Ainda que tenha acontecido no Brasil, o caso, um pouco à semelhança da popularidade de Felipe Neto, também já extravasou fronteiras ao ser noticiado pela imprensa internacional, como o "The Guardian" ou a agência de notícias "Associated Press". Falamos da acusação por parte da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio de Janeiro ao youtuber e influenciador digital do crime de corrupção de menores. Segundo o que se conseguiu apurar até agora, o pedido de investigação foi enviado até ao Ministério Público e terá sido aceite por Pablo da Costa Sartori, delegado da DRCI, que decidiu recomendar uma investigação.
A denúncia, no entanto, foi feita 2018 e tinha como base legal o facto de o público de Felipe Neto no YouTube ser maioritariamente composto por crianças e adolescentes.
Isto foi o suficiente para que as autoridades considerassem que o conteúdo produzido pelo youtuber infringia o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que prevê uma pena de quatro a oito anos de prisão e multa por "vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registo que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente".
Na recomendação da abertura de uma investigação, o delegado Pablo Sartori diz ainda que, além disso, há outros vídeos em que Felipe Neto aborda questões sexuais em vídeos classificados para maiores de 13 anos, mas que, durante o conteúdo audiovisual, o próprio defende que "crianças com menos de 10 anos não deveriam assistir, deixando clara que a indicação do vídeo" não era respeitada, cita a CNN Brasil.
Através de um comunicado oficial enviado à imprensa e publicado nas redes sociais, Felipe Neto reagiu ao caso negando toda e qualquer acusação através da sua equipa de comunicação. "Felipe Neto reitera que o inquérito está apurando as mesmas falsas acusações e desinformações que há meses vêm sendo cometidas e articuladas por membros da extrema-direita, fortemente incomodados com as críticas ao governo Bolsonaro", lê-se no comunicado citado pela mesma publicação.
E continua: "Felipe Neto informa que prestou todos os esclarecimentos necessários, porém o delegado de polícia, sem tomar nenhum depoimento ou realizar qualquer investigação, decidiu indiciá-lo. Confiante no Poder Judiciário, o youtuber permanece absolutamente convicto e tranquilo de que nunca praticou crime algum e reitera, ainda, que todo o ocorrido ainda será analisado por um promotor de Justiça. Felipe Neto acrescenta que, quando começou a se manifestar vigorosamente contra os absurdos do governo Bolsonaro, já estava preparado para enfrentar todos os tipos de ataque cometidos pela articulação do ódio, desde a propagação de notícias à acusações falsas, associando-o a crimes, na tentativa de destruir sua imagem e reputação”.
Felipe Neto fala em perseguição política
Num novo vídeo, publicado no sábado, 7 de novembro, o youtuber revelou que esta não fora a primeira denúncia feita contra ele no Ministério Público, mas que terá sido a primeira a ser aceite por um delegado, que posteriormente recomendou uma investigação formal, precisamente por este ser um apoiante do governo conservador e radical de Jair Bolsonaro.
"Sou uma pessoa que defende os direitos humanos e o progressismo. E, obviamente, eu e Bolsonaro somos pessoas diametralmente opostas. E a galera pró-governo passou a me ter não como um rival, um adversário político, mas como um inimigo. O extremista radical tem inimigos, pessoas que ele precisa destruir", começa por explicar aos milhares de seguidores que assistiram à transmissão em direto.
O crime de que é acusado, explica, é o de "corromper ou facilitar a corrupção de menores de 18 anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la". "Nunca incentivei ninguém a cometer crime algum nessa vida”, reforçou por diversas vezes, explicando até que é um dos poucos youtubers no mundo que identifica a faixa etária dos seus vídeos.
E ainda que se mostre "tranquilo e sereno" com as investigações, uma vez que está convicto de que não cometeu crime algum, diz que este será o início de uma "narrativa" montada pela ala radical dos apoiantes do governo de Jair Bolsonaro com o intuito de manchar a sua reputação.
É que mesmo que o Ministério Público decida arquivar a queixa, o que advogado do youtuber revelou, na mesma transmissão em direto, ser o cenário mais provável por não haver base legal para prosseguir com a investigação, este será um momento que estará sempre associado à carreira de Felipe Neto. O objetivo? Usar isso contra o criador de conteúdos e fazer crescer a dúvida acerca da sua credibilidade enquanto figura pública — que nos últimos anos se tornou num dos críticos mais acérrimos do conservadorismo e da extrema-direita vigente no Brasil.
Foi nesse sentido que o influenciador incentivou a sua base de seguidores a assumir um papel mais interventivo na defesa da sua honra. "Sempre que alguém falar que eu fiz isso, mostre a verdade. Não insulte ninguém, faça isso com amor. Porque é com amor e verdade que se combate o ódio".
A denúncia está agora nas mãos do Ministério Público que deverá dar seguimento ao caso ou ordenar o arquivamento. Segundo o advogado de Felipe Neto, esperam-se novidades acerca da decisão da instituição até ao final do ano.