Sofia Ribeiro, que dá vida a Joana Pedrosa, uma mulher que sofreu violência doméstica por parte do marido, na novela “Senhora do Mar”, na SIC, esteve esta quinta-feira, 22 de fevereiro, no programa “Júlia”. A atriz recordou a relação tóxica em que também já esteve envolvida.
Sofia Ribeiro começou por realçar que, “normalmente”, “estão lá sempre os sinais”. “Desde o início que estão os sinais. Nós não entendemos o que é que eles querem dizer, não queremos ver, porque há um encantamento grande à volta daquela pessoa, daquela relação”, disse.
“De repente estamos completamente envolvidos e quando estamos completamente envolvidos, portanto já nos ganharam, começa quase que um jogo do estou, não estou, estou, não estou, que nos faz levar para um lugar de: ‘o que é que se está a passar? O problema se calhar sou eu, não és tu’, que nos faz colocar em causa, que nos faz pensar que o problema é nosso e que estamos nós a enlouquecer. É uma espiral de um sem fim de situações, muitas delas escalam para coisas muito graves”, continuou.
A atriz revelou que passou por “algumas”. “Não vou falar de pormenores mais sérios, mas posso dar um exemplo: fiquei trancada numa casa 10 horas seguidas, porque não me deixavam sair. Não queriam que eu me fosse embora, porque eu queria ir-me embora e seguir com a minha vida”, contou.
“É um caminho. Como fazerem-me esperas, como porem-me um localizador no telemóvel e perseguirem-me, como aparecerem à porta de minha casa e não tirarem o dedo da campainha ao ponto de eu ter um ataque de pânico e desmaiar, porque estava há quatro horas com o dedo na campainha sem parar”, continuou, acrescentando que estava “muito frágil”.
A atriz afirmou que se preocupava com o facto desta situação se tornar pública. “Tinha um sério problema comigo de: ‘o que é que as pessoas iam pensar se isto se tornasse público?’. E a pessoa sabia disso, então eu dizia: ‘eu vou fazer queixa à polícia’ e ela dizia: ‘vai, no dia a seguir está tudo no ‘Correio da Manhã’’. Dizia-me isto constantemente”, confessou.
“Dava-me muito medo, preocupava-me bastante, eu não queria a minha vida exposta dessa forma. E isto entra numa espiral sem volta, sem caminho e ultrapassam-se as barreiras que não se podem ultrapassar”, realçou, acrescentando que chegou “a fazer queixa” à polícia e a retirá-la. “Todos os processos que se pode imaginar de uma pessoa que está um farrapo”, refletiu, sempre sem nunca se referir à pessoa com quem manteve este relacionamento.
Quanto ao papel que Sofia Ribeiro interpreta em “Senhora do Mar”, a Joana, a atriz garante que não tinha conseguido “fazer esta personagem há uns anos”. “Eu ia misturar a Sofia com a Joana. Não era possível, eu não tinha essa base que hoje tenho, que me sinto uma pessoa resolvida, que falo sobre as coisas sem qualquer problema. Elas estão cá, estão na minha pele, eu não as esqueci, mas não me provoca dor como já foi no passado. Se fosse há uns anos atrás eu não conseguiria dar vida à Joana, porque eu iria estar em sofrimento constante a relembrar a minha caixinha e a escarafunchar nas minhas feridas”, garantiu.