Camila Nascimento estende-nos o menu para a mão. Passa a página dos vinhos, passa a página dos sumos e eis que surge a dos pratos, toda ela escrita a lápis. "Não é desleixo, é mesmo porque vai mudar muitas vezes e assim fica mais fácil de escrever, apagar e voltar a escrever", explica a proprietária de um dos mais recentes negócios de Campo de Ourique.

Tem 24 anos, mas fala com a certeza de quem sabe que está a fazer o que é certo. E o certo aqui passa por uma cafetaria fora do comum porque, aos cafés, bolos e tostas habituais, junta duas particularidades: além de tudo ser vegan, a comida divide irmãmente o seu espaço com prateleiras cheias de catos e suculentas.

Morada: Rua Infantaria 16, 123, Lisboa

Horário: 10h-22h (fecha ao domingo)

As plantas foram, aliás, o primeiro negócio de Camila quando, há quatro anos, começou a recolher algumas espécies aqui e ali e montou a sua primeira banca de venda nos mercados de Lisboa. Quando viu que o stock acabava rapidamente, e que os turistas driblavam como podiam a segurança do aeroporto para poder levar plantas na bagagem, percebeu que talvez o seu caminho estivesse a tomar o rumo certo.

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A banca cresceu e transformou-se na Vintage Cactus, no Cais do Sodré, a primeira loja do País inteiramente dedicada à venda de catos e suculentas. E, não satisfeita, abre agora um novo espaço, desta vez em Campo de Ourique, Lisboa, onde às plantas junta o amor pela cozinha, também ela feita com base vegetal e na qual a sócia, Teresa Neves, dá os primeiros passos.

Deram-lhe o nome de Esteva, a planta da Costa Vicentina, e, de facto, ainda que a uns bons quilómetros do Alentejo, o espaço cheira a fim de tarde de verão.

Este espaço é um dois em um

Quem entra no Esteva com olho na cafetaria, tem que primeiro passar pela zona dos catos e das suculentas, eles sim, os protagonistas da vida de Camila. Este lugar cimeiro só fica tremido quando, por trás do balcão, vemos Fernando Cardoso que, não só é seu namorado, como é também o Chef Cozinheiro do Ano, prémio que venceu no ano passado com um menu feito de açorda de ovos, coentros e cebolas e uns sonhos de abóbora.

Aqui a ementa é outra e não entram produtos de origem animal, ainda que Fernando nem sequer pense muito nisso. "Não quero que venham a pensar que vão comer comida vegan. Quero que venham a pensar que vão comer comida boa", explica, interrompido por Camila que se chega à frente com o slogan. "Simples, vegan e honesto. O Esteva é muito isto".

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E se assim é, que venham daí esses petiscos, pensados por Fernando, que se mantém como sub-chef do Altis Belém Hotel & Spa, mas que aproveitou as férias para dar um empurrão à equipa de cozinha da qual faz parte Teresa Neves que, ainda que sem experiência no fogão, é vegana e sabe que, ao contrário do que muitos pensam, os veganos não comem só salada.

Há azeitonas com citrinos da época (2€) para começar e a sandes Esteva (6€), para algo mais composto, feita com beterraba, cenoura e cebola fumada, a fazer lembrar o sabor de um tradicional pão com chouriço. Os outros dois pratos têm como nome a lista de ingredientes que os compõem. De um lado cebolas, bola de aipo e miso (7€), do outro feijões, amêndoa e folha de ostra (7€).

Aberto das 10 às 22 horas, oferece ainda opções de pequeno-almoço e lanche como as torradas e tostas com pão da Gleba, bolos caseiros e, ao sábado e feriados, um menu de brunch (15€), do qual fazem parte uma torrada, um dos pratos do menu, uma salada, uma fatia de bolo, um sumo natural e uma bebida quente.

Se a vontade pesar mais para um copo de fim de tarde, a oferta de vinhos é grande, com a certeza de que todos são naturais, orgânicos e biodinâmicos, ou seja, cuja produção está livre de pesticidas e respeita a ordem natural do crescimento da planta.

As obras foram feitas em família, com a mobília pintada à mão pelo pai de Camila e os macramés que enfeitam as paredes e seguram os vasos a cargo da mãe. Camila e Fernando escolheram as cores, os ingredientes e até a loiça que até hoje nos deixam a pensar no quão fofa pode ser um uma chávena de café.

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Na primeira semana já alteraram o horário — que tinham pensado ser menos noturno —, já testaram novas receitas, delinearam as sugestões de vinho para cada prato e têm já agendadas sessões de música ao vivo para animar os fins de tarde.

"Dizem que para abrir um negócio tem que haver um sonhador e um business manager. O problema é quando os dois são sonhadores como nós", brinca Fernando.

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