Era uma massa amarela a adivinhar ser fresca, parecia bem envolta em queijo, com cogumelos e trufa em quantidades surpreendentes para as desilusões que a vida gastronómica nos trouxe e tinha um ovo cozinhado até ao ponto em que está mesmo a pedir que uma faca lhe divida a gema a meio.

Foi com esta imagem que tivemos que lidar desde que o Pasta Non Basta abriu o seu primeiro restaurante, em abril de 2017. O spaguetonni al tartufo ganhou uma fama tal que não havia instagram de Lisboa que não fizesse questão de ter a sua imagem no feed. "Foi de tal maneira que até pensamos em não trazer esse prato para o novo restaurante", admite Frederico Seixas, um dos sócios do projeto, mais adepto das novidades que fez questão de criar para o novo restaurante, aberto desde 7 de junho.

Morada: Rua 4 Infantaria, 26A, Lisboa
Horário: 12h-15h, 19h-22h30 (23h30 à sexta, fim de semana em horário contínuo)

No Memoria — assim, sem acento, à italiana — nota-se a ligação aos Pasta non Basta — uma espécie de irmãos mais velhos — ainda que aqui a antiguidade seja um posto que o restaurante quer assumir como seu.

"Queremos que este seja um espaço que remeta à infância, aos almoços de domingo em casa dos avós", explica Frederico. É por isso que, além do espaço para circularem crianças e carrinhos de bebé estar assegurado, os guardanapos são de pano e enrolados numa argola e há pratos que são servidos numa travessa para que todos se possam servir. E assim, de repente, estou em casa.

O restaurante conta com uma esplanada e está prestes a ganhar um bar
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Para dividir, nas tais doses familiares, há Linguini Nero a Pescatore (38€ para 3 pessoas/14€ individual), Fettucine com Pollpete (30€ para 3 pessoas /11€ individual) e Spaghetti al Pomodoro e Burrata (35€ para 3 pessoas/13€ individual). É este último que nos é pousado na mesa, com as três burratas numa luta por se manterem no topo do esparguete bem envolvido em tomate. Mas tomate daquele que vem da terra e não do frasco, ainda se lembram? É aqui que António Oliveira e Silva interrompe e, a dar ainda mais o ar de casa de avô, garante que estamos a comer bem e pergunta de precisamos de mais alguma coisa. Elogiamos o prato principal e lembramos-lhe o sabor autêntico dos legumes que vieram de entrada. "São bons não são?", pergunta, a confirmar aquilo que já sabe.

É que, a par dos restaurantes, o grupo tem uma horta biológica em Mafra de onde vêm quase todos os legumes usados na confeção dos pratos. "Em breve queremos ter produção suficiente para vender cabazes aos nossos clientes", acrescenta Frederico.

Clássicos vs. novidades

Na luta entre trazer os clássicos e dar a conhecer os novos pratos, Frederico lá nos deixa provar o tal esparguete com trufa e cogumelos. Vale uma fotografia, claro, mas admitimos que o sabor forte faz deste prato o ideal para dividir. Assim, também deixa espaço para a seleção de queijos e enchidos da carta. Há presunto, mortadela, burrata e parmigiano reggiano, sempre acompanhados de grissinis e focaccia.

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Há novidades nos vinhos, com algumas marcas biológicas, e também nos cocktails, onde fizeram uma aposta forte no aperitivo Spritz, com cinco variações que vão do amargo ao doce, para se ajustarem a todos os momentos da refeição.

Alguém disse doce? É que chegou a parte da sobremesa e, como estamos na casa dos avós, cheira-nos que hoje não comemos fruta. O tiramisú (5€) é servido com uma colher da travessa comum e perguntam sempre: "Mais um bocadinho?". Mas também há torta de chocolate e gelado (5€), tarte de limão merengada (6€) e pudim della Nonna (4€).

A conta chega dentro de um livro antigo, junto a um cartão de visita. Reparamos que a palavra 'Memoria' impressa naquele retângulo de boas vindas está esbatido, assim como está também o nome escrito na porta. "Achamos que fazia sentido, uma vez que a memória está associado a algo que desvanece, a algo cinzento", explica Frederico.

Mas sentados debaixo de uma luz baixa e depois de uma pratada de esparguete com tomate, temos que discordar. Aqui a memória, além de vermelha, é quente, como o colo dos avós.