Gostávamos de eleger a criação do chef italiano Valerio Braschi, com 24 anos, que nos surpreende mais, mas não conseguimos. Não é que, além de lasanha servida num tubo de pasta de dentes, tem uma pizza marinara servida num saco comestível (que mais parece outra coisa)? As criações mais originais do jovem chef são servidas no restaurante 1978, em Roma, Itália.
Aponte já na lista para quando visitar a cidade e vá a contar com uma refeição de valor mais elevado — é que apesar de serem mini doses, cada prato não custa menos de 25€. Mas vale a pena, nem que seja pelas experiências proporcionadas, como é objetivo de Valerio Braschi.
"Quero que os clientes fiquem boquiabertos ao ver os meus pratos e depois digam à primeira dentada — 'oh, sim' — que reconhecem sabores como os da lasanha, porque as suas avós faziam todos os fins de semana", diz o chef criativo à CNN Travel. Fala da lasanha porque é servida de uma forma curiosa, mas poderia falar da carne que é bebida num pequeno copo.
Tudo é estranho, tudo é diferente e é assim que é suposto ser. "Tenho um desejo infinito de experimentar com audácia novos sabores e invenções para criar novas combinações. Não há fronteiras na cozinha e acredito que devemos estar abertos a tudo", continua.
Valerio Braschi venceu a 6.º edição do MasterChef Itália, em 2017, e foi ainda reconhecido com mais dois prémios na carreira: o prémio “Tradizione Futura 2022” pelo "Gambero Rosso" e foi venceu o prémio de "chef jovem do ano", atribuído pelo La Guida de L'Espresso 2021. Já o restaurante 1978, ganhou o prémio Travelers 'Choice 2021 da Tripadvisor e conquistou até agora dois garfos no guia Michelin 2022.
O que sai da cabeça pensadora do chef Valerio Braschi para todo este reconhecimento? Coisas que nunca imaginámos. Ora espreite.
Lasanha num tubo de pasta de dentes
Ragu de carne, bechamel, noz-moscada e massa de lasanha. Tudo isto compõe a mistura cremosa que está dentro de um tubo que parece de pasta de dentes, mas é uma parte da refeição no 1978. Como comer? Espremer o tubo sobre uma massa de ovo assada no forno e levar tudo à boca.
Veja como é feito.
Chupa-chupa de lasanha
Vamos continuar pelas versões diferentes de lasanha. Desta vez, em forma de chupa-chupa ou de bonsai (fica ao critério da imaginação). Na bola sobre o que parece um pequeno vaso estão os sabores típicos de uma lasanha: noz-moscada, molho de ragu e massa de lasanha, cobertos por um gel de bechamel que cria a camada esbranquiçada de pó crocante que se vê na fotografia.
Atrevia-se a provar?
Pizza marinara num saco
Esta ainda não conseguimos ultrapassar. Uma das mais básicas pizzas italianas, a marinara (só com molho de tomate, azeite, orégãos e alho), é servida num saco que também se come. Neste, feito de papel de arroz, são colocadas as especiarias e acrescenta-se ainda pó de massa de pizza assada. Para comer basta levar tudo à boca e reter para sempre a experiência de comer uma pizza dentro de um saco.
Beber de um tubo de ensaio
Tem muita ciência culinária envolvida, mas na boca são estes os sabores que vai sentir: bignè (espécie de éclair) recheado com creme de beringela assada, com cobertura de frango assado e pasta de cacau; beijo falso de uma senhora, feito de merengue salgado; e, finalmente no tubo de ensaio, um caldo de bruschetta com tomate.
A pintura da aldeia de Santarcangelo di Romagna
Antes de provar o que quer que seja, os olhos comem a pintura de um prato que retrata a aldeia de Santarcangelo di Romagna, onde estão as raízes do chef. Faz parte do menu de degustação Valerio 2k21 e ao lado do bonito prato vem outro com natas concentradas que "englobam os gostos e sabores da aldeia", descreve uma publicação no Instagram.
Como comer? "Bem... já pensou em lamber um prato num restaurante? Lançamos o desafio", diz o restaurante.
Beber carne
Quais facas de serrilha qual quê? No 1978 nem é preciso colher.
Para esta criação, primeiro, o chef usa ultrassom para partir a carne de vaca e depois transforma-a num molho suculento. É ainda emulsionada em gordura premium de vaca espanhola Rubia Gallega para chegar ao líquido que é servido num copo escuro.
Comer um ovo à sobremesa
Para os que estão sempre preocupados com a proteína e a carne de beber não chegou, eis um ovo para completar a refeição. Mas este, o chamado Ovo de Geppo, é um ovo diferente. É feito de crème bavaroise com recheio de sementes de sésamo e damasco no interior, coberto depois por glacê de amêndoa. Já a cama de palha deste ninho doce é massa crocante de kataifi.
Perfume comestível
Leu bem. Para quem sentia que borrifar-se não era suficiente, pode levar essência para dentro do corpo com os perfumes comestíveis do restaurante italiano. Foram criados em 2021 em conjunto pelo chef Valerio Braschi e pelo sous chef Riccardo Arcangeletti e há duas versões: um de baunilha e outro mais cítrico, com laranja, limão e lima.
Para fazer, por exemplo, o mais cítrico, leva mais tempo do que para degustar. "O álcool é selado a vácuo durante uma semana, juntamente com a casca cítrica e algumas gotas de óleo essencial", começa o chef por explicar numa publicação de Instagram. "Após o engarrafamento, deixa-se repousar no escuro durante semanas para concentrar ao máximo o seu aroma", termina.