Não há histórias mais excitantes e misteriosas do que aquelas que se misturam com mitos, verdades obscuras, factos que tanto podem ser reais como contos ficcionados por alguém para que se tornem mais cativantes. É muito assim a história da criação do Negroni, o cocktail italiano mais famoso do mundo, que nasceu há precisamente 100 anos, num pequeno bar de Florença. Claro que não pode haver aqui uma só verdade, há pelo menos duas ou três, mas todas metem condes, o que já torna a coisa mística e lhe dá um tom mais aristocrático. A história é tão discutida que até já teve direito a dois livros publicados. O melhor é resumir-lhe a coisa. Mas já lá vamos. Primeiro, Portugal.

Há pelo menos oito anos que o hábito de beber cocktails entrou de forma regular na rotina dos portugueses. Numa terra onde o vinho manda, e manda muito bem, nem sempre foi fácil convencer aqueles que saíam para jantar ou beber um copo com os amigos a beber um cocktail. O aumento brutal da oferta de bebidas criativas, séries como “O Sexo e a Cidade” (e os seus cosmopolitans), eventos como a Lisbon Cocktail Week ou a vontade de viver uma experiência diferenciadora levou a que cada vez mais portugueses começassem a procurar cocktails antes de um jantar, ou num bar ou numa discoteca pela noite dentro.

Embora muitas vezes sejam associados a bebidas mais doces, ou mais femininas, os cocktails não são necessariamente refrescos, e é possível encontrar de tudo. E é aqui que entra o Negroni. A cor avermelhada, o aspeto sensual, o gelo em grandes cubos, o toque da laranja, mascaram um pouco aquilo que é a essência do cocktail, que para lá de Campari leva gin e vermute tinto. Ou seja, é tudo menos fraquinho, e corta muito com a ideia de que um cocktail é uma bebida mais feminina e doce.

Um Negroni é feito com Campari, vermute tinto, gin e uma rodela de laranja

O Negroni é, há 100 anos, um sucesso em Itália, e é há várias décadas um dos cocktails mais consumidos no mundo. Neste momento, em Portugal, mesmo não estando ainda massificada, é uma das bebidas mais apreciadas pelos próprios barmen de bares ou discotecas. O consumo tem crescido de forma rápida e, tal como já acontece noutros países, o hábito de beber um Negroni tornou-se quase uma afirmação de cultura urbana. Quem pede um Negroni é um público “stylish, avant-garde, que gosta de se diferenciar, mas sem ostentar”, explica à MAGG Inês Machado, diretora de Marketing e Comunicação da Empor Spirits, responsável pela distribuição de Campari em Portugal. As rotinas de saída dos portugueses das áreas urbanas também explicam o porquê de o Negroni começar a tornar-se a next big thing da noite. São pessoas que gostam de experimentar bons restaurantes, “preferem claramente a qualidade à quantidade” e gostam de “cocktails mais clássicos”, acrescenta Inês Machado.

Começámos a falar de histórias excitantes, não foi? Prometemos voltar aí. Voltemos então, porque é importante perceber, afinal, de onde é que vem o Negroni, que celebra este ano o seu centenário.

Se é para criar misticismo, criemos nós também. Numa noite escura e fria de 1919, o conde Camillo Negroni entrou no castiço Bar Casoni, numa rua perto do imponente Duomo de Florença. Carregava o cansaço de longas viagens pelos Estados Unidos, onde possuía terras vastas, que todos os dias percorria em demorados passeios de cavalo. Aos fins de semana, o Conde Negroni divertia-se a desafiar bois em fúria em rodeos que levavam milhares de pessoas a perder a cabeça, e fortunas, em apostas.

De regresso à sua Itália, e depois de uma passagem por Inglaterra, Camillo sentou-se em frente ao barman do Bar Casoni, o tal de Florença, e pediu-lhe um Americano, um cocktail que mistura o bitter-sweet de Campari com o peso do vermute tinto e o tom juvenil da soda, tudo com muito gelo e uma rodela de laranja. Mas dessa vez pediu-o com uma variação.

— Quero um Americano, mas bem mais forte. Esqueça a soda, meta antes gin.

O barman obedeceu e o Negroni nasceu.

“Isso não foi bem assim. Há outra história”. No livro “The Negroni: Drinking to La Dolce Vita”, o barman inglês Gary Regan fala de um outro conde Negroni, que reclama ter sido ele a inventar a receita. Não há muitos dados sobre esta outra história, não é tão entusiasmante quando a primeira, mas o homem que poderá ter criado o cocktail é o general Pascal Olivier, Conde de Negroni. Versões.

