Junto à lareira ou simplesmente debaixo de mantas, nada sabe melhor do que um copo de vinho. No inverno temos tendência a adotar tons mais sombrios para a roupa e o mesmo aplica-se à escolha do vinho, habitualmente o tinto. Porque é que isto acontece? E será que outros podem entrar nesta altura do ano?
Estas foram algumas das questões que fizemos a uma enóloga que, melhor do que ninguém, sabe explicar como consumir vinho nesta época. O simples facto de ter um copo na mão já nos suscita uma satisfação plena. Isto está mesmo estudado, comprovado e divulgado na revista cientifica PLOS Medicine, embora o destaque sejam os vinhos tintos.
"Foi possível identificar mudanças significativas na lucidez causadas por uma dose moderada de vinho tinto. Essas mudanças ocorreram independentemente de beber sozinho, a dois ou em grupo. Não surpreendentemente, o vinho tinto melhorou o humor", dizem os autores do estudo.
Agora, como escolher um vinho e como harmonizar com os pratos da época? Eis todas as respostas numa data especial: dia Mundial do Enoturismo, celebrado a 14 de novembro.
1. Tem o vinho bem guardado?
Depois de ler este ponto, é possível que a organização da casa mude e que entrem novos instrumentos nos armários. Explicamos porquê com uma pergunta: onde é que tem o vinho guardado? Se está na dispensa, perfeito, se está numa garrafeira na cozinha então é melhor repensar esse espaço — e não é por ser inverno.
"Convém que o vinho esteja guardado num local onde as temperaturas não oscilem muito, quer no verão ou no inverno. Devemos evitar os locais mais quentes, como a cozinha ou perto de algum aquecimento ou da lareira", explica à MAGG Beatriz Palhais, enóloga da loja online PMC ao Domicílio. Ainda assim, o aquecimento pode dar jeito como vai ver de seguida.
2. Manter o vinho a boa temperatura no inverno
Sendo que o tinto deve ser servido entre os 16ºC e os 18ºC, os brancos entre os 8ºC e os 12ºC e nesta altura do ano as temperaturas podem chegar perto dos 0ºC ou menos do que isso em algumas alturas do inverno e regiões do País, é necessário ter atenção ao estado do vinho quando servir.
"No inverno os vinhos têm tendência para estarem a uma temperatura mais baixa do que o desejável, especialmente os tintos. Sugiro colocar o tinto perto do aquecedor ou da lareira durante uns minutos antes de servir ou mesmo enquanto areja", sugere a especialista.
Para saber se estão no ponto certo, pode adquirir um termómetro para vinho, que encontra à venda a partir de 1,99€ na loja Homa. Existem outros mais sofisticados (também mais caros) e que podem ser uma ideia de presente de Natal para quem é apreciador e entusiasta do universo vínico.
3. Tintos no inverno: moda, mania ou mito
Já antes de as redes sociais passarem a ser vistas como uma página que tem de ser estética — em que as cores do feed têm de combinar e as Stories de Instagram têm de passar primeiro pela app VSCO —, os vinhos tintos eram colocados junto à lareira como mostrámos na imagem de abertura deste texto. Não é, por isso, uma moda de agora, é antes um hábito que se justifica com a alteração da alimentação nesta época do ano.
"Os tintos são mais consumidos no inverno porque, para além da nossa alimentação mudar — deixamos as saladas, os churrascos e os petiscos de verão para trás e damos as boas-vindas aos assados, estufados e a saladas quentes de inverno —, a temperatura baixa e podemos não estar tão dispostos a beber uma bela garrafa de vinho branco fresquinho", refere a enóloga.
Contudo, isto não quer dizer que uma vez por outra um branco ou um rosé não possa ir para o centro da mesa. "Qualquer vinho é válido no outono ou no inverno", continua. "O melhor momento é aquele em que lhe apetece abrir uma garrafa de vinho, claro."
4. Cinco regras que tem de levar consigo para comprar vinho no inverno
Tal como para cada tipo de prato será ideal um azeite, o mesmo acontece nos vinhos, cuja escolha também está dependente da companhia. Pedimos à enóloga Beatriz Palhais que reunisse cinco regras básicas para ter em conta numa ida a uma loja de vinhos ou supermercado e preparar-se para o ponto seguinte.
- Ter em atenção qual o prato que vai acompanhar esse vinho, de forma que os sabores de um não se sobreponham ao paladar do outro, mas que se complementem.
- Escolher o que realmente lhe apetece beber naquele momento, se é um branco, tinto ou rosé.
- Considerar a companhia — um jantar a dois pede um tipo de vinho, enquanto uma jantarada com amigos pede outro.
- Ter em conta o momento, se for uma celebração pode optar por um espumante.
- Verificar se o preço do vinho se justifica.
5. Harmonizar vinho com Ferrero Rocher: eis a a combinação "divinal"
O paladar diz-nos de imediato se estamos perante um vinho mais ou menos bom, mas não é só isso que importa. Há pouco tempo, o responsável pelo mercado nacional dos vinhos João Portugal Ramos, João Baptista Vieira, lançava-nos uma questão: "Lembra-se do vinho que marcou um dos melhores momentos que já teve?". A resposta é não. Podia ser o melhor vinho, mas foi a junção da comida, da companhia e do ambiente que o tornou bom (mesmo que não fosse espetacular).
É por isso que harmonizar os vinhos com a comida é importante. Se não quiser ter trabalho a cozinhar, pode comparecer no jantar vínico "experiências à mesa", marcado para 24 de novembro no restaurante Peixaria da Esquina, em Lisboa (custa 49€ por pessoa). O chef Vítor Sobral trata dos pratos, a PMC ao Domicílio da harmonização e os convidados de comer o menu que começa com espumante Primavera Bical Reserva Bruto (DOC Bairrada).
Até lá, vá fazendo experiências em casa com ingredientes da época e vinhos nacionais, desde a entrada à sobremesa clássica no inverno: Ferrero Rocher. As sugestões são da enóloga Beatriz Palhais.
Entrada
- Camembert no forno com tomilho e romã: "Um vinho branco de inverno, com estágio em madeira como Quinta Casal das Freiras Reserva Branco. A sua complexidade irá fazer frente aos sabores ousados do queijo".
Pratos principais
- Feijoada ou cozido à portuguesa: "Um vinho típico e tradicional do Douro, com taninos marcando alguma complexidade. O aroma terá que ser igualmente ousado e frutado para dar resposta a pratos tão típicos e igualmente ousados do Douro. Recomendo o Quinta Penedo do Salto Reserva Tinto".
- Pratos mais pesados de carne: "Aqui vai depender bastante do tipo de carne e qual o molho e/ou condimentos que acompanha. Mas não deve ficar mal servido com um reserva alentejano, pelo que recomendo o Malandra Reserva Tinto".
- Pratos de bacalhau, típicos no Natal: "O bacalhau, sendo um peixe magro e salgado com um baixo teor de gordura, é acompanhado na perfeição com um vinho branco maduro, com corpo, untuosidade e personalidade. Um branco que tenha uma história para contar, como o Herdade da Ajuda Reserva Branco 2018. Um branco com uma componente aromática bastante exótica – notas de frutas de polpa amarela, como a ameixa e o pêssego, e que não desilude na boca – intenso e untuoso".
Sobremesa
- Sobremesa de marmelo ou o tradicional bolo-rei: "Recomendo um vinho do Porto Miguels White Sweet, a sua untuosidade e aromas a baunilha, caramelo e pêssegos vão complementar os aromas e sabores do tradicional bolo-rei".
- Castanhas assadas: "O ideal seria um vinho abafado ou uma jeropiga, mais fácil é abrir uma colheita tardia como o Madre de Água, Late Harvest".
- Ferrero Rocher: "Um porto tawny como o Miguels Tawny. Um Porto é um clássico desta época, assim como os bombons Ferrero Rocher, pelo que a combinação só poderia ser divinal".