Vítor Silva Costa, ator de televisão, cinema e teatro de 30 anos, estreou-se na peça “Rei Édipo” no dia 17 de fevereiro, no Centro Cultural de Belém, e vai partir em digressão nacional. Na televisão, o ator veste a pele de David Sousa na novela “Flor Sem Tempo”, na SIC. O ator, que se mudou do norte para Lisboa à procura de mais e melhores oportunidades, revelou à MAGG que já fez self tapes para projetos internacionais e que gostava de se internacionalizar.

Quanto à desvalorização da cultura em Portugal, assume que, apesar de ter tido sempre trabalho ao longo dos anos, não tem uma vida financeira estável e que essa gestão pode ser desgastante mentalmente.

Além disto, falou da importância que a sua cadela Tsuki tem na sua vida, além de confirmar que mantém uma relação com a atriz e apresentadora Carolina Torres, de 34 anos.

"Rei Édipo” estreou-se dia 17 de fevereiro e vai partir em digressão nacional. Qual a sua personagem?
Nós não temos propriamente um personagem. A ideia do espetáculo parte também da premissa de que todos podemos ser Édipo, todos podemos ser esta figura trágica e todos podemos habitá-la, seja um homem ou uma mulher. É mais sobre a ideia daquilo que estamos a comunicar do que propriamente sobre o personagem. Mais do que personagens, somos todos uma ideia de uma confusão qualquer dos tempos.

Quais são as suas expectativas para este espetáculo?
A expectativa é sempre muito alta, porque o trabalho parte sempre da premissa de que queremos contar uma história, não queremos fechá-la na temporalidade em que ela foi escrita ou nos dias de hoje, mas queremos acrescentar sempre alguma coisa à história. E isso faz com que acrescentemos problemáticas que vivemos, seja o racismo, o machismo, a xenofobia, tudo o que nos envolve todos os dias também fazem parte. A nossa função também é essa, a de falarmos sobre as coisas que vivemos e sentimos, as revoluções de cada um de nós e dos SillySeason em particular. É sempre uma forma de quase libertação que temos nos espetáculos. Para nós é importante que isto chegue às pessoas.

Nós estamos a fazer o “Rei Édipo”, que foi uma peça escrita há mais de dois mil anos, com a figura do Édipo trágica, escrita por um homem que é o herói trágico da história e nós queremos desconstruir isto, porque para nós uma das coisas que é importante é trazer a importância da figura feminina à história. Vivemos tempos em que é importante falar da importância da figura da mulher, por uma questão de direitos humanos e de igualdade e é-nos importante trazermos isso para as peças e para as histórias que estamos a contar.

Considera que é uma pessoa racional ou é mais impulsivo?
No meu trabalho acho que sou muito racional com as escolhas que faço, com aquilo que penso que é o meu percurso e aquilo que quero que seja. Sou muito racional nessas tomadas de decisão e isso faz com que pense muito sobre as decisões que tomo em relação aos projetos que faço e em relação aos timings também. Agora, por exemplo, estou a fazer ensaios para a peça e estou a gravar um projeto para a SIC. Tudo isto foi pensado, eu sabia que ia acontecer e não consigo ser impulsivo nesse sentido. Em tudo o que não é o meu trabalho sou uma pessoa muito mais impulsiva.

"Gosto muito de fazer novelas porque, de repente, habitamos sítios e experiências que nunca imaginávamos se não fosse a trabalhar"

Já participou em várias novelas portuguesas, como “O Beijo do Escorpião”, “Espelho d’Água”, “Terra Brava”, “A Serra” e agora “Flor Sem Tempo”. Qual foi a personagem e a novela que o marcou mais e porquê?
A mais importante para mim é sempre aquela que estou a fazer no momento, porque é aquela que me faz pensar, que me desafia, é aquela em que eu invisto o meu tempo e o meu pensamento. Se calhar a mais marcante, eventualmente, possa ter sido o primeiro projeto em televisão, por esse primeiro impacto com o universo que não era o meu até então, porque vinha de uma formação numa escola de teatro e tinha feito só teatro. Portanto, talvez o primeiro projeto, que foram os “Morangos com Açúcar”, tenha sido o mais marcante.

E no teatro, qual a peça e a personagem mais marcante? Porquê?
É uma pergunta mais difícil. A peça talvez tenha sido o “Anfitrião”, de Kleist, que foi feita ainda em contexto de escola, no segundo ano, na Academia Contemporânea do Espetáculo, no Porto. É um espetáculo encenado por João Paulo Costa, que era e é uma pessoa que eu admiro muito e eu desempenhava o Anfitrião. Talvez tenha sido o momento do meu curto percurso profissional e académico que eu senti que para mim fazia sentido este trabalho. Sentia-me realizado, punha-me em causa, pensava sobre e projetava um futuro como ator. Esse personagem e essa peça em particular foram muito importantes por causa disso.

Depois disso, talvez o “Worst Of” com o Teatro Praga, no Teatro Nacional D. Maria II tenha sido importante para mim como alavanca para outros projetos. Nestes últimos tempos tenho trabalhado muito com os SillySeason e também têm sido projetos muito importantes para mim. 

Em que considera ser diferente a novela “Flor sem Tempo” e a sua personagem?
Eu gosto muito de fazer novelas porque, de repente habitamos sítios e experiências que nunca imaginávamos se não fosse a trabalhar e o mergulho é um desses exemplos. Eu não tenho uma ligação muito próxima ao mar. Sou muito mais de terra, montanha, serra. O mar até me deixa nervoso. Ter que estar à vontade e confortável no mar numa atividade que nunca tinha experimentado tem sido muito desafiante e muito motivador para mim. Curiosamente, tenho feito várias cenas de mergulho e fiz o meu batismo em Sesimbra.

Esta novela foi escrita pela Inês Gomes, que é uma autora que eu respeito muito e que escreveu “A Serra”, por exemplo. A base para uma boa novela, porque é um projeto muito longo, com muitos episódios e que se pode tornar maçador, é o argumento. Se o argumento for sustentado, muito claro e bem delineado ao longo do tempo, as pessoas veem e nós atores também temos mais prazer em fazer. Acho que esta novela tem isso, tem um ótimo argumento e um elenco muito consistente e coeso, como grande parte dos projetos que a SIC faz e dos quais eu fiz parte. Pessoas que eu não conhecia e conheci agora, e estou completamente maravilhado.

Não é uma novela com explosões e assaltos, que acontece frequentemente e é importante, mas esta novela ganha pela simplicidade da história, pela verdade que os atores trazem a esta história e o reflexo disso é que as pessoas têm visto e têm gostado.

Tem alguma peripécia das gravações desta novela?
Tenho várias. Uma delas foi a gravar uma cena de mergulho com a Bruna Quintas, sendo que também era das primeiras vezes dela a fazer mergulho. Nós tínhamos uma cena no semirrígido do barco e depois saltávamos para a água todos equipados. Para além de estarmos muito mal dispostos, porque estivemos muito tempo em alto mar, estávamos meio confusos com as movimentações. Saltamos para a água e a cena ficou feita, mas quando voltámos à tona percebemos que tínhamos perdido várias coisas. A Bruna perdeu as barbatanas, eu perdi a faca e mais alguma coisa. Mas ao mesmo tempo estávamo-nos a rir muito, porque aquilo foi tudo muito bizarro. Divertimo-nos muito a fazer a cena.

Em 2012, fez parte do elenco dos “Morangos com Açúcar”. Como viu o regresso da série juvenil? Será que vamos encontrar o Gabriel Raposo neste reboot?
Acho ótimo, foi um projeto de muito sucesso durante muitos anos e fez com que muitos atores e realizadores se formassem a trabalhar. Tenho muitos amigos atores e atrizes, cujo primeiro projeto de todos foram os “Morangos com Açúcar”. Muitos não tinham formação e formaram-se a trabalhar. Nesse aspeto, acho que este projeto é importante na história da televisão em Portugal, na formação de alguns atores.

O regresso, mais do que as audiências ou se vai ser um bom ou mau projeto, é uma oportunidade também para mais pessoas. Felizmente abriram audição, tal como aconteceu comigo que também fiz audição, e deram a possibilidade a pessoas com ou sem formação de tentarem a sua sorte. É mais um projeto, portanto é mais uma oportunidade de trabalho. Quanto ao Gabriel, não sei. Neste momento estou na “Flor sem Tempo” e vou continuar assim.

"Quanto mais castramos e escondemos uma temática, mais ela se torna perversa e cinzenta e quase que temos medo de falar sobre ela."

Em 2021, fez parte da série “O Clube”, da Opto, uma série que aborda temas tabu de forma mais explícita. Considera que esta liberdade faz falta nos conteúdos da televisão?
Sim, tenho a certeza que faz falta e que é fundamental que se desmistifique esta ideia dos corpos, do sexo, da exposição, das problemáticas, das relações homossexuais ou poliamorosas. Na verdade, são assuntos que, numa sociedade desenvolvida e, apesar de conservadora como a nossa, têm de ser normalizados. Quanto mais castramos e escondemos um assunto ou uma temática, mais ela se torna perversa e cinzenta e quase que temos medo de falar sobre ela.

“O Clube” é uma série sobre prostituição, amor, droga, relações amorosas e pessoais. É algo intenso e faz parte da vida, por isso porque não contar estas histórias de uma forma completamente despojada e livre como se faz numa novela? Acho que a OPTO e a SIC pensaram nos termos de uma forma muito positiva e importante, para além da qualidade do formato técnico, e é um passo para que haja mais histórias destas, com assuntos ainda mais tabu.

Nasceu no Porto, estudou em Guetim e também no Porto, mas mudou-se para Lisboa. Foi em busca de mais e melhores oportunidades?
Sim, foi. Eu nasci em Gaia, vivi em Guetim e estudei em Espinho até me mudar para a Escola de Teatro do Porto. Mudei-me para Lisboa, em primeira instância, para estudar na Escola Superior de Teatro e Cinema e, automaticamente, queria vir estudar para Lisboa para depois poder trabalhar cá e ter essa possibilidade de conhecer outras pessoas, outros meios e de abrir o leque de possibilidades para aquilo que era a minha formação e, consequentemente, o meu trabalho. A partir do momento em que eu entrei na Escola de Teatro no Porto decidi que ia fazer e terminar o curso e depois queria ir à procura de outras coisas, em Lisboa ou noutro sítio, e foi isso que fiz.

Quem são as suas referências a nível de representação?
Difícil. Há muita gente que eu gosto e admiro muito. Internacionais vivos, o Mark Rylance, que trabalha há muitos anos na Royal Shakespear Company e faz muito e bom cinema. Também gosto muito do Sam Rockwell e da Olivia Colman.

"Felizmente fui tendo sempre trabalho, mas isso não me garante que tenha sempre dinheiro"

O Estado ainda não pagou os 9,6 milhões de euros dos apoios do programa Garantir Cultura e o ator Manuel Wiborg, entre outras pessoas da área, veio a público falar das dificuldades pelas quais está a passar. O que pensa sobre esta situação? Sente que a cultura continua a não ser valorizada e apoiada suficientemente?
Sim. A cultura continua a não ser valorizada. Um país inculto é um país pobre, na verdade. A cultura, naturalmente, não é só teatro. É muito mais do que isso. A cultura tem o impacto de pôr as pessoas a pensar e a discutir, a não gostar ou gostar de coisas, a porem-se em causa. Isto é a evolução. Parte do princípio que as pessoas pensem e movimentem-se com a energia do que gostam ou não, do que lhes faz sentir, de lidar com as emoções e com o pensamento. Um país que não investe, um país que teima e que tarda em entregar às pessoas fontes culturais e em entregar aos artistas meios para desenvolver esse trabalho, é um país que vai ficar sempre aquém e sempre subdesenvolvido culturalmente. Pessoas mais incultas vão ser piores médicos, psicólogos, atores, veterinários. A cultura é quase uma forma de sobrevivência. Ter acesso à cultura é uma forma de nos desenvolvermos e de sobrevivermos à ignorância, que é um dos nossos maiores males.

O caso do Manuel Wiborg, da Sandra Barata Belo, da Margarida Vila-Nova não me surpreendem, porque andamos a lutar há tantos anos com uma tentativa do aumento da percentagem do Orçamento de Estado para a cultura e as coisas, apesar de haver uma tentativa, parece-me, dos ministérios e dos ministros de ir ao encontro de uma evolução qualquer orçamental, parece-me que tarda em acontecer. E não tem a ver só com dinheiro. Tem a ver mesmo com prioridades. Não gosto de fazer esta comparação, mas basta olharmos para países desenvolvidos social, económica e culturalmente. Todos eles têm um investimento gigantesco na cultura. Todos eles permitem aos artistas e às instituições terem meios e condições humanas, económicas e financeiras para produzir arte. E não é produzir em massa, porque quando produzimos em massa também deixamos de produzir arte, passa a ser outra coisa.

Dar tempo e condições aos artistas e às pessoas que não são artistas, mas querem ver espetáculos ou exposições, pintar, o que quer que seja. E nós não temos essas condições. Ou temo-las, mas de uma forma muito precária e pouco desenvolvida. Isso também é uma coisa que me incomoda, que me faz pensar, ficar frustrado e irritado, muitas vezes. O caso do Manuel, da Sandra e da Margarida são três casos no meio de um mar imenso de problemas que nós temos. Acho que a solução é lutarmos, manifestarmo-nos, avançarmos a trabalhar para que isso seja melhor. Não podemos ficar numa zona de frustração, que é o que me acontece muitas vezes.

Já passou dificuldades enquanto ator?
Já. Felizmente fui tendo sempre trabalho, mas isso não me garante que tenha sempre dinheiro, a verdade é essa. Estou em Lisboa há oito anos e nos últimos cinco ou seis anos tenho trabalhado com muita frequência, seja em televisão, em cinema ou em teatro, muitas vezes com projetos cruzados, mas isso não faz com que tenha uma vida financeira estável de todo. Não é um lamento, é um facto. Isto tem a ver com os descontos bizarros que nós fazemos em comparação com aquilo que é o nosso vencimento, tem a ver com, até há bem pouco tempo, não haver um estatuto do artista em Portugal que nos proteja de tudo e de nada, tem a ver com trabalharmos a recibos verdes e tudo o que isso implica, com a possibilidade de ficarmos com 60% ou mais do ordenado bloqueado para impostos.

É fundamental que os impostos existam, vivemos numa sociedade economicamente desenvolvida e os impostos fazem sentido, mas a quantidade de descontos e de impostos que nós pagamos para aquilo que é a nossa realidade de vencimento é um descalabro muito grande. Mesmo eu com muito trabalho, e não é mesmo um lamento ou um exagero, estou sempre numa zona cinzenta. Mesmo com muito trabalho, não estou confortável, porque é muito relativo. Nós trabalhamos sempre com contratos a prazo e podemos ter um vencimento muito alto durante dois out três meses e podemos estar seis meses sem qualquer tipo de vencimento. Temos de fazer essa gestão que, mesmo em termos de saúde mental, é muito complicada.

"Há dias em que também estamos tristes e não queremos dizer olá às pessoas nem sorrir para elas e temos esse direito"

Enquanto figura pública, como gere o que fica privado do que partilha com o público? É-lhe complicado lidar com as notícias que saem sobre si e com comentários maldosos nas redes sociais?
No início, quando a minha imagem começou a ser tornada visível, quando comecei a fazer televisão, tudo me fazia um pouco de espécie, de impressão, porque eu sempre fui um rapaz muito discreto, contido e tranquilo. Eu sabia e sei que a minha profissão tem a ver com essa exposição, porque é para as pessoas e as pessoas veem. Esse primeiro impacto em mim não foi muito positivo, fiquei ainda mais recolhido na minha espécie de bolha e ficava bastante chateado, às vezes, pelas pessoas estarem a vir ter comigo em certas situações, quando estava a almoçar, por exemplo. Há dias em que nós também estamos tristes e não queremos dizer olá às pessoas nem sorrir para elas e nós também temos esse direito.

Eu, por sorte, ou por não ver muitas coisas, nunca tive ninguém que me tratasse mal, que me escrevesse ameaças, nunca tive esse tipo de abordagens. Mas rapidamente percebi também que as pessoas só vêm ter conosco, porque, de alguma maneira, olham para nós como figuras que elas acompanham que as fazem rir, chorar, gritar. Esse lado mais emocional e essa reação nas pessoas àquilo que é o nosso trabalho deve ser compensado, se vierem ter conosco, com um agradecimento, sorriso, conversa, o que quer que seja. Eu gosto de conversar com as pessoas quando elas vêm ter comigo, mais do que tirar uma fotografia ou dar um autógrafo, acho isso muito impessoal. Gosto de conversar e perceber porque é que aquela pessoa veio ter comigo, ou porque me viu num projeto qualquer ou gostou do meu trabalho. Gosto sempre de perceber isso, porque o nosso trabalho é para as pessoas e quando as pessoas vêm ter conosco, eu acho que nos devemos sentir agradecidos por isso.

Que lugar é que a Tsuki tem na sua vida? Já se manifestou publicamente contra o abandono e maus-tratos a animais.
Eu já tinha tido cães quando era muito novo, mas não tenho grande memória disso. Durante muitos anos não tive cães nem tinha essa vontade. Mas de repente a Tsuki aparece na minha vida e é sobre o amor só. Isto é muito cliché, mas é verdade. Os cães não exigem muito de nós, apenas que lhes entreguemos água, comida e amor. Tão simples quanto isso. E esse despretensiosismo que os animais têm e os cães, neste caso, é das coisas mais bonitas que nós podemos lidar, porque eu posso ter estado o dia inteiro fora, posso ter sido uma péssima pessoa, posso ter tratado mal um amigo meu, posso ter feito mil e uma coisas negativas, que quando chego a casa a forma como ela me recebe é sempre a mesma. É a rir, a lamber-me, a saltar para o meu colo e isso faz com que eu olhe para aquele ser e não consiga sentir outra coisa que não amor. A Tsuki para mim significa isso: amor, cuidar. Eu não tenho filhos, mas eu acredito que seja o mais próximo daquilo que é cuidar, proteger e dar amor a uma criança, obviamente com todas as diferenças.

Em relação aos maus tratos aos animais, mais uma vez é cultural. Tem a ver com a importância daquilo que é nós não sermos ignorantes ao ponto de acharmos que temos o direito de maltratá-los só porque eles são inferiores a nós. Eles são inferiores a nós, porque nós conseguimos controlá-los da maneira que nós quisermos, podemos fechá-los dentro de um quarto, podemos bater-lhes e temos sempre o controlo sobre eles. É muito bizarro e ignorante haver muitas pessoas que o fazem de forma discriminada, que os abandonam, que os maltratam, que os deixam passar fome. Isso vai para além do que é maltratar um animal, isso tem a ver com índole, com uma forma muito bizarra de olhar para as coisas. Esta questão de haver dúvidas na lei que pune os agressores dos animais é algo que, para mim, não faz muito sentido. É tão simples quanto o fazer mal a um ser vivo não pode ser considerado. Fazer mal a um caderno já me faz confusão e é um objeto. Fazer mal a um ser vivo acho só que é mesmo bizarro, portanto haver essa dúvida ainda na lei e existir a possibilidade da lei regredir, é uma coisa que me deixa muito desconfortável. E quero acreditar que com todas as petições e manifestações isso não vai acontecer.

Vi que a Carolina Torres partilhou um story com a sua cadela. Podemos concluir que estão juntos?
Sim.

Considera-se uma pessoa romântica?
Não, mas também depende do que é ser uma pessoa romântica. Para mim, ser romântico ou ter atitudes românticas varia de pessoa para pessoa. Eu acho que não tenho o impulso romântico mais clássico das surpresas e dessas coisas que são mais facilmente visíveis, mas acho que à minha maneira sou, não sei.

O facto de ser uma figura pública e as suas relações serem expostas é complicado de gerir?
Vai ao encontro à minha resposta relativamente à minha exposição. No início, fazia-me impressão, resguardava-me ainda mais e ficava frustrado e irritado com isso. Agora, ajo normalmente. Tento ser o mais verdadeiro comigo possível e se me apetecer falar sobre isso falo, se não me apetecer não falo. É tão simples quanto isso. Já me incomodou, agora não me incomoda.

"Não vivo obcecado com a ideia de me internacionalizar, mas gostava"

Já fez self tapes para projetos internacionais? Uma carreira internacional está nos planos?
Já fiz algumas self tapes para projetos internacionais, Netflix e independentes de cinema. Mais do que internacionalização, o que me importa é que o meu trabalho seja mais consistente. A mim interessa-me um lugar de me pôr constantemente em causa, interessa-me um lugar que não seja passivo e estável e isso tem a ver com os projetos que faço e com a minha perspectiva em relação ao trabalho. Não me interessa fazer coisas só por fazer e ir a lugares comuns. Gosto de estar num lugar constante de me pôr em causa, habitar sítios que não estou habituado.

Naturalmente, projetos que não são com pessoas que conheço, lá fora ou cá [em Portugal], que me interessam e que fazem parte das minhas ambições. Tenho um fascínio especial pelo cinema francês e pelo cinema e televisão espanhola. Estou numa escola de francês já há algum tempo para que isso seja mais uma ferramenta para que eu possa investir nesse ramo, também tenho a minha mãe que é venezuelana e tem facilidade com a língua espanhola. Mais do que internacionalizar-me, quero que o meu trabalho seja consistente, seja a fazer uma novela ou um filme do Tarantino. Interessa-me a qualidade, a consistência e a verdade daquilo que é o meu trabalho. E acredito que as coisas vão acontecer. Não vivo obcecado com a ideia de me internacionalizar, mas gostava. Quero trabalhar nesse sentido de fazer cada vez melhores projetos e o streaming também veio democratizar um bocadinho esta ideia.

Quais são as suas expectativas para o futuro?
No outro dia li uma entrevista do ator Rafael Morais e ele dizia uma coisa com a qual eu me identifico muito. Ele falava de uma ideia de não conseguir estar no presente e o pensamento dele estar sempre no futuro. Eu também sofro um bocadinho disso. Mas o futuro assusta-me muito, ao mesmo tempo. Portanto, eu não consigo projetar como é que vou estar daqui a cinco anos, porque isso me assusta, porque pode ser melhor do que eu acho ou muito pior, tem a ver com expectativa.

Aquilo que eu quero é trabalhar cada vez mais e em melhores projetos, com pessoas com as quais me identifico e me fazem crescer. Quero continuar a formar-me, a ganhar ferramentas para o meu trabalho, porque eu acredito nesta ideia de consistência. Projetos melhores e piores vão surgindo também do que nós investimos naquilo que é o nosso trabalho. E eu gosto muito do meu trabalho, quero muito continuar a investir nele e acredito que as coisas vão acontecer.

Nos seus tempos livres o que mais gosta de fazer?
Gosto de jogar paddle, ando viciado. Gosto de ler, gosto de ouvir muita música, passear a Tsuki, vejo muitos filmes. Gosto muito de experimentar restaurantes novos e gosto muito de comer, na verdade. Gosto muito de viajar e já não viajo há muito tempo, tenho mesmo muitas saudades de viajar.

Datas de “Rei Édipo”

23 a 26 de março – Teatro Nacional São João (Porto)

30 e 31 de março – Theatro Circo (Braga)

21 de abril – Teatro Diogo Bernardes (Ponte de Lima)

29 de abril – Teatro Municipal da Guarda