Cozinha italiana é sempre aquela aposta segura tanto para quem abre um estabelecimento, como para quem vai jantar com os amigos. Não tem como falhar. Pizzas, massas e risottos na base e um tiramisù para rematar. O que nem todos têm é a essência do Tutti a Tavola, o novo restaurante italiano no Campo Grande, em Lisboa, que além de aprimorar os pratos típicos, junta-lhes cocktails que se comem.

Leu bem. A MAGG visitou o novo espaço e pela primeira vez desde que nos lembramos foi-nos servido um cocktail que não só se bebe como se come. A preceito.

No caso do portofino, com Bacardi rum superior, sumo de lima, caviar de vinho do Porto e maçã desidratada (6,95€), antes de os lábios chegarem ao bordo do copo alto e fino, foi-nos explicado que é a colher que afunda sobre a espuma do topo para retirar a fatia de maçã desidratada, com caviar por cima.

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Dizer que gesticulámos de emoção não é exagero e assim que provámos o cocktail em si, desta vez a beber, foi o auge da refeição que ainda nem tinha começado. No entanto, esta não foi a única experiência dos cocktails com assinatura do bartender Ricardo Xale, na noite da visita preparados pelo bartender Hyan Santos.

Assim que levámos o napoli à boca, com vodka Eristoff, St. German, sumo de limão, puré de morango e espuma de manjericão (6,95€), imaginámo-nos a beber este cocktail fresco na esplanada do lado de fora da sala onde nos encontrávamos, numa tarde de verão após um passeio pelo lago do Campo Grande.

"O que se bebe aqui" já percebemos, resta saber o que se come. Antes disso, tentámos perceber como é que um chef com raízes mexicanas vem parar a um restaurante italiano.

Um italiano com Ferrero Rocher para sobremesa

Carlos Rendón, natural da zona Maya de Yucatán, no México, é chef de cozinha que assinou a carta do Tutti a Tavola. Apesar das origens, revelou-nos que a gastronomia de Itália não lhe é de todo desconhecida. "O meu primeiro contacto com a cozinha italiana foi porque estudei gastronomia na Argentina. E a Argentina tem uma influência muito forte da gastronomia italiana e, por acaso, fazem coisas muito interessantes", refere à MAGG o chef Carlos que, entretanto já passou por cozinhas no Canadá, Espanha, França e, claro, Itália.

A última paragem foi Portugal, onde veio para abrir um restaurante de comida mexicana, o Taquería Patron, no Bairro Alto. Andou ainda pela Taberna Fina, restaurante de fine dining do chef André Magalhães, pelas Las Ficheras, nos Cais do Sodré, e por outros projetos, como o Sicario Taqueria Mexicana, em Matosinhos, até chegar ao Tutti a Tavola com o desafio de criar um conceito diferente.

Chef Carlos Rendón
Chef Carlos Rendón créditos: instagram

"O que eu queria no menu era fazer coisas que não fossem comuns de encontrar noutros restaurantes italianos. A ideia foi usar sabores 100% italianos, mas apresentados de maneira diferente, sem ser uma coisa pretensiosa", refere o chef, clarificando que o cuidado foi no sentido de que o cliente não se "sentisse intimidado" — e para isso ajuda também a decoração descontraída e ao mesmo tempo cuidada quanto baste para que seja um espaço convidativo a momentos passados quer entre amigos, quer em família, sem que para isso seja preciso dizer "todos para mesa". O nome do restaurante criado pelos irmãos Luís e Pedro Araújo, Tutti a Tavola, faz essa chamada logo no momento da reserva. 

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"Quando lês a descrição da ementa, tudo é familiar, mas não é uma coisa que já tenhas provado, além de dois ou três pratos que têm de estar ai. Mas o resto da ementa tentámos que fosse mais original. Dar à casa a sua própria identidade", continua.

Em conversa com Diana Mendes, chef de sala, percebemos que no pouco tempo de vida do Tutti a Tavola — aberto desde 9 de fevereiro — já há um best seller na casa: a porchetta, "barriga de porco cremosa por dentro e crocante por fora", explica Diana, com molho de gorgonzola e puré de batata doce e espinafres (14€).

Outro que também tem feito furor, desta vez na categoria das massas, é o sorrentino di salsiccia fresca, com molho de cerveja preta e cogumelos salteados (11,50€), que em breve vai ganhar um concorrente: o sorrentino Granchio, igualmente uma massa fresca, mas desta vez recheada com sapateira e com molho de espargos e espinafres (14€).

Nos risottos, o gambero (14,50€) tem ultrapassado o clássico, mas ainda assim há que dizer: o risotto ai funghi (12,50€), que provámos, pode não ter as tufas da moda, mas é diferente de outros por uma simples explicação, embora confusa. O arroz não está "espapaçado", nem demasiado al dente, não tem um forte sabor a cogumelos, nem a vinho, e, deixando a negativa, só temos a dizer "sim" ao porcini desidratado que dá textura ao prato.

Risotto ai funghi (12,50€)
Risotto ai funghi (12,50€) créditos: divulgação

Das pizzas que saem do forno, a gamberino (13,50€) destaca-se pela combinação inesperada: base bechamel, mozarela, pesto, cogumelo portobelo, provolone fumado e camarão salteado. Não falámos das entradas, mas reservámos este momento para falar delas, porque o paté di carciofi e spinaci, com tomate seco e queijo parmesão (4€), uma espécie de gratinado de queijo, vem com pão de pizza crocante e fino a acompanhar.

Ainda não chegámos às sobremesas, mas depois dos cocktails nunca vistos e destes pratos, diga lá se não tem curiosidade para saber o que ainda resta? Pois bem, começamos pela primeira surpresa à mesa: o tartufo, com um pedaço de folha de ouro (5,50€). "É tipo uma mousse de avelã caramelizada, com um centro de caramelo salgado e é tudo coberto com chocolate. Parece um Ferrero Rocher gigante", diz entusiasmado o chef Carlos Rendón. O coproprietário Pedro Araújo acrescenta ainda que a "ideia era recriar uma trufa", sendo que a base de crocante de chocolate corresponderia à terra.

Já a panna cotta di frutti di bosco (3,50€), que uns adoram e outros, como nós, não são fãs, fez-nos mudar esta ideia pelo facto de a apresentação ser diferente (não parece um pudim) e a compota ser deliciosa, com o bónus de que é caseira. E, claro, também há tiramisù (5€).

"Isto não é um restaurante tradicional de comida italiana"

Após descrevermos o que se encontra no novo restaurante, é fácil perceber que o Tutti a Tavola tem a essência italiana, mas sempre com um toque original. "Digo sempre: isto não é um restaurante tradicional de comida italiana. Não é. Temos algumas coisas que são um porto seguro e mesmo assim damos um toque pessoal", define o chef Carlos Rendón.

A acompanhar este novo italiano irreverente há, além dos cocktails (incluído o picante Messina, feito com geleia caseira, 7,95€), uma completa carta de vinhos formulada pelo sommelier português Bruno Antunes e até aqui o Tutti a Tavola inova. Além de estarem divididos por brancos, rosés e tintos, são ainda acompanhados de uma recomendação para cada tipo de prato.

Vai comer uma carne, como a porchetta? Então o melhor será um dos "tintos jovens frutados e fáceis", conforme descreve a carta. Nós ficámos pelo vinho Brejinho (19€) para acompanhar a variedade de pratos experimentados.

O Tutti a Tavola é mais do que uma Itália original, é também um espaço de memórias e onde se pretende que novas sejam criadas. "A minha infância foi passada aqui", conta Pedro Araújo à MAGG. Quando surgiu a oportunidade de ficar com o espaço, Pedro lutou o mais que conseguiu até conseguir a concessão, já com o objetivo de abrir um restaurante — que será mais do que isso.

"O conceito é um sítio para estar com amigos e a família e às quintas, sextas-feiras e sábados à noite vamos querer implementar música ao vivo", avança Pedro, acrescentando que a transformação do restaurante em bar "com alguma elegância", entre as 23h e as 01h, está prevista para breve.

Tutti a Tavola

Localização: Jardim do Campo Grande, Caleidoscópio edifício Fundação Liga, Lisboa
Reservas: 217 970 482