A zona de Santos pode ser muito conhecida por ser um dos spots mais frequentados por jovens à noite, que evitam os bares e acabam por reunir-se em grandes grupos na rua, com copos e garrafas na mão, num botellón coletivo. Mas foi também em Santos que encontrámos o segredo mais bem guardado dos últimos dois anos no que toca à gastronomia japonesa. E vá à confiança, que mesmo à noite, não há frenesim da rua que prejudique a experiência no Mattë Lisboa.

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Aberto desde 2020, numa altura em que a pandemia prejudicou fortemente o setor da restauração, a mestria do chef brasileiro Habner Gomes e a subtileza deste espaço asiático de fine dining estão agora revigoradas e com olhos postos no futuro, que se quer bem "estrelado". "Com certeza [que a estrela Michelin] que é um objetivo", revela o chef à MAGG, que tem total confiança nos sabores que serve no restaurante e que estes podem ser mais do que suficientes para alcançar o famoso reconhecimento — e não podíamos estar mais de acordo.

Mattë Lisboa
Mattë Lisboa O chef Habner Gomes.

A verdade é que o Mattë Lisboa cativa em todas as frentes. O espaço, mais escuro e elegante, é de linhas modernas e simples, mas não deixa de ser acolhedor. A simpatia do staff é outro dos pontos fortes do restaurante, bem como a mestria para as sugestões vinícolas. E, se é apreciador de bom vinho, desafiamo-lo a deixar o pairing para o sommelier do restaurante (não existe um preço definido para o pairing, sendo o mesmo cobrado conforme os vinhos escolhidos).

Só há 4 lugares na barra — mas vai ter a experiência de luxo em qualquer mesa

A delicadeza dos sabores criados por Habner Gomes completam este quarteto fantástico de fatores, sendo que este não é um restaurante para quem é fã de sushi de fusão. "O máximo de fusão que faço é trufa — e na altura da trufa —, caviar e foie gras, porque casa muito bem com peças com waygu japonês e australiano que tenho aqui. Sirvo uma cozinha mais tradicional, e também é isso que o cliente daqui procura", diz o chef brasileiro que aposta muito na sua formação, tendo passado já várias temporadas no Japão a aprender com os melhores.

E essa tradição está mais do que presente no momento em que são servidos os nigiris, que o chef insiste que coma imediatamente a seguir a serem feitos — e com as mãos.

Mattë Lisboa
Mattë Lisboa Nada fica ao acaso na confeção dos nigiris.

"No início foi mais complicado, mas entretanto os clientes aderiram completamente. Agora, acho que esta particularidade é algo que nos distingue e que já é uma característica do restaurante. E a questão do comer as peças à mão é só mais um factor daquilo que quero proporcionar enquanto experiência exclusiva. O que tentamos fazer aqui é levar a experiência do balcão até à mesa. Pode estar sentado à minha frente no balcão, que só tem quatro lugares, na mesa 25, que é a mais perto de mim, ou lá no fundo do restaurante, que o serviço é igual", refere Habner Gomes.

Mattë Lisboa
Mattë Lisboa A barra tem apenas quatro lugares.

Independentemente do sítio onde esteja sentado, o chef brasileiro salienta que nada falha. "Vai comer com as mãos, vai ter toda a explicação dos peixes, porque é que este é servido com gengibre, porque é que que o outro tem aquela marinada, porque é que o toro casa com o caviar, tudo é explicado."

Soja? "O objetivo é temperar, não roubar o sabor ao mergulhar a peça", diz o chef Habner Gomes

Com a estrela Michelin como objetivo e uma experiência de fine dining, o Mattë Lisboa não podia ter nada menos do que os melhores produtos, frescos e sazonais. Aqui são servidos peixes da costa portuguesa, camarão violeta do Algarve e lírio dos Açores, mas também vieiras Hokkaido do Japão, atum Balfego de Espanha, protagonistas que casam na perfeição com o arroz de sushi cuidadosamente preparado e temperado com vinagre Akasu ou com a melhor soja que vai provar, garantidamente.

"Temos uma soja mais especial, que servimos pontualmente, que é envelhecida em barris de cerveja, 100% natural e sem qualquer corante. O que acontece é que, dentro dos barris, a bactéria da cerveja migra para a soja e fermenta-a. Isto resulta numa soja muito mais suave, que não rouba o sabor ao peixe", explica Habner Gomes, que garante que também a soja regular é diferente.

"A nossa soja mais normal é temperada com caldo de peixe, não misturamos água. E também acabamos por servir uma quantidade muito pequena ao cliente, não só para evitar o desperdício, mas também para garantir que o sabor do peixe que servimos não é adulterado. O objetivo é temperar, não roubar o sabor ao mergulhar a peça na soja. Mas claro que, se acabar, servimos mais."

Mattë Lisboa
Mattë Lisboa O espaço é moderno e cosmopolita.

Num espaço tão virado para a experiência, a melhor forma de a conseguir a 100% é deixar-se totalmente nas mãos do chef e aderir ao menu omakase, uma proposta de degustação de 12 momentos numa viagem pelos sabores de Habner Gomes (125€ por pessoa sem bebidas).

Mas claro que pode também pedir à carta, do sashimi aos nigiris, sem esquecer pratos referência como temaki freestyle (14€), carpaccio de hamachi (18€), ika mentaiko (21€), uma lula fatiada servida com molho ponzu e ovas de bacalhau fumadas e o incrível hamachi shioyaki (11€), um prato que pisca o olho à sustentabilidade.

Mattë Lisboa
Mattë Lisboa Ika mentaiko (21€), uma lula fatiada servida com molho ponzu e ovas de bacalhau fumadas

Trata-se de um pescoço de lírio marinado e grelhado na robata, que é uma homenagem à cozinha japonesa. "Nada vai fora nas cozinhas deles, por isso é um prato muito sustentável e que representa isso mesmo", conclui o chef brasileiro.

Para além da carta regular, o Mattë Lisboa também tem uma oferta diferenciadora para o almoço, com menus como o sushi to sashimi (22€), com uma seleção de 19 peças, gyoza, missoshiro e bola de gelado, ou o ramen (22€), com ramen, gyoza e também bola de gelado, entre outras opções.

Morada: Calçada Marquês de Abrantes 22, Lisboa
Telefone: 914 682 234
Horário: 12h30-23h (fecha à 00h30 às sextas-feiras e abre apenas para jantar ao sábado, até à 00h30; encerra ao domingo e segunda-feira)