Rodrigo Soares, ator de televisão e cinema e modelo de 44 anos, integra o elenco do filme espanhol “A Manzana de Oro”, que está nos cinemas atualmente, e participou em “After: Depois de Tudo”, que se estreou em Portugal em setembro. Contudo, o ator revelou à MAGG que este projeto foi “agridoce”, porque acabou por ficar com um papel menos relevante do que estava a contar.

José Mata sobre a sua personagem em "Papel Principal". "Quis pô-lo a falar mal português"
José Mata sobre a sua personagem em "Papel Principal". "Quis pô-lo a falar mal português"
Ver artigo

Na televisão, integra o elenco da quarta temporada da série “O Clube”, da plataforma OPTO, da SIC, e está a gravar a nova novela da TVI, “Cacau”, onde vai dar vida a Vasco. Em entrevista à MAGG, o ator revelou quais foram as personagens mais marcantes do seu percurso e os seus objetivos futuros a nível profissional. Rodrigo Soares admite querer continuar a conciliar a carreira nacional com uma carreira internacional.

Além disso, o ator foi capa da edição de outubro da revista “Cristina”, assim como Susana Dias Ramos, que pretende demonstrar os diferentes julgamentos que existem quando um homem está rodeado de mulheres e quando uma mulher está rodeada de homens. À MAGG, explicou que acredita numa mudança de paradigma.

Leia a entrevista.

O Rodrigo integra o elenco do filme espanhol “La Manzana de Oro”, que está nos cinemas atualmente. Como foi a experiência e quais os maiores desafios deste projeto?
Foi o meu primeiro filme espanhol e logo pela mão de um realizador tão conceituado como o Jaime Chávarri, portanto por aí foi tudo ótimo. No fundo foi engraçado, porque eu enviei um vídeo e não era um vídeo com cena nenhuma, era só um vídeo de apresentação, que a minha agência me pediu para enviar, e depois o que ele me pediu foi para eu ir a Madrid almoçar com ele. Então eu fui daqui a Madrid no mesmo dia e voltei, almoçámos, ele fez-me algumas perguntas e depois ele ficou de me dar alguma resposta. Eu a imaginá-lo a almoçar com atores todos os dias e a pensar assim: ‘estou tramado’, mas passado uns dias recebi a resposta e tinha ficado.

Fiquei muito contente, porque para além de ser um realizador super conceituado em Espanha era o regresso dele passados 17 anos, que ele esteve 17 anos sem fazer nenhum filme por não se identificar com este novo cinema e agora voltou para, em princípio, a última obra da sua carreira. Portanto foi assim um filme emblemático em que eu tive a sorte de participar com imensos atores espanhóis também de renome.

A dificuldade poderia ser o espanhol, mas eu falo espanhol. O meu papel não era espanhol, eu até acho que não era português e era brasileiro, e podia ter algum sotaque. O meu personagem é um artista, eles são todos poetas, eu neste caso era um sonhador. A trama é à volta de um concurso de poemas e as intrigas entre os artistas que se geram durante um fim de semana, porque estão todos dentro de um palacete durante esse concurso. É uma comédia e foi um filme que eu gostei muito de fazer.

Também integrou o elenco do filme “After: Depois de Tudo”. Como foi integrar um projeto destes?
Essa experiência foi boa, mas poderia ter sido melhor. Aí já fiz um casting normal, fiz um casting enviado depois para a produtora que estava a fazer o filme e eu acabei por ficar com um papel que depois não foi o papel com que fiquei no final do filme. Era um papel com muito mais relevância, só que à medida que o processo foi avançando mudaram a realizadora que me tinha feito o casting e que me tinha escolhido, porque teve um projeto que teve de ir fazer. Entretanto entra o realizador substituto e decide que preferia outro ator para aquele papel. E pronto, acabei por ficar com outro papel mais pequenino no filme, que foi bom na mesma, mas no fundo eu ia ter um papel com muito mais destaque no filme e depois acabei por ter um menor.

Mas foi ótimo em termos de produção e por ter conhecido o Hero [Fiennes Tiffin, protagonista do filme] e ter contracenado com ele, as minhas amigas ficaram todas muito invejosas (risos). Foi uma boa experiência, se bem que acho que foi um pequeno ensaio do que poderia ter sido. Se eu tivesse ficado com o outro papel teria um reconhecimento muito maior a nível internacional por causa deste filme. É daquelas coisas que na nossa profissão temos sempre. Às vezes estamos dependentes de sorte ou de azar e neste caso este projeto foi agridoce, porque gostei muito de participar mas, tendo em conta que ia ter um papel mais com mais preponderância no filme, fiquei com aquele sabor agridoce na boca. Mas foi bom na mesma.

Quais são as principais diferenças entre filmar um projeto destes, internacional, comparando com um projeto nacional?
A diferença é sempre o dinheiro. O dinheiro e a dimensão. Eles têm a capacidade de chegar aqui e fechar bairros inteiros em Lisboa durante não sei quantos dias e isso custa muito dinheiro. Se for uma produção nacional, provavelmente vai ter de fechar durante algumas horas só. A diferença é que depois há muito mais tempo para fazer uma cena melhor, porque eles têm dias para a fazer e nós temos algumas horas.

A diferença é aí, na questão do dinheiro, porque em termos de produção, de técnicos e mesmo de talento de atores eu acho que estamos muito bem e estamos a melhorar cada vez mais. Nos projetos lá fora há mais dinheiro, havendo mais dinheiro há mais tempo e havendo mais tempo há mais qualidade. É uma pescadinha de rabo na boca.

Também acabou de gravar a quarta temporada da série “O Clube”, para a plataforma OPTO, da SIC. Considera que este projeto vem quebrar tabus necessários?
Sim, eu acho que é um projeto arrojado, ir na quarta temporada quer dizer que está a ter sucesso, portanto é uma coisa que as pessoas veem. Se quebra tabus na ficção? Isso sim, porque há cenas em que há nudez, há cenas de sexo, mas é tudo feito com muita classe, com muito bom gosto pela Patrícia Sequeira que é a coordenadora do projeto.

Daí todos os atores serem atores conceituados a nível nacional, porque sabem que vão trabalhar com uma produtora e uma realizadora que os protege e que lhes dá a capacidade de fazerem grandes cenas e um trabalho que é difícil de se fazer em Portugal. Penso que esta é a mistura para que haja um bocadinho mais de coragem e de arrojo na produção nacional que eu acho que vai haver. O facto de já ir na quarta temporada é sinónimo que as pessoas gostam de ver.

Também está a gravar a nova novela da TVI, “Cacau”. Em que considera este projeto diferenciador, em comparação com outros?
A diferença é que a TVI voltou às grandes produções, metade da novela passa-se no Brasil, algo que já não acontecia há muito tempo. Isso dá uma dimensão mais global à história, porque às vezes é centrada numa cidade portuguesa ou até numa aldeia.

O meu personagem [Vasco] tem um hostel, uma pousada em Itacaré, a cidade onde se desenrola a história lá no Brasil, e tenho a minha estalagem onde passam vários personagens e acontecem várias histórias. Estou ali no meio da trama, estou a gostar muito até agora. O único senão é que eu ainda não fui ao Brasil e parece que já não irei (risos).

Numa entrevista que deu em 2020 disse que a série da RTP “Terra Nova” foi o projeto que “mais prazer” lhe deu fazer. Mantém-se ou passados estes anos algum outro conquistou este lugar?
O “Terra Nova” realmente é um projeto que me é muito querido, até porque foi conduzido por um realizador que eu admiro imenso, o projeto também era do Artur Ribeiro e eu gosto muito dos projetos dele. Foi uma aposta porque, até àquela altura, eu só tinha basicamente feito novelas e uns papéis em que não era exigido tanto de mim. Foi a primeira vez que eu senti que estavam a exigir de mim e que me estavam a dar a hipótese de fazer mais do que aquilo que já tinha feito.

Rodrigo Soares na série da RTP
Rodrigo Soares na série da RTP "Terra Nova" créditos: RTP

Daí eu ter ficado com um grande carinho por esse trabalho, porque foi a primeira vez que eu vi um realizador a apostar em mim, a puxar por mim e a dar-me um papel importante na história. Depois a série teve imensos prémios, foi aclamada por toda a gente e daí eu ter ficado com um carinho especial.

Acho que agora posso começar a equiparar “O Clube”, porque também foi um projeto diferente, foi a primeira vez que fiz um projeto assim deste género em Portugal e, portanto, este também me vai marcar. Acho que vou pôr “O Clube” a par do “Terra Nova”.

E qual o personagem de novelas que já integrou, como “Morangos com Açúcar”, “Amar Demais, “Para Sempre” ou “Coração D’Ouro”, que mais lhe deu prazer de fazer?
A que eu mais gostei foi, sem dúvida, os “Jardins Proibidos”, em que era o pescador, o Carlos Pedro. Além de adorar a minha personagem, tive a hipótese de contracenar com o Vítor Norte e com a Maria Emília Correia, que eram os meus pais, e só isso fazia a novela. Para além disso, o meu melhor amigo era o Diogo Infante, contracenei com a Helena Isabel e como foi também a minha primeira novela num papel principal, no elenco fixo, foi muito importante para mim. Tê-los todos à minha volta foi um apoio enorme e ficamos todos amigos.

As gravações acho que duraram mais de um ano naquela altura e diverti-me imenso, porque passávamos a vida no Portinho da Arrábida, eu tive a hipótese de estar mesmo com os pescadores de lá, aprender com eles, andar no barco com eles. Acho que foi o papel que mais me marcou até hoje e também marcou o público em relação a mim, porque ainda hoje me falam deste papel quando vou na rua.

Fazer um protagonista é um objetivo na sua carreira?
É um sentimento dúbio. Gostava de fazer um protagonista, claro, acho que qualquer ator gostaria, mas em telenovela é uma coisa muito exigente. O protagonista de novela grava muitas horas, muitos dias e basicamente não tem vida durante um ano. Eu agora fui protagonista de um filme, o “Match”, mas numa novela vou ser sincero: precisava de ser um papel que me desafiasse muito, que eu tivesse muito prazer de fazer. Fazer um protagonista não é fácil, fisicamente e emocionalmente. Claro que se for um papel desafiante estaremos cá para isso.

O “Match” ainda está em fase de pós-produção, ainda não saiu. Em termos de rodagem, ser protagonista não é fácil porque basicamente estamos em todas as cenas e isso nunca me tinha acontecido num projeto. Normalmente nós estamos a gravar, eu gravo uma cena, depois a seguir há outros atores que vão gravar, eu descanso, depois vou fazer outra cena. Bem, neste sendo eu o protagonista foram 28 dias a trabalhar todos os dias. Às vezes fazíamos noites, às vezes dias, mas foi non-stop durante 28 dias.

Foi extremamente cansativo, exigente, mas lá está, o papel era muito desafiante. Foi-me proposto pelo Duarte Neves, um personagem que ele imaginou e escolheu para mim. A partir daí o cansaço passa. Este vai ser um filme que também vai criar um buzz em Portugal, espero que seja bom para a produção nacional e para começarmos a fazer coisas diferentes. Estou ansioso pela estreia e pelo feedback que o filme irá ter. Ainda não tem mês, mas vai estrear em 2024.

"O cinema espanhol e o anglo-saxónico são mercados que me interessam muito"

Quais são os seus objetivos futuros? Pretende continuar a intercalar uma carreira nacional com a internacional?
Sim, esse é o objetivo. Eu vivo em Lisboa, gosto muito de Portugal, mas quero a minha carreira internacional, quero continuar a prosseguir nesse caminho, porque aqui ao lado temos Espanha que é um mercado muito grande e com muita produção. Eu falo espanhol, tenho feito castings e agora com o filme espanhol nos cinemas estou à espera que tenha um bom feedback e que surjam mais convites. O cinema espanhol e o anglo-saxónico realmente são mercados que me interessam muito.

Hoje em dia os atores estão numa base global, já não é preciso estarmos em certos sítios para estarmos a fazer castings. Hoje em dia podemos enviar, podemos ser escolhidos por alguém do outro lado do oceano sem termos de lá estar e começa a haver uma internacionalização de carreira e claro que esse é um objetivo meu.

O que é que ainda gostava de fazer neste mundo da representação?
Eu sinto-me a começar a minha carreira ainda, por isso ainda quero fazer muita coisa. Fiz o meu primeiro filme em Espanha e quero fazer mais produção em Espanha seja no cinema seja em série, em Portugal gostava muito de um dia começar a fazer teatro, porque ainda não fiz teatro profissional, continuar no cinema e acompanhar a produção portuguesa. Eu acho que nos próximos tempos a produção em Portugal vai começar a crescer, aliás já se vê com “Rabo de Peixe”, “O Clube”, são séries que estão a ser feitas de um modo mais internacional, os próprios novos “Morangos com Açúcar”, que as pessoas não reagiram muito bem, mas é num mercado internacional em que se está a pensar.

O Rodrigo começou na área da moda. Ainda é uma área presente na sua vida ou está mais focado na representação?
Já estou mais focado na representação há alguns anos. Por volta dos 30 e poucos comecei a deixar de uma forma mais séria o mercado da moda. Ainda há castings, ainda me propõem alguns trabalhos e ainda vou fazendo alguns trabalhos de moda, mas eu considero-me um ator e sou um ex-modelo, a moda ficou lá para trás. Como modelo profissional já não vou para os desfiles de Milão, nem para as épocas de desfiles em Paris, mas claro que se houver um casting e eu tiver disponibilidade é uma área que nunca vou deixar, porque monetariamente é um plano b que me agrada ter sempre.

Foi capa da Revista "Cristina", assim como Susana Dias Ramos, para demonstrar os diferentes julgamentos que existem com duas capas iguais: um homem estar rodeado de mulheres e uma mulher estar rodeada de homens. Aceitou fazê-la porque realmente acredita nesta mudança de paradigma, principalmente em relação à sexualidade e aos relacionamentos?
Sim, lógico. Fazer uma capa de uma revista é sempre bom em termos de marketing, mas não foi esse o caso. É uma capa de revista com um tema, com um debate, com um propósito e fiquei muito orgulhoso pelo convite, porque é um tema que está na ordem do dia, que deve ser debatido. Realmente é verdade, sabemos que as definições de uma mulher que está com vários homens ou de um homem que está com várias mulheres são bastante diferentes. Para o homem é visto quase como um ato heroico e para a mulher é visto como um ato miserável, praticamente.

Eu gostava de estar presente e de ajudar nessa mudança e, portanto, espero que esta capa levante essa questão e faça com que as pessoas comecem a olhar para as coisas de uma maneira diferente. Já estamos em 2023, são pensamentos retrógrados, antiquados, já não fazem sentido na nossa sociedade. O facto é que eles ainda existem, por isso é importante que revistas com grande tiragem como a da Cristina falem nestes assuntos e eu fico muito orgulhoso, por isso é que participei.

Apesar de ser uma figura pública, mantém a sua vida pessoal mais resguardada. Acha importante manter esta distância do público e do privado?
Eu acho que sim, porque cada pessoa toma o seu caminho nesta área. Desde os meus 20 anos que tenho alguma exposição mediática e sempre lidei com ela da mesma maneira: não tenho nada a esconder, mas também não tenho que revelar a minha vida toda. É por essa base que eu ainda me rejo e vou continuar a reger. Gosto de ter a minha privacidade, gosto de não estar preocupado se está alguém atrás de mim a fotografar-me ou não.

Lá está, a questão de ser protagonista nas novelas às vezes traz-nos uns acréscimos que eu não sei se estaria disposto a ter na minha vida. Neste momento aproveito a minha pouca exposição nesse sentido e prefiro continuar assim, a ter um lado mais privado na minha vida.

O Rodrigo é um apaixonado por desporto. Quais os que pratica atualmente? Sente que o desporto o ajuda a desligar do mundo da ficção?
Atualmente só pratico kickboxing e corro. Dantes praticava natação e de vez em quando volto, mas depois deixo. É um desporto que pratico desde os meus 6 anos, por isso é algo que gosto de fazer de vez em quando. Agora mais consistentemente é o kickboxing e faço corridas à beira-rio.

Nem é desligar do mundo da ficção, é mesmo desligar do mundo em geral. Não sou daquelas pessoas que vem com a personagem para casa. Eu consigo diferenciar cada momento. Se estiver com amigos estou com amigos, se estiver a trabalhar estou a trabalhar e quando estou a fazer desporto, como é algo que eu faço desde os meus 6 anos, que comecei com natação, depois fiz judo, musculação, remo, já é quase uma rotina e não consigo passar muito tempo sem fazer desporto. É importante para mim manter-me ativo. Seja a ouvir música ou não, eu faço desporto sozinho, tirando quando estou no kickboxing que preciso de alguém para combater, não gosto de estar ao telefone, não falo ao telefone, não cumprimento alguém se passar por ele a correr. Se ficar dois ou três dias sem fazer realmente sinto falta.

Veja as fotos do ator.

Créditos das fotos: Alina Kvitka