O nome Ana Catarina Ribeiro é ofuscado por aquele com que se apresenta aos seus seguidores no YouTube e no Instagram. É nestas plataformas que Ana passa a ser Owhana, a influenciadora digital cujo maior sonho era terminar o curso de Direito para o qual entrou, mas que depressa percebeu não chegar para preencher o vazio criativo que sentia. É precisamente nesse contexto que, em 2016, lança o primeiro vídeo e passa a olhar para o YouTube como um "escape criativo" e através do qual começou a ter a câmara com a qual gravava como plateia. Só que o número das pessoas que a seguiam foi aumentando de forma gradual.
É que desde então, Ohwana soma já mais de 522 mil subscritores no YouTube e 457 mil no Instagram. Quem a conhece, direta ou indiretamente, não lhe reconhece timidez. Mas é a própria que admite, em entrevista à MAGG a propósito do lançamento do seu novo livro — "Owhana: A Minha História, Os Meus Segredos e as Minhas Dicas" —, que nem sempre foi assim.
"Era aquela pessoa que, na escola, se sentava na primeira mesa da sala de aula em frente à professora e era muito tímida ou, como me diziam, acanhada. Quando comecei o meu canal de YouTube, a primeira pergunta que me surgiu foi perceber como é que iria ser capaz de ultrapassar a minha timidez", começa por explicar.
Era, acima de tudo, nas relações interpessoais que Ohwana sentia dificuldades. "Não conseguia fazer amigos e não sabia sequer como é que haveria de chegar a alguém e apresentar-me", mas em contexto escolar a história era outra. "Apesar de tudo, sempre gostei de fazer apresentações às turmas e, nem de propósito, na faculdade acabei por juntar-me à Sociedade de Debates porque gosto desta vertente, gosto de comunicar e de apresentar, expondo, vários temas e argumentos", continua.
Comparando a escola ao YouTube, só muda o público que, não estado visível no momento da gravação de um vídeo, faz-se sentir mais tarde através de comentários, críticas e gostos. "O YouTube ajudou-me a ir ganhando a confiança que tenho hoje porque, embora tivesse de falar para uma câmara, me obrigava a projetar um contacto humano", e falar como se alguém a estivesse a ver em tempo real, mas para um objeto inanimado.
Sobre se o facto de o feedback que lhe chega não ser imediato ajudar na dissipação da timidez, Ohwana não se compromete. "Talvez", é a resposta que se ouve do outro lado da linha durante a conversa com a MAGG.
"Apesar de tudo, e de as apresentações na escola me deixarem nervosa, gostava muito daquela adrenalina potenciada pelo nervosismo porque havia muito brio naquilo que fazia. Sou uma perfecionista e tinha orgulho em mostrar aquilo que tinha demorado tempo a fazer, mas claro que falar para uma câmara torna tudo mais fácil."
Menos fácil é habituar-se às eventuais consequências de uma exposição pública deste tipo. Segundo conta, estabelece linhas vermelhas muito firmes quanto à informação que divulga nas suas redes, como a zona onde vive ou os locais que frequenta nas redondezas, por já ter passado por situações "um pouco chatas" de seguidores que vão ter com Owhana até perto de sua casa.
Embora entenda a intenção, e nunca tenha tido problemas de maior, são linhas vermelhas das quais não arreda pé. Mas é só um dos exemplos de como é fácil perder o controlo sobre aquilo que dá a conhecer de si durante um percurso e uma carreira que vive da exposição.
O vídeo polémico do término da relação com Wuant
O exemplo mais recente teve que ver com um vídeo durante o qual anunciou, em fevereiro, o término da relação com Paulo Borges, mais conhecido por Wuant, e com quem mantinha uma relação há cinco anos. O vídeo viralizou mas, no entanto, gerou várias críticas ao youtuber pela forma como este decidiu abordar o fim da relação, com Ohwana ao seu lado, para milhares de pessoas.
Uma das vozes críticas foi a de Nuno Markl. "O youtuber mais influente do país (dados da Forbes) acaba de influenciar toda uma geração a acabar com uma namorada da maneira mais humilhante possível para ela", escreveu.
Mas não foi o único e também Ana Garcia Martins, autora do blogue "A Pipoca Mais Doce", criticou o jovem. "Bem sei que são novos, que são youtubers, que estão habituados a este nível de exposição, mas não sei, mesmo, como é que ela embarcou nesta telenovela deprimente e se sujeitou a estar ali ao lado dele, a ouvir aquela overdose de parvoíces e desconsiderações. E acho que é só um péssimo exemplo para outras miúdas, que podem achar que serem tratadas assim é normal e aceitável. Não tendo nada a ver com o assunto, não posso deixar de esperar que este tempo sirva para, pelo menos, ela perceber que se livrou de boa".
Ainda que o momento da rutura seja abordado no livro de Owhana, a jovem tem alguma resistência em falar do vídeo que, diz à MAGG, considera ser "muito sensível".
"A questão do vídeo é algo que é muito sensível porque nenhum dos dois tinha noção das proporções que aquilo iria tomar [depois de publicado]. Não fazíamos ideia. Claro que, ao escrever este livro, fazia sentido abordar o término da relação porque foi exatamente por isso que passei durante toda a pandemia em que estive sozinha. Embora emocionalmente estivesse a passar por uma má fase, agarrei-me a tudo o que podia em termos profissionais", apostando na publicação de mais vídeos no seu canal, potenciando o seu Instagram e escrevendo o livro que está agora disponível em todas as livrarias do País.
A emancipação e a aposta na voz para música e dobragens
E garante que facto de o vídeo, entretanto apagado, se ter tornado viral não atrasou o processo de luto. Mesmo a necessidade de procurar ajuda psicológica, que revela no livro, teve como objetivo lidar com o fim de uma relação de cinco anos. E ainda que escrever várias páginas "sobre como ultrapassar um coração partido tenha sido duro", na medida em que a obrigou a "reviver memórias e momentos vários" passados a dois, garante já não haver fantasmas que a atormentem — "até porque a terapia serve para isso mesmo", para os desconstruir e ultrapassar.
Mas quando lhe perguntamos se, sabendo o que sabe hoje, voltaria a sujeitar-se à exposição de que foi alvo naquele vídeo, a youtuber recusa-se a responder a mais questões sobre o tema. O que é facto é que, desde aí, os fãs reconhecem em Owhana, que se apresentou com um novo visual, uma figura emancipada e até uma inspiração — ideia que é sustentada pelo tipo de mensagens que a própria vai recebendo.
"Tenho tido muito feedback sobre a minha história na medida em que as pessoas não sabiam da maior parte das coisas que revelo no livro, nomeadamente no que toca à minha timidez ou às minhas raízes. Se houver uma pessoa que ao ler-me, consegue, de alguma forma, dar a volta à sua vergonha e à sua timidez, já valeu a pena."
E continua, referindo-se ao seu percurso como uma espécie de registo documental em que vai expondo, mas também aligeirando, as dores do crescimento: "Comecei o meu canal quando tinha 20 anos e agora tenho 24. Todo o processo do crescimento e todas as alterações que estão a acontecer, estão também a ser documentadas em forma de fotografias e em vídeos. Mas não há uma personagem."
Até porque, não tem dúvidas, "aquilo que as pessoas mais querem ver agora é realidade e não construções ou fantochada". "Querem ver o que é real", reforça. A prova disso foi quando, através das suas Instagram Stories, começou ser mais pessoal nas suas publicações e a abordar temas que, percebeu depressa, eram comuns a muitas pessoas.
"Fiz uma série de publicações sobre aquilo que deduzo ter sido uma crise de ansiedade, tema sobre o qual nunca tinha falado no YouTube, e sinto que toquei muita gente. Recebi mensagens de pessoas que sabiam exatamente o que estava a sentir, recebi mensagens de conforto que me aqueceram o coração" e que lhe mostraram não estar sozinha. A palavra-chave aqui, repete, é realidade. Ou verdade.
De olhos postos no futuro, diz à MAGG que agora tem as ferramentas que "há coisa de dois ou três anos não tinha ao seu dispor" para apostar em si. "Este ano tomei a decisão de investir na minha formação e fazer worshops com o objetivo de investir na minha voz". É que a grande aspiração de Ohwna, revela, é um dia vir a trabalhar no mundo das dobragens de desenhos animados.
A experiência, ainda que pouca, começou a ser traçada em meados de 2019 quando foi convidada para uma participação pequena no filme "Angry Birds 2", que a deixou "maravilhada". Pelo caminho, espera que este seja também o ano em que se estreia na música com o lançamento do seu primeiro single, mas não esconde que o seu grande objetivo é dobrar vozes.
Se algum dia a iremos ouvir num dos quaisquer filmes fofinhos da Disney? "Quem me dera, é o meu sonho", desabafa.