crimes. Portanto, a verdade está aos olhos de qualquer pessoa", remata.

Hugo Strada prepara-se para lançar um EP (e aceita colaborações)

Depois de cerca de dois anos a trabalhar nos bastidores e a gerir a carreira de agenciados, Hugo Strada admite que se apercebeu de que também gosta de estar "do outro lado". Ou seja, nos palcos, a atuar enquanto artista.

Já lançou dois temas ("Eu Tou Bem" e "Aqui Tá Bom", o segundo durante a pandemia), mas prepara-se agora para lançar o primeiro EP (abreviação para 'extended play', um conjunto de gravações demasiado curto para ser considerado um álbum musical).

Hugo Strada avança desde já que este EP é "uma viagem sobre quem é", que vai comportar diversos estilos musicais. "Há alguns temas que já estão feitos, mas ainda não sei se vão fazer parte do EP. Terá uma onda festeira, com influências do Brasil e ritmos brasileiros. Vai ser mesmo muito pop, que é o que me caracteriza", conta.

"Em termos de parcerias já fechadas, já trabalhei com Mastiksoul [nome artístico de Fernando Figueira] (...) ou Nuno Ribeiro e vou fazer agora umas colaborações com malta do Brasil".

Ainda assim, o artista garante que está abertos a novas parcerias. "Neste momento, quero abrir a porta a todo o tipo de colaboração, porque gosto mesmo. Consigo ter um afro, uma balada, um trap ou uma música transe. Não me limito em termos de música, sou muito camaleónico e é isso mesmo que quero passar neste EP", avança.

O artista diz que já conta com atuações agendadas para este ano e que os dois temas que tem até à data já passam em discotecas.

Hugo Strada
créditos: Hugo Strada

Hugo Strada espera que o EP seja lançado "ainda este ano, possivelmente até ao verão". Segundo conta, este será apenas o primeiro projeto de uma longa carreira musical, em que sonha contar com colaborações com artistas como Anitta, Luísa Sonza, Ludmilla ou Gloria Groove. "Sei que é uma utopia máxima e impossível, pelo menos, para já, (...) mas seria uma honra".