Para quem dorme todos os dias de estores abertos, o conceito de passar a noite numa box é algo estranho. Contudo, o novo Zero Box Lodge Coimbra (que segue o conceito já instalado no Porto desde 2018) merecia uma visita para perceber o porquê de dormir numa box, ou cápsula, ter tanto sucesso no Japão. Como ir até ao continente asiático é mais complicado logisticamente, optámos por ir a Coimbra, o que até serve de pretexto para conhecer a cidade e sai mais barato. Verdadeiramente mais barato.
Decidimos partir de Lisboa num autocarro da Flixbus (empresa que lançou recentemente rotas a partir de 2,99€) com todas as comodidades: casa de banho, fichas para carregar o telemóvel e condutores com uma boa disposição contagiante.
À hora certa, antes das 13h, chegámos à cidade, mas não no momento ideal: chovia bem e ainda tínhamos um caminho razoável para percorrer até ao alojamento. Contudo, fez-se bem e a verdade é que a cidade cheia de história — desde a Biblioteca Joanina com obras dos séculos XVI e XVIII até à Quinta das Lágrimas — ganha outro encanto com o céu cinzento e a chuva a cair.
Ficámos enamorados pela cidade histórica, mas ao chegar ao Zero Box Lodge Coimbra (que abriu portas em agosto) foi como fazer uma viagem no tempo e aterrar no futuro: luzes néon, check in feito numa espécie de garagem e os quartos distribuídos por três andares, tal como são arrumados no Japão. A influência japonesa faz parte do conceito, assim como a recriação de uma gasolineira, explicou-nos Natália Silva, diretora-geral do Zero Box Lodge Coimbra. Logo à chegada, é-nos oferecida uma cerveja Super Bock com rosto Zero Box Lodge Coimbra para entrar na vida descontraída do alojamento junto ao rio Mondego.
O quarto com o “o melhor serviço de cabelo na cidade”
Mais