Não há roteiros de viagem perfeitos (ou, pelo menos, consensuais), porque os gostos são subjetivos e nem toda a gente ruma até outro país com os mesmos objetivos em mente. Uns querem apenas beber um copo numa esplanada, outros querem ver tudo o que é monumento e há até quem só deseje comer o melhor que um destino tem para oferecer.
Se vai estar em Itália nos próximos tempos e pertence a este último grupo, anime-se: está no sítio certo. A MAGG esteve na Toscana e, depois de lhe dizermos aquilo que pode fazer nos três destinos que visitámos – Lucca, Pisa e Viareggio –, está na hora de lhe contarmos aquilo que deixou a nossa barriga a bater palminhas (e que, muito provavelmente, vai deixar a sua).
Primeiro, importa saber como chegar. A EasyJet faz dois voos diretos por semana para Pisa. Partindo do Porto, mais precisamente do aeroporto Francisco Sá Carneiro, estará na cidade mais conhecida pela Torre Inclinada em menos de 3 horas. Depois, os outros destinos ficam à distância de um comboio ou outro qualquer meio de transporte.
Dito isto, temos cinco iguarias que se destacaram nos nossos três dias de viagem. E antes que pense que vamos mostrar-lhe apenas massas ou pizzas, desengane-se – embora também as tenhamos degustado, a gastronomia desta região é tão rica que é impossível não destacar outras maravilhas. Vamos a isso?
Tortellacci di patate in salsa verde
Quer um almoço ou um jantar mais luxuoso, mas que não lhe custe os olhos da cara? O Gli Orti di Via Elisa é o local perfeito. Este estabelecimento pode ficar numa das ruas medievais de Lucca, mas é daqueles restaurantes que transpiram modernidade – já para não dizer que figura no Guia Michelin da zona.
Podemos ter sido recebidos com espumante (e isso ser, por si só, razão suficiente para nos conquistar) e ter experimentado várias iguarias típicas, confecionadas com ingredientes oriundos de produtores locais, mas houve uma que nos conquistou: o tortellacci di patate in salsa verde (13€).
Esta é uma massa recheada com batata, regada a molho verde (ou pesto, como quiser) e parmesão. A massa estava cozinhada no ponto, desfazendo-se lentamente na boca e deixando a cremosidade da batata ser a estrela. Já o pesto surpreendeu-nos pela diferença, já que, em vez de manjericão, é feito com aipo e salsa – um sabor muito mais suave do que aquele a que estamos habituados, portanto.
Zuppa alla Frantoiana
Se está a pensar ir a Itália no verão, a probabilidade é que apanhe dias de calor – foi o que nos aconteceu. Se o tempo convida a comer uma sopa? Provavelmente não, mas caso esteja disposto a abdicar do conforto para provar uma iguaria que só sabe bem a ferver, então deve ponderar comer uma zuppa alla Frantoiana.
No nosso caso, experimentámos aquela que é feita na Osteria del Podere (por apenas 11€), um restaurante que fica no centro de uma das praças mais icónicas de Lucca, a Piazza dell’Anfiteatro. Os ingredientes mudam de família para família, sendo por isso que existem diferentes variações da receita.
Contudo, os ingredientes principais são o feijão, o pão e o azeite. No que diz respeito àquela que provámos, tinha também couve toscana e abóbora arimatizada. Ficámos fãs da diferença de texturas que este prato proporciona, assim como da riqueza de sabores, que se vão sucedendo entre si – que começa no atomado do caldo e acaba na intensidade do azeite.
Bistecca alla Fiorentina
Ir à Toscana e não pôr os pés numa trattoria? Impossível. Afinal, dizem que é nos sítios mais despojados de formalidades que se comem os melhores pratos – e é precisamente o conceito deste género de estabelecimentos, que são menos corteses do que os ristorantes, mas mais formais do que as osterias, dizem-nos.
No Trattoria Il Campano, que fica numa das ruas perpendiculares ao rio Arno, que atravessa toda a cidade de Pisa, atestámos isso na perfeição. Pautado por um ambiente descontraído, mas suficientemente acolhedor, foi lá que tivemos oportunidade de experimentar um prato que é o sonho de qualquer carnívoro: bistecca alla fiorentina (65€/kg).
Esta é uma carne suculenta, que encapsula o melhor da cozinha toscana, já que provém de uma raça bovina da região: a chianina. Mesmo se tratando de uma peça grelhada de forma convencional, temperada apenas com sal, ficámos fãs do sabor fumado e da crocância do exterior, que dava lugar ao suculento e mal passado interior. E embora as fatias fossem grossas, este prato foi prova de que isso nem sempre significa que vá ser um martírio a mastigar.
Ragù di Mucco Pisano
Para os fãs de tiramisù, um doce tipicamente italiano, saber que há um restaurante no meio de Pisa cuja bandeira é ter 50 tipos desta sobremesa pode ser motivo de ir à loucura. Para pessoas como nós, que não são propriamente adeptas da mesma (ou de doces, no geral), isso passa-nos ao lado.
De qualquer das formas, este restaurante foi uma agradável surpresa por um dos pratos com que a carta conta: o ragù di mucco pisano (12€). Isto porque é confecionado com picci, uma massa moldada e enrolada à mão, fio a fio – quase como se se tratasse um esparguete mais robusto, que torna a degustação ainda mais gulosa.
Mas não foi só isso que pesou na equação. A carne de porco picada, já que este animal é bastante consumido na região, estava cozinhada na perfeição e os sabores ficaram ainda mais acentuados por ser emparelhada com ragù, um molho proveniente da Emília-Romana, no norte de Itália, à base de carne cozida e tomate. Para melhorar tudo, recomendamos parmesão em grandes doses.
Rovelline lucchesi
Para se atirar de cabeça à gastronomia local (e, na verdade, à cultura de Lucca), nada melhor do que marcar uma refeição no Ristorante Mecenate. Isto porque está localizado num edifício que foi, em tempos, uma antiga lavandaria e tinturaria, dois negócios que já foram aquilo que caracterizou esta cidade.
Desde logo, nota-se a importância que o estabelecimento dá à qualidade dos produtos, não estivessem os fornecedores locais com os quais trabalham destacados na primeira página da carta. Do lardo (uma espécie de toucinho) aos restantes enchidos, como salame coppa, é difícil escolher apenas uma coisa boa, mas temos de destacar o rovelline lucchesi (15€).
Como o nome indica, este é um prato bastante típico da cidade e consiste num panado coberto de molho pomodoro e alcaparras, acompanhado de batata frita. O panado, embora não seja crocante, revela uma carne macia e suculenta no interior, cujo sabor é totalmente tomado de assalto pelo molho, rico e encorpado, ao qual as alcaparras adicionam uma pitada de acidez e textura.