Há mais mundo para sentir na Rua da Boavista, em Lisboa: é que ao lado do mexicano Pistola y Corazon temos agora um bom pedaço de Ásia para provar. Do Japão à Tailândia, é ampla a área geográfica abrangida pelo novo asiático do Cais do Sodré. Chega à cidade pela mão dos irmãos Luís e Hugo Gasparinho e do chef Mário Sousa Borges — que já fez parte da equipa do European Asian Taste, em Estocolmo, na Suécia.
Da conceção do espaço à sua materialização, a rebeldia é a epígrafe por cima da qual nasce o Rebel Asian. Vejamos: a ideia irrompe numa viagem pela Ásia, em que Luís Gasparinho, acompanhado por um amigo, não fez grandes planos — durante este mês e meio, o itinerário era pensado no momento. Liberdade (e lá está, uma pitada de rebeldia) deram cunho à aventura, que semeou o projeto.
O plano ficou a germinar, até que o destino fez das suas: um antigo restaurante, o Natural Crave, fechou portas e deixou um espaço bem equipado para aproveitar. Os proprietários viram aqui uma chance e fizeram a coisa acontecer, sem grandes trabalhos. A cozinha estava montada, assim como toda a estrutura da sala — exceto o bar. As mesas e bancos corridos de madeira só tiveram de ser escurecidos e o resto foi decoração.
E aqui entramos noutra característica meia insurgente do Rebel Asian: juntam-se às alusões asiáticas — desde os candeeiros chineses, aos chapéus vietnamitas — as grades, os néons vermelhos e as paredes cinzentas, a condizer com o cunho industrial do Desordem Bar, da qual os dois irmãos também são sócios.
Entramos no terceiro ato de rebeldia: a carta. Seguindo a linha da cozinha de autor, inspirada na gastronomia da China, Japão e Tailândia, além de ter sido construída sobre o conceito da partilha, é inovadora, no sentido em que oferece pratos exclusivos, que não se encontram noutros sítios.
"Há muito para além dos baos e pad thays para provar. Não há nenhum prato na nossa carta que seja vendido noutro sítio", diz Luís Gasparinho. "Agarrámos numa série de pratos e adaptámos à nossa realidade e àquilo que seria agradável. Todos os pratos têm o nosso cunho, mas sem fugir aos processos e preparações originais, utilizando as especiarias e os produtos asiáticos. Todos os molhos e massas, por exemplo, são confeccionados aqui, seguindo as regras by the book."
Enquanto falamos estamos sentados à mesa e em cima do prato está um guardanapo com um caractere vermelho japonês. Rapidamente, salta-nos para o colo. É que enquanto conversamos começam a chegar as tigelas com os petiscos rebeldes. Nos quentes, provamos a tempura de milho (6€), a barriga de porco preto, com pimento, bok choy (6€), os famosos spring rolls (5€) e ainda uns camarões salteados com chilli, alho, soja e coentros (9€) — bem spicy, atenção. Do lado dos pratos à temperatura ambiente, temos salmão tapioca, com soja, salsifi e sésamo (7,50€), e ainda um tártaro com pickle chilly, amendoim e ovo (7,50€).
As doses, explica o sócio, são consideráveis e condizem com os preços — que aqui querem-se ajustadas ao ambiente, descontraídos e despreocupados. "Queremos ter um espaço para um público transversal, onde as pessoas se sintam bem, estejam à vontade, com pratos que as pessoas possam pagar e que gostem de comer", destaca Luís Gasparinho.
São assim os bad boys que não nos partem o coração: são rebeldes, mas fazem-nos sentir bem. São complexos, mas não são pretensiosos. São irreverentes, mas não são arrogantes. Estes são raros. Mas um já sabemos onde é que fica. Está no Cais do Sodré e pode ser partilhado.