Quando éramos miúdos, os restaurantes dividiam-se entre tascas, tradicionais portugueses, pizzarias e os "caros", que eram guardados para os aniversários dos adultos. Aos poucos lá foi aparecendo um McDonald's ou outro, tivemos um boom de restaurantes chineses, mas a coisa ficava muito por aqui.

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Corta para o presente, e por onde começar? Japoneses, indianos, tailandeses, rodízios brasileiros. Do fine dining à tasca chique. Petiscos tradicionais e de conceito. Hambúrgueres gourmet, vegetarianos, sítios só de saladas, restaurantes destinados a pequenos-almoços demorados com muitas taças de açaí. A lista é infinita, a nossa paciência para conceitos a nascer como cogumelos a cada esquina a copiarem-se uns aos outros, nem tanto.

Se é daquelas pessoas que só queria um hambúrguer num pão normal e já não os consegue ver em bolo do caco — pior, que de bolo do caco têm muito pouco e envergonham o verdadeiro da Madeira —, e só queria um galão e uma sandes mista para o pequeno-almoço e tem de levar com bowls de iogurtes roxos, este artigo é para si. É só ler as seis modas alimentares que já não aguentamos.

Taças de açaí

À falta de um calçadão carioca para passearmos com cocos na mão, a segunda melhor (?) opção dos portugueses foi renderem-se às taças de açaí. Facto curioso? A primeira vez que vi um copo deste alimento, pensei que fosse alguma variação de chocolate. Mas não. Para quem não sabe verdadeiramente do que estamos a falar, o açaí é uma pequena baga de fruto com um elevado teor antioxidante. Pode ser bebida em sumo, com cereais, em polpa e até misturada com outros ingredientes.

Mas se há uns anos era uma raridade, hoje em dia existe em tudo o que é pequeno-almoço de conceito e até há espaços nos food courts dedicados apenas e só a isso. Sabem aquelas bandas que eram super fixes quando ninguém as conhecia, mas deixaram de o ser quando um tema chegou aos tops e a todas as estações de rádio? É o açaí.

Bowls, bowls, bowls

A palavra em inglês para taça, mas que já ganhou espaço nos menus portugueses. Hoje em dia, parece que tudo é servido em taças (perdão, bowls) e que só o facto de lhe colocarem o nome em inglês é motivo para aumentarem o preço em 3€, quando, na verdade, só estão a comer pouco mais que uma salada mista numa bowl.

É de iogurte, de papas de aveia, de açaí, de arroz de sushi, de tudo e um par de botas. Qualquer dia entramos num restaurante e temos bowls de favas com chouriço. Super visionário, eu sei.

Hambúrgueres em bolo do caco

Quando a primeira Hamburgueria do Bairro surgiu, ficámos maravilhados. Como assim um hambúrguer no tradicional bolo do caco da Madeira? A moda foi tão revolucionária que alastrou e quase que podemos assumir que se tornou um hábito bastante irritante.

É que de uma sanduíche original passámos para uma fase em que o convencional pão de sementes praticamente desapareceu do mapa e só assim conseguimos comer um hambúrguer. Pior: de bolo do caco este pão tem muito pouco, sendo que o que se vê mais por Portugal Continental são bolos do caco farinhentos, moles e sem sabor. Parem com isso, a sério.

Água com cenas

Recordam-se de quando começámos a ser invadidos por águas com todos os sabores e mais alguns? Pois, na altura pensei que a moda fosse desaparecer facilmente — até "porque água com sabor existe há centenas de anos, chama-se chá", ouvi um humorista dizer na altura —, mas parece que não. E piorou. Hoje em dia, o vulgar copo de água que pedimos com o café não é assim tão fácil de conseguir se estivermos num café ou restaurante da moda.

Ele é pepinos, é limão, é canela, é ervas várias, é salsicha enrolada com couve lombarda que metem lá para dentro. Vá, exageros à parte, é assim tão difícil servirem um simples copo de água?

Deixem os abacates em paz e tragam de volta a tosta mista

Uma das melhores memórias de infância que tenho é de lanchar uma tosta mista no mítico balcão do Molhó Bico, em Picoas, quando ia ter com o meu pai ao emprego para voltarmos para casa. E esta não era uma tosta qualquer. Feita em pão de torrada de café bem alta, com uma dose bem generosa de queijo e manteiga por cima, por baixo, por dentro, por todó o lado.

Atualmente, quando ouvimos que nos vão trazer uma tosta, o mais provável é que nos apareça com um abacate em cima. Não, abacate não é manteiga, não é assim tão fixe a não ser que seja num bom guacamole acompanhado de margaritas fresquinhas, e já estamos fartos de ver a clássica tosta assassinada por este verde fruto. E é só a mim que me sabe a mofo? LIBERTEM A TOSTA MISTA.

Ovos benedict com variações estranhas

Esta clássica forma de cozinhar ovos é das modas mais recentes nos brunches dos sítios populares. E se é verdade que esta é uma moda bem recebida — até ver — e que há espaços que conseguem fazer um molho holandês bem bom (como os ovos benedict do pequeno-almoço da Sala de Corte), há variações que não lembram a ninguém.

No fim de semana passado, serviram-me um ovo benedict com ananás no meio do molho holandês. Ananás. No ovo benedict. E depois ananás na pizza é que é sacrilégio? Poupem-me.

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