"O Kabuki é um espaço, não um restaurante", esclareceu-nos, desde logo, o diretor, Vítor Jardim. Neste espaço com três andares, existem diferentes ambientes, e há um que tem passado despercebido, na sombra da sala principal, que, em 2022, no ano a seguir à abertura, conquistou uma Estrela Michelin (que mantém desde então).

Referimo-nos ao Kikubari, o bar do Kabuki, que fica numa sala à parte e que proporciona uma experiência muito mais relaxada e despretensiosa. Com uma identidade própria e uma carta distinta (com alguns pratos que coincidem), quer afirmar-se por si só e passar a ser um espaço de culto para quem passa pela zona do Parque Eduardo VII e procura uma refeição rápida, mas de qualidade.

Kikubari. O bar que serve os melhores cocktails, pratos e petiscos do Japão fica no centro de Lisboa
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"Quisemos criar um serviço mais tranquilo, mais rápido e mais fácil para o cliente, para que possa ter uma refeição de meia hora, com um menu que não é descuidado — mantém a qualidade e o padrão Kabuki, mas num registo mais descontraído", explica-nos o diretor do Kabuki, que está no projeto desde o início.

Apesar de não conhecermos a experiência que é almoçar ou jantar no Kabuki, conseguimos perceber que, com o Kikubari, a ideia é conceder uma alternativa mais acessível e informal, onde é possível comer sushi às cinco da tarde se bem lhe apetecer ou até aproveitar a Happy Hour, das 17 às 19 horas, com 2 por 1 em cervejas e vinhos.

Restaurante Kabuki Lisboa
Restaurante Kabuki Lisboa créditos: Arlei Lima

Tal como na sala principal, também neste bar independente os sabores asiáticos assumem o protagonismo. O destaque vai para o Menu Kikubari, que, disponível durante a semana, inclui, por apenas 30€, uma sopa de soja fermentada miso shiru, a Bento Box com quatro unidades e o mochi do dia.

Pudemos ficar a conhecê-lo, ainda que com algumas adições, e considerámo-lo uma alternativa interessante. A Bento Box trazia sashimi de lírio, pargo, shutoro e toro atum, mexilhão com molho holandês, onigiri (uma espécie de sandes mista do Japão) e um crocante com lascas de atum-bonito.

Embora o onigiri e o crocante não nos tenham impressionado, pois sentimos que eram propostas algo secas, o mexilhão foi dos melhores que já comemos e o sashimi também estava divinal. A sobremesa foi uma explosão de texturas e sabores.

kikubari
kikubari A Bento Box, com sashimi de lírio, pargo, shutoro e toro atum, mexilhão com molho holandês, onigiri e um crocante com lascas de atum-bonito.

"Afinal, isto é que é um mochi?" foi o que pensámos à primeira trinca. Esta massa de arroz elástica recheada com fruta está tão bem conseguida pelo Kikubari que todas as outras deviam ser consideradas uma heresia. Quer o de maracujá, quer o de pastel de nata eram incríveis.

Apesar de não estarem incluídos neste menu, aconselhamo-lo vivamente a provar os pregos, servidos no bolo do caco. O de toro traz atum, maionese de lima e gengibre-tsukemono. Já o de wagyu tem também teriyaki e mostarda. Ambos custam 14€ e são mesmo imperdíveis.

kikubari
kikubari créditos: MAGG

Na vertente à la carte deste bar moderno, dividida em cinco secções — sakizuke, sashimi, maki, niku e sobremesas —, pode optar por "pratos fáceis, de confeção mais rápida, que não requerem a presença do chef", tais como gyozas (16€/4un) e makis (desde 14€).

No Kikubari, também pode provar o Kakigori, uma sobremesa japonesa refrescante de gelo aromatizado com calda de açúcar, sumo de yuzu, água, citrinos, seleção de frutas e redução de licor de melão, que é feita junto à mesa numa máquina vintage, que desencadeia um processo curioso e com um final saboroso.

"O Kikubari é descontraído, não quer ter Estrela Michelin. É um espaço à parte, onde todos podem só tomar café ou um cocktail. O serviço da sala principal é regrado, funciona por passos e há um ritual de explicação de cada prato. Aqui não", compara o diretor, que reconhece que a equipa nunca habituou "a que este espaço fosse independente do restaurante".

Uma ida ao Kikubari não fica completa sem embarcar numa viagem com o head bartender, Telmo Santos, como guia. O autor dos cocktails (que muda a carta a cada trimestre) aposta em "transformar clássicos à realidade japonesa", recorrendo a ingredientes nipónicos, como xaropes e açúcares.

O Niwa Shi, ou "sítio puro", só podia ser o bestseller. "É a nossa obra de arte", apresenta, e bem, o responsável de bar. É com ela que vão concorrer ao The World's 50 Best Bars, o ranking anual que destaca os melhores bares do mundo. Trata-se de uma homenagem ao "jardim mais especial do Japão".

Este espaço exterior cuidadosamente desenhado para criar harmonia entre natureza e arquitetura tornou-se bebível numa espécie de basil smash, um cocktail herbal e fresco com Roku gin, cordial de manjericão e shiso, yuzu, matcha e bitter de laranja (18€). Podia ser só mais um, mas não: o copo tem luz e ilumina o monte Fuji, a montanha mais alta do Japão.

kikubari
kikubari Niwa Shi, um cocktail herbal e fresco com Roku gin, cordial de manjericão e shiso, yuzu, matcha e bitter de laranja (18€).

Este símbolo indissociável é rodeado de rocha e musgo. Durante o processo, removem o ar para que o líquido fique translúcido como a água, apesar de os ingredientes ("yuzu, macha, sizo planta japonesa, pimenta sancho, manjericão", enumera o bartender) serem, na verdade, verde vivo.

O jardim harmonioso acaba por ofuscar companheiros como o Ukiyo, um cocktail doce, picante e exótico, "estilo Pornstar Martini", com vodka Eiko, kyomi rum, baunilha, pimenta sancho, maracujá, laranja e ar de espumante (18€), o Red Akuma ("cabeça de dragão vermelho", em japonês), que, refrescante, picante, cítrico, é como que uma versão asiática de uma Spicy Margarita, com tequila espolón, dry curação, yuzu, laranja sanguínea, yuzokosho e gochujang (19€), e o Toropikaru (ou "tropical"), frutado, exótico e sem álcool, com Martini floreale 0.0 álcool, licor de abacaxi 0.0 álcool, maracujá, yuzu e xarope de shiso (12€).

Em pleno coração de Lisboa, fica o apelo para se despir de preconceitos para embarcar nesta viagem sensorial que pode, mas não deve passar despercebida.

Kikubari

Localização: Rua Castilho 77, 1070-050 Lisboa
Horário: de terça a sexta-feira das 12h30 à 00h, sábados das 19h30 à 00h (encerra à segunda-feira e ao domingo)
Contactos: (+351) 212 491 683 | 935 010 535 | lisboa@grupokabuki.com / site / Instagram