Os Amália Hoje, formados em 2009 e constituídos por Sónia Tavares, Fernando Ribeiro, Nuno Gonçalves e Paulo Praça, regressam em 2024, ano em que se assinalam os 25 anos da morte da fadista Amália Rodrigues e os 15 anos do projeto. À MAGG, a cantora de 47 anos revela alguns planos do grupo, pelo qual tem um carinho especial por ter sido graças ao mesmo que conheceu e se apaixonou pelo marido, Fernando Ribeiro, com quem tem um filho, Fausto, 12 anos.
Sónia Tavares, que se estreou como mentora do “The Voice Portugal” na 11ª temporada do concurso de talentos da RTP, em 2023, ao lado de António Zambujo, Sara Correia e Fernando Daniel, também recorda este desafio, assim como o de investigadora nas três primeiras temporadas d’ “A Máscara”, na SIC, ao lado de César Mourão, Carolina Loureiro e Jorge Corrula.
2024 marca também os 30 anos dos The Gift, banda de Sónia Tavares, que está a pensar em celebrar em grande este marco. A cantora fala ainda sobre como lida com as doenças com que foi diagnosticada há 12 anos, fibromialgia, e depressão crónica profunda.
Leia a entrevista.
O que é que acha que ‘Amália Hoje’ diria do resultado destas eleições legislativas?
Acredito e sei que, tudo o que a Amália achasse que faria mal ao País, seria contra de certeza, porque ela era “a” portuguesa. Ela, pelo mundo inteiro e pelas entrevistas que dava, dizia: ‘eu tenho vida de hotel, já corri o mundo inteiro, mas eu gosto mesmo é de Lisboa’. Sinceramente, a Amália sempre foi uma revolucionária. Sei que estaria sempre do lado dos oprimidos.
A Sónia costuma dar as suas opiniões, mesmo sobre assuntos mais polémicos. Acha que, como tem muita visibilidade, também tem esse dever?
Dever não tenho, não tenho dever nenhum. Eu sou cantora, sou vocalista dos The Gift, e dever não tenho nenhum, porque não sou ministra, não decido nada, só dou a minha opinião com a qual algumas pessoas se identificam. As figuras públicas, normalmente, são públicas porque, para além do jet set, se destacam em algum lado, nas artes, seja no que for. Portanto, são públicas e são conhecidas pelo trabalho que fazem e não necessariamente por passarem uma mensagem extra, ou seja, direcionada à política ou enfim.
Sabemos todos que o voto é secreto, ninguém tem de saber em quem é que votamos e, por isso, é óbvio que tantos artistas e que tantas pessoas que não estejam ligadas à política e que sejam figuras públicas não têm o dever de fazer alguma coisa. Podem dar a sua opinião e esperar que seja entendida, porque dever não. Dever têm de cumprir bem a sua profissão, no meu caso a de entertainer para os meus fãs, digamos assim.
2024 marca o regresso dos Amália Hoje. Porque decidiram voltar e porquê agora?
Porque são 25 anos da morte da Amália, este ano precisamente, e são 15 anos de projeto Amália Hoje. Por isso, nós decidimos assinalar esta data e combinando os aniversários, já que de uma coisa divergiu a outra. Achamos que este ano faz sentido e é uma forma de também dizermos adeus aos palcos com este projeto, pelo menos de uma forma tão visível, porque achamos que este é o ano em que devemos celebrar, e condignamente, também a Amália e mais uma vez, tal como fizemos há 15 anos atrás.
Que planos têm para o regresso do grupo?
Nós vamos fazer alguns concertos pelo País que, entretanto, serão anunciados nas redes sociais e nos devidos meios de comunicação. Vamos fazer esses concertos, temos uma canção nova, que é a nossa versão do “Fado Amália”, que já estreámos nos Globos de Ouro do ano passado e voltámos a apresentá-la ao vivo na finalíssima do “The Voice”, ainda no início deste ano. Estamos neste momento a fazer um videoclipe precisamente nesse sentido, para que a música saia ao mesmo tempo que o vídeo e, enfim, que chegue também às pessoas dessa maneira e não só pelas rádios.
De cada vez que fazemos qualquer coisa, seja em cada banda, nos Moonspell ou nos The Gift, nós fazemos as coisas à moda antiga ainda e então achamos sempre que as canções devem ser acompanhadas pela sua devida história e essa será sempre o videoclipe. Até porque é um projeto que nós estamos a assumir sozinhos, nós não temos apoio de nada, nem de editor nem de ninguém, e estamos nós os quatro... não digo investidos, porque não é um investimento, é mais um gosto que temos. Como somos nós que queremos fazer estes concertos, também somos nós que fazemos questão de fazer o trabalho todo, de arregaçar as mangas e fazermos as coisas à nossa maneira.
Foi em 2009, quando se juntaram para formar os Amália Hoje, que a Sónia e o seu marido, Fernando Ribeiro, se apaixonaram. Tem um carinho especial por este projeto por esse motivo?
Claro, obviamente. Foi precisamente deste projeto que resultou a união, que resultou um rapazolas e, portanto, é engraçado ver o antes e o depois, agora já com o Fausto nascido e crescido, ver as diferenças e ver que, sobretudo, nós músicos continuamos em família. Isto não é o nosso projeto principal, acabará por ser um hobby, porque cada um tem as suas bandas, mas neste contexto familiar nós fizemos questão de nos reunir também pelas memórias e pela responsabilidade diferente que tem em cada um de nós este projeto.
Consegue descrever o que significa para si a Amália Rodrigues e o legado que a fadista deixou?
É precisamente essa expressão que nós queremos colocar no videoclipe, uma vez que achamos que a Amália e, sobretudo, nas mulheres, está um bocadinho em cada uma de nós portuguesas e, quem sabe, lá fora. A Amália foi um ícone, não foi só uma fadista. Era um ícone da moda, era uma mulher super à frente, foi convidada pelo mundo inteiro pelos melhores artistas mundiais de cinema, de música para colaborar e, portanto, a Amália era mais que uma simples fadista. Era uma artista completa, podemos chamar uma artista pop, na medida em que a carreira dela é muito semelhante às grandes divas da pop internacional. Nesse sentido, tendo sido a Amália o ícone que foi, influenciou as nossas mães e as nossas avós e, portanto, acredito que a forma como nos criaram, como nós de geração em geração fomos levando a Amália connosco, acredito que cada uma de nós carrega um bocadinho da Amália.
Foi no sentido de o seu legado estar distribuído pelo nosso ADN, que este videoclipe é precisamente essa expressão, que é: todas somos Amália. Fizemos questão de fazer um vídeo que ilustrasse isso, recorremos à inteligência artificial para nos apresentar imagens de mulheres que caminham ao longo de Portugal e de monumentos portugueses de costas e que, de repente, o volte-face final é que quando se viram têm todas traços da Amália e identificamos a Amália em cada uma delas. Foi nesse sentido que fizemos o videoclipe também.
Este ano, além do regresso dos Amália Hoje, assinalam-se os 30 anos desde que os The Gift se formaram. Que significado tem para si este marco?
Tem muito significado, mas não é diferente dos 25, nem dos 27 e não será diferente dos 40, se calhar um bocadinho mais enferrujados (risos). É mais uma data. É uma data que vamos celebrar obviamente a seu tempo, até porque nós fazemos 30 anos entre 2024 e 2025, que é a altura em que faremos 31. Para já temos os nossos projetos, temos o [álbum] “Coral” na estrada, neste caso ainda nos teatros, mas vamos passar para a rua. Estamos a pensar fazer um “Coral” histórico e isso também já é assinalar estes 30 anos, que é um projeto que nós queríamos mesmo fazer e é um projeto muito grande e bastante complexo, pôr o “Coral” e as duas dezenas de cantores connosco em sítios históricos portugueses acaba também por ser um projeto de vida.
Portanto, vamos continuar com isso na estrada e, futuramente, estamos a pensar numa celebração maior que não tem necessariamente que ver com concertos ou com discos, tem que ver talvez com uma biografia 3D, chamemos-lhe assim. Pode parecer muito vago, mas é um bocado também reunir a memorabilia dos The Gift e tentar ver o que podemos fazer com ela, mas discretos como sempre.
"Os caminhos hoje em dia são muito maiores, a possibilidade de nos mostrarmos à pessoas com a Internet e as redes sociais é muito maior e, felizmente, as portas são muito mais para desbravar"
A Sónia Tavares estreou-se como mentora do “The Voice Portugal” na 11ª temporada. Como foi este desafio? Poderá voltar numa próxima temporada?
Foi um desafio. Foi muito giro, muito diferente do formato do “Factor X” que eu já tinha feito há alguns anos e absolutamente diferente d’ “A Máscara” que fiz na SIC até há bem pouco tempo. Os contornos são diferentes obviamente, os requisitos são diferentes, eu também estou mais velha e é uma responsabilidade, apesar de tudo, muito grande. Para além de mexer com os sentimentos das pessoas, pode ou não ser um ponto de partida para o resto da vida ou para coisas mais importantes, para coisas maiores. Então é complicado às vezes jogar com toda essa responsabilidade a tantos níveis que ser mentor exige.
Acabamos sempre por nos afeiçoar às pessoas e, nesse sentido, é um trabalho emocional um bocadinho desgastante, para além do outro trabalho, que é o mais prazeroso, que é trabalhar com as pessoas que fazem parte da equipa de cada um de nós e também aprender com elas, poder ouvir o que têm para dizer, os desafios, as fragilidades e por aí fora. Tem sido diferente, mas o balanço é positivo. Adorei fazer. Não sei se farei mais algum, para já estou concentrada nos The Gift, e o “The Voice” dos adultos, se acontecer, também só acontecerá para meio do ano que vem, portanto depois logo se vê.
O que é que tenta passar a cada um dos que vão a programas como o “The Voice Portugal” ou o “Factor X” em busca de um sonho na música?
A busca de um sonho não tem necessariamente de estar ligada a terceiros primeiramente e de uma forma mais direta. Os The Gift nunca tiveram editora, e continuam sem ter, e somos uma estrutura independente há 30 anos, as coisas funcionaram para nós e nós também fomos à procura do nosso sonho. Os caminhos hoje em dia são muito maiores, a possibilidade de nos mostrarmos à pessoas com a Internet e as redes sociais é muito maior e, felizmente, as portas são muito mais para desbravar.
Obviamente que o poder de uma editora e o trampolim que pode ser para uma futura carreira – ou não, porque as coisas nunca são garantidas – é muito importante, sobretudo para este primeiro contacto para estas pessoas. De repente, algumas passam de estar a cantar em casa para terem discos gravados e acredito que isso seja o melhor dos sonhos. Na realidade, eles estão ali à procura dos sonhos deles, nos “The Voice”, e eu tento sempre, de certa forma, encaminhá-los, aos que vão ficando pelo caminho. Primeiro, para tentarem mais uma vez e, depois, dizer-lhes que as hipóteses não são infinitas, mas que são algumas e, sobretudo, para que sejam honestos e genuínos com aquilo que pretendem fazer. Também se não forem, enfim, cada um sabe de si, não é?
Fez parte do painel de investigadores das primeiras três temporadas d’ “A Máscara”. Na quarta, deu um saltinho num dos programas e até estava escondida dentro de um dos camaleões. Foi um formato que gostou de fazer?
Adorei, adorei, era uma coisa completamente diferente. Eu costumava dizer que estava ali e até me custava receber para me rir e estar bem-disposta o dia todo. Às tantas já pagamos hoje em dia para nos rirmos e eu estava ali num local absolutamente privilegiado. Os meus colegas são incríveis, uns profissionais incríveis, a equipa que estava comigo e que faz o programa com quem eu também já trabalhei no “Factor X” é incrível e, portanto, foi uma fase muito engraçada e que também me deu um boostzinho emocional numa altura de pandemia, em que estávamos a passar por uma pandemia e os concertos também eram menos.
A Sónia já disse anteriormente que pensa muitas vezes em como será o seu futuro, dado que foi diagnosticada com fibromialgia há 12 anos e tem depressão crónica profunda. É algo que a atormenta de alguma forma ou já vive melhor com isso?
Atormenta-me na medida em que uma delas, à partida, será para sempre, portanto viverei para sempre atormentada. Claro que sim, infelizmente ainda não há cura e acaba por ser uma doença que... não digo que seja desconhecida, porque já não é desconhecida, mas que a cada dia apresenta sintomas novos, se descobrem coisas novas e, portanto, é tudo muito distante, parece-me ainda. Eu já fui diagnosticada há 12 anos e continuei a fazer a minha vida, a trabalhar e a fazer o que sei o melhor que posso.
Além de ter acompanhamento psiquiátrico, decidiu mudar os seus hábitos de vida há relativamente pouco tempo. Quando é que percebeu que tinha de haver esta mudança?
Foi por uma questão de saúde, mas também não fiquei adepta do plano alimentar a cumprir. Quer dizer, nem oito nem 80, também só se vive uma vez, sinceramente. Fiz o básico que uma pessoa de 40 e tal anos com algumas doenças faz, que é tentar viver um bocadinho melhor basicamente.
Os últimos tempos têm sido conturbados para a Sónia, sendo que perdeu a sua mãe recentemente e o seu marido, em 2023, teve um problema de saúde no estômago e também tem uma depressão. Como é que tem sido lidar com tudo?
O Fernando não tem doença nenhuma, foi um cansaço extremo após uma tournée de dois meses entre América do Sul, América do Norte e Canadá e foi uma forma do corpo dizer: ‘acalma-te um pouco’. Emocionalmente também não é fácil, foi mais por isso. Foi um bocadinho mal entendido e talvez pela forma como comunicou, mas felizmente está ótimo, está bom e recomenda-se.