"O baptizado dos meus filhos foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Da minha e da família e amigos que estiveram presentes. Principalmente dos não crentes. Para um ateu, não é todos os dias que se vai a um baptizado tão vivido e refletido com este; para um católico, não é todos os dias que se batizam filhos de duas mães", começa por escrever Inês Herédia, num texto que acompanha um vídeo no qual surge a cantar, no batizado dos filhos.

Os gémeos Luís e Tomás, de 3 anos, são fruto do casamento de três anos de Inês Herédia e Gabriela Sobral. A atriz e a diretora de Conteúdos e Produção da Plural Entertainment casaram-se em fevereiro de 2018.

A atriz da novela da TVI "Festa é Festa" recorda a educação católica que recebeu em casa e na escola, "com uma vida muito presente na igreja". "Cheguei à adolescência e questionei tudo, questionei todos, afastei-me da Igreja e os meus pais nunca me impuseram nada. Durante os anos de liceu, só ia à missa nas principais celebrações, com a família", recorda.

"Não porque alguém me obrigou mas porque gostava de ir com a minha família toda. Era um momento nosso, sempre fez sentido. Mas a minha espiritualidade não passou disso durante alguns anos. A dada altura no primeiro ano da faculdade, resolvi pegar no carro e ir sozinha à missa num domingo qualquer. Mexeu tanto comigo que acho que nos meus 3 anos de licenciatura estudei mais de teologia do que de hotelaria. Não percebia porque é que sentia bem ali, mas sentia. Sentia-me tão bem e segura ali. Em frente ao sacrário. Em silêncio."

Na referida publicação, Inês Herédia revela que, até hoje, ainda não encontrou nenhuma "explicação racional" para o que sentiu, nesse momento, na Igreja, "a não ser a de que não se escolhe aquilo ou quem se ama". "Ama-se e acredita-se simplesmente. E esse amor é tão bom e tão puro mas também faz curto-circuito."

No texto que partilhou na rede social Instagram, recorda o processo de auto descoberta. "Com o passar dos anos e à medida que fui percebendo e aceitando a minha homossexualidade, afastei-me proporcionalmente deste lugar onde me sinto tão bem mas que o mundo, a sociedade e o peso da história e das instituições me continuava a dizer que eu não era assim tão bem vinda ali. Ou era, mas com condições (?!). Tudo faz curto-circuito ainda na verdade. Hoje entristece-me saber que não posso ser tratada da mesma maneira que o amigo hetero que tenho ao lado. E isso naturalmente fez-me pegar na mochila e sair dali da frente do sacrário."

A atriz assegura que "esta coisa de amar é lixada" e fala sobre a sua relação atual com a igreja católica: "Por mais que não concordes com as posições da tua mãe, ela é tua mãe e tu amá-la. É isto que sinto com a Igreja. Vivo na utopia de achar que um dia isto será tudo reversível e que o amor pode mesmo ser a única lei. Talvez seja isso que amo, no final das contas. Essa utopia. (...) Sei que andam por aqui muitos católicos LGBT, na grande maioria não assumidos. E por isso resolvi vir aqui partilhar isto. (...) Que tudo é um caminho e que este foi um dos dias da minha vida em que tive a certeza absoluta que o Deus que amo (tome Ele a forma que tomar para cada um de vocês), estava ali comigo a olhar-me com o mesmo amor que olha 'os outros'. Não tenho respostas para nada mas também não tenho medo de continuar a fazer perguntas."