Já estão em viagem de regresso a Lisboa, mas a polémica em torno da retenção de Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto no aeroporto de Maputo, este domingo, 20 de julho, está longe de acalmar. A organização do espetáculo “Tons de Comédia” divulgou um comunicado oficial no qual descreve detalhadamente o que se passou, dizendo que foi uma decisão das autoridades moçambicanas, tomada por “ordens superiores”.

A missiva esclarece que "a comitiva do Tons de Comédia chegou ao aeroporto de Maputo às 14h40 (horário local), de domingo, proveniente de Luanda, em voo da TAAG" e que o "grupo tinha um espetáculo agendado na cidade para as 17h neste mesmo dia". Ainda antes de chegarem ao balcão de imigração, foram interpelados por um agente que “solicitou os passaportes da comitiva, alegando que lhes seria concedida prioridade devido à proximidade do show”.

Contudo, ao chegar ao balcão, o mesmo agente “requereu o visto de atividades culturais”. A equipa terá respondido que “havia solicitado o mesmo apenas para o Murilo Couto, dado que, por ser brasileiro, não poderia beneficiar da isenção de visto”. A par disso, terá sido pedido um comprovativo da estadia, que “foi enviado poucos minutos após a sua solicitação, nos dias anteriores à viagem, mas nunca houve qualquer resposta”.

Perante esta situação, todos se terão mostrado dispostos a arranjar solução para o problema. “Considerando que dispunham de toda a documentação necessária, o grupo mostrou-se disponível para proceder com o visto de fronteira e para efetuar o pagamento correspondente, uma vez que a tabela de preços estava afixada e havia balcões disponíveis para este fim", continua o comunicado, que diz que se seguiu uma longa espera.

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Enquanto isso, do lado do promotor local, "foram feitos todos os esforços, utilizando diversos meios e contactos, na tentativa de resolver a situação". O feedback que iam recebendo era de que “o assunto estava a ser tratado e que seria resolvido” e, cerca de uma hora depois, um representante da TAAG informou o grupo de que “a imigração havia pedido que a comitiva fosse ‘devolvida’ a Luanda”.

No entanto, o voo estava cheio e o próximo seria apenas na terça-feira, 22 de julho. Assim sendo, "percebendo que a resolução da situação demoraria mais tempo do que o esperado, e que os técnicos de imigração no balcão do visto de fronteira não estavam por ‘ordens superiores’ autorizados a emitir o visto", foi decidido que o espetáculo tinha de ser cancelado e que o dinheiro dos bilhetes iria ser devolvido, lê-se na missiva.

Foi apenas às 19 horas que o manager do grupo, Pedro Gonçalves, terá conseguido falar com o responsável do serviço de imigração, que lhe terá dito "que a comitiva teria de aguardar no aeroporto pelo voo de regresso a Angola". O manager explicou que o grupo não regressaria a Luanda, mas sim a Lisboa, num voo da TAP agendado para esta segunda-feira, 21.

Pedro Gonçalves terá solicitado que pudessem entrar como turistas para “realizar uma refeição, pernoitar no hotel e regressar ao aeroporto na manhã seguinte”. Mas foi-lhe dito que só a si "poderia ser concedida a saída do aeroporto na qualidade de turista, dado que o seu nome e imagem não constavam do cartaz do espetáculo". Este ter-se-á recusado a sair sozinho.

Pouco depois, terá chegado a confirmação definitiva de que “o grupo deveria permanecer no local até ao embarque no voo da TAP com destino a Portugal, altura em que lhes seriam devolvidos os passaportes”. Ter-lhes-á sido também comunicado que, “caso necessitassem de comida ou bebida, teriam de recorrer a alguém externo que lhes pudesse trazer o necessário”.

O grupo passou, então, a noite no aeroporto. "A produção local conseguiu providenciar-lhes comida e bebida. E neste momento encontram-se já em viagem de regresso a Lisboa, onde vão ficar os próximos dias até partirem para a Tour no Brasil", remata o comunicado, que não menciona qualquer motivação política com a razão que impediu os humoristas de entrarem no país.