O realizador italiano Matteo Garroni foi o escolhido para realizar uma curta-metragem da série 'Red Diaries' que tem o Negroni como personagem secundária

As histórias ficam, a verdade nunca se saberá ao certo, mas que durante quase 100 anos o bar Casoni, em Florença, serviu milhões de Negronis à conta da história do conde, isso é um facto. E só não continua a vender porque em 2011, o histórico bar, com quase 200 anos, foi comprado pelo grupo Roberto Cavalli, que fez obras profundas, alterando a identidade do espaço, tornando-o numa mistura de pastelaria com mercearia. Problema: o bar Casoni perdeu, legalmente, o estatuto de local histórico e protegido de Florença.

Em 2017, o grupo Roberto Cavalli optou por fechar o bar Casoni, que não pôde ser protegido pelas entidades que conservam locais históricos de Florença, precisamente porque as obras profundas de 2011 o tornaram num sítio moderno e que já tinha pouco a ver com o ADN do espaço onde terá nascido o Negroni. Hoje, o bar Casoni está fechado e o espaço terá sido adquirido pelo grupo Armani.

Se 2011 terá sido o ano que marcou o início do fim do local onde nasceu o Negroni, foi também o ano em que a Campari apostou em dar uma dimensão mundial ao histórico cocktail italiano, criando o primeiro “The Year of The Negroni”. A bebida entrou nas listas de experiências de alguns dos barmen mais famosos do mundo, que começaram a espalhar negronis por vários países, e até a dar pequenos toques na receita original, criando algumas variações do cocktail. O sucesso foi tão grande que a Campari optou por criar a Negroni Week, que em 2015 já era assinalada em 42 países diferentes, e em mais de 3500 bares, discotecas e restaurantes.

O enorme crescimento da marca Campari, uma das mais icónicas de Itália, também teve reflexo em Portugal, sobretudo “depois de 2016”, altura em que “passou a existir um maior foco na marca através de ações de marketing”, como explica à MAGG Inês Machado.

O Negroni também tem culpa nisto, neste crescimento de marca. Embora não haja “um estudo formal” sobre consumo destas bebidas em Portugal, existem “questionários mais informais junto de bartenders” que revelam que “o Negroni foi consagrado como o cocktail preferido dos profissionais de bar portugueses”, diz Inês Machado.

Existem no nosso País mais de oito mil locais — sobretudo restaurantes, bares e discotecas — onde é possível encontrar Campari, a base do Negroni, e de muitos outros cocktails, como o Campari Tonic ou o Americano. Uma coisa é certa, seja qual for o cocktail que pedir pode ter a certeza que cada um deles contará uma história, a história da sua noite. Foi aliás este o ponto de partida para que a Campari criasse o conceito Red Diaries — “todos os cocktails contam uma história”. E quem é que contou essas histórias? Alguns dos melhores realizadores e atores da atualidade.

Desde 2017 que a Campari cria pequenos filmes que têm na sua essência os cocktails feitos com a bebida italiana, mas que contam histórias sempre ligadas à noite, com mistério e sedução. O filme de 2019 foi realizado pelo premiado Matteo Garrone, realizador do fantástico “Gomorra”. A curta-metragem, protagonizada pela atriz cubana Ana de Armas (“Blade Runner 2049”), foi apresentada no início do mês de fevereiro em Milão, e tem o título “Entering Red”. O filme contou com a presença de alguns dos maiores barmen do mundo,  Pode vê-lo aqui.

O filme foi mostrado pela primeira vez em Portugal esta quarta-feira, 27 de fevereiro, num evento privado no Teatro do Bairro, em Lisboa.

A primeira vez que a Campari criou uma destas curtas-metragens foi em 2017, com o filme “Killer In Red”, protagonizado por Clive Owen e realizado por Paolo Sorrentino, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014 como “A Grande Beleza”. Pode ver o vídeo aqui

O ano passado, o realizador convidado foi Stefano Sollima ("Sicario: Guerra de Cartéis”, que dirigiu a atriz Zoe Saldana em “The Legend of Red Hand”. A curta-metragem, que tem sempre os cocktails Campari como uma espécie de personagem secundária, pode ser vista aqui.

*A MAGG viajou a Milão a convite da Empor Spirits, distribuidora nacional de Campari.