Se tem por hábito visitar frequentemente a Casa da Guia, em Cascais, e não resiste a uma refeição demorada ao fim de semana, acompanhada de uma das melhores vistas da zona, falar do Paladar da Guia não é novidade nenhuma. Por outro lado, se ainda não conhece o restaurante, que celebra em 2022 os seus 18 anos de existência, talvez seja hora de se render à cozinha tradicional portuguesa com um twist do chef João Pereira.
Foi há cerca de meio ano que o jovem chef assumiu os comandos do espaço, que nos conquista logo pela envolvência e ambiente acolhedor. No interior, as paredes em madeira e os aquecedores trazem o quentinho que precisamos para nos fazer sentir num qualquer chalet montanhoso. No exterior, a ampla esplanada mesmo de frente para o Oceano Atlântico faz com que este seja um cenário perfeito para um almoço debaixo de um sol de inverno ou para petiscos ao final de um dia de verão, ainda com o sal do mar no corpo.
Enquanto o calor não chega, há muitos (bons) pratos para nos aquecer o estômago, numa carta vasta e variada, focada na comida portuguesa, mas com um toque de originalidade. Pusemos as mãos à obra, demos uso aos talheres e experimentámos as várias sugestões do chef. E dizemos-lhe quais as seis a não perder.
Pastéis de bacalhau (2,50€ / unidade)
Assim que os pastéis nos chegam à mesa, as nossas expectativas são logo colocadas para cima. É que pastéis há muitos, meus amigos. Bons, nem sempre. Mas podemos assumir que a proposta do Paladar da Guia deste tão conhecido salgado português é mais que bem conseguida. Bacalhau e batata na dose certa — e são só de batata, como muitos que por aí andam —, fritura no ponto, zero gordura, bem secos e com um tamanho generoso. Ah, e chegam quentinhos à mesa, o que é sempre um pró.
Camarão salteado com alecrim e malaguetas (10€)
Bons camarões, um toque de alecrim e um molho de malaguetas no ponto certo, com a quantidade perfeita de picante para dar outra envolvência ao prato, mas não demasiado que nos faça correr em busca de um copo de leite. Avisamos já que precisa de um cesto de pão extra para dar ao molho o protagonismo que merece.
Tártaro de salmão (14€)
É verdade que, nos dias de hoje, o que mais se vê em restaurantes é tártaro de salmão. No entanto, a proposta do chef João Pereira chega-nos cheia de frescura, e com um twist que primeiro se estranha, depois entranha: uma cama de beterraba desidratada, que dá um toque de originalidade e sabor a esta entrada, e que a torna diferente dos muitos tártaros de salmão que já tivemos oportunidade de experimentar.
Polvo à lagareiro (16,50€)
Não é propriamente chocante ver um polvo à lagareiro numa carta de um restaurante tipicamente português, ou não fosse esta maneira de confecionar polvo uma das mais tradicionais da nossa cozinha. O que pode surpreender quem tem por hábito pedir este prato é a suavidade do polvo, que se desfaz na boca à primeira dentada, cozinhado no ponto certo e com um sabor delicioso. Não é à toa que é um dos pratos mais pedidos da casa, e arriscamos mesmo a dizer que o grande chamariz do restaurante.
Caril de camarão (17,50€)
Quem não é fã de misturar doce com salgado pode torcer o nariz a este prato, dada a presença do ananás no caril. Mas acreditem que basta provar e esquecer o que é suposto ou não fazer parte da proposta, porque a verdade é que funciona na perfeição. O arroz branco soltinho, como se quer, o caril guloso. Puristas podem dizer que falta "sabor a caril" neste prato, mas nós damos-lhe cinco estrelas pela originalidade e mistura de sabores. Tal como acontece no polvo, tratam-se de doses bastante generosas, e com umas duas entradas, será suficiente para um casal dividir.
Chèvre panado com geleia (8€)
Assumimos o nosso lado francês e trocámos as sobremesas pelo queijo — e foi a melhor troca de sempre. Um pequeno chèvre panado — mas sem gordura extra — chega à mesa com uma geleia deliciosa, que faz o casamento perfeito entre o sabor mais intenso do queijo, a crocância do pão ralado panado e o doce da fruta. Mais que aprovado.