Portugal é um País de vinhos por excelência. Do Douro ao Alentejo, são várias as regiões demarcadas capazes de produzir vinhos incríveis que deliciam portugueses e estrangeiros, e que fazem da indústria vinícula uma das que mais exporta no País.

Porém, por mais que os portugueses sejam apreciadores de um bom vinho, nem todos temos um curso de enólogo debaixo do braço — e que atire a primeira pedra quem nunca acenou com a cabeça durante uma prova de vinhos e esperou que as expressões "é frutado" ou "tem corpo" o livrassem de uma análise mais intensiva.

Existe a ideia de que os vinhos velhos são melhores do que os novos, que os tintos acompanham carne e os brancos peixe, e que um licor nunca ficou mal para fechar uma refeição. Mas será que estas noções correspondem inteiramente à realidade? Mais: ao planear um almoço para diversas pessoas, como aquele que se avizinha para muitas famílias com o domingo de Páscoa, como é que é possível agradar a gregos e a troianos, sem descurar a qualidade?

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Para chegar a estas respostas, fizemos 7 perguntas essenciais à enóloga Martta Reis Simões, que resultaram em dicas infalíveis para escolher os vinhos perfeitos para a Páscoa. Além disso, ainda recebemos conselhos para saber fugir às promoções falsas dos supermercados e alternativas para os pratos mais típicos desta época festiva.

1. O que devemos valorizar num vinho para uma época festiva como a Páscoa?
As épocas e os dias festivos ao longo do ano são sempre um bom motivo para caprichar na escolha do vinho, sendo a altura ideal para sair da zona de conforto e optar por vinhos que, habitualmente, não consumimos tanto ou que têm características efetivamente diferenciadas ao nível do estilo, casta, região, país, etc..

Martta Reis Simões é enóloga e há 14 anos que está à frente da direção de enologia da Quinta da Alorna
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2. Que tipos de vinho são mais consensuais e os mais prováveis de agradar a vários elementos da família? 
A Páscoa assume-se como a altura certa para fazer algumas escolhas mais extravagantes. Por exemplo, em vez de escolhermos apenas um vinho para a refeição, poderemos escolher vários de forma a agradarmos a todos os elementos da família que se reúnem em torno da mesa.

No entanto, há alguns aspetos a ter em conta. No momento da escolha, devemos ter o cuidado de não optar por castas com aromas muito definidos e próprios, como é o exemplo da Cabernet Sauvignon, pois não são tão consensuais ao nível dos gostos dos consumidores. Por outro lado, ao nível dos vinhos brancos, há castas naturalmente mais ácidas do que outras, o que, muitas vezes, não é bem recebido. Paralelamente, se optarmos por um vinho com notas de madeira, estas devem ser subtis, pois também é uma das características dos vinhos que mais divide as pessoas.

3. Devem escolher-se vinhos novos ou velhos?
A escolha entre um vinho novo ou um vinho velho depende de muitas variáveis, entre elas a refeição, a companhia e os gostos da família. No limite, diria que qualquer uma das opções é válida. No entanto, um vinho branco ou tinto com alguns anos, e não propriamente velho, poderá ter alguma complexidade acrescida que se enquadra bem com a época festiva em questão.

4. Os brancos estão proibidos nesta festividade?
Os vinhos brancos não estão, de todo, proibidos na Páscoa nem em nenhuma época festiva. Nesta altura, são vários os momentos em que podem ser servidos vinhos brancos e até é possível fazer uma refeição do princípio até ao fim harmonizada apenas com opções de castas brancas.

Percebo que possa ser estranho pensar num cabrito ou num borrego, que são carnes de sabor forte e muito condimentadas, acompanhadas de vinho branco. No entanto, é certo que existem vinhos brancos com estágio em madeira que são extremamente opulentos e ricos em estrutura e untuosidade, que aguentam perfeitamente estes sabores gastronómicos fortes. Ao mesmo tempo, têm mais acidez e frescura do que um vinho tinto, sendo perfeitos para equilibrar e harmonizar as várias sensações na boca.

5. Quais são os vinhos ideais para combinar com os pratos típicos da Páscoa?
Em determinadas zonas do País, especialmente no Norte, há a tradição de servir bolas de carne de entrada, que é uma iguaria deliciosa que acompanha perfeitamente com um espumante típico de Lamego. Por sua vez, os pratos de bacalhau casam lindamente com vinhos brancos estruturados, com alguma madeira e até mesmo com alguma idade, como o Marquesa da Alorna Grande Reserva Branco.

Já com borrego ou cabrito, sugiro um vinho tinto complexo, elegante e com boa acidez, de forma a conseguir “limpar” o palato da gordura da carne, fazendo com que o final seja harmonioso e nada pesado. Neste sentido, os vinhos das regiões de Lisboa, do Tejo ou do Dão são sempre boas escolhas. Para a sobremesa, o típico folar pede um vinho licoroso, como o Quinta da Alorna Abafado 5 Years, enquanto o pão de ló agradece um colheita tardia.

6. Devemos servir vinhos diferentes nos vários momentos da refeição?
Porque não? São dias de comemoração e refeições especiais em que se une a família. Podemos assim surpreendê-los, por exemplo, com um espumante enquanto esperamos que cheguem todos os convidados, servindo um branco ou um rosé para acompanhar as entradas, um tinto para o prato principal e um colheita tardia para a sobremesa. Não tenho dúvidas de que elevaria a refeição a um novo nível de convívio e seria apreciado por todos os elementos da família.

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7. Nas superfícies comerciais, existem muitas feiras de vinhos e promoções nestas épocas. Como podemos distinguir as promoções e descontos válidos, daquelas cujo preço normal é sobrevalorizado?
De um modo geral, as marcas que já cimentaram o seu lugar no mercado e que são já reconhecidas e compradas pelos consumidores há largos anos nunca entram nesta verdadeira loucura dos 50-70% de desconto.

O que geralmente acontece com estas referências é que não estão permanentemente em promoção, mas têm, pontualmente, alguns descontos válidos (menores do que o nível dos 50%) que vale a pena aproveitar. Como em qualquer compra, também aqui há que ter em conta a regra número um: ter sempre noção do preço habitual, sem promoções, para termos a certeza de que estamos a fazer uma boa compra.

Podemos, sim, duvidar de todos os vinhos que não conhecemos e que nunca vimos e que, de repente, se encontram nas prateleiras do supermercado quase sempre com um desconto superior a 50%. Não estou com isto a dizer que o vinho seja mau. No entanto, ressalvo que, nesses casos, estamos apenas a pagar o preço justo pelo vinho, convencidos de que fazemos um grande negócio.

Veja-se que, em Inglaterra, os consumidores tendem a desconfiar e a não comprar os produtos com um desconto superior a 30% pois associam essa queda do preço a algum defeito no produto, sendo que o seu produtor faz assim o desconto para acabar rapidamente com esse stock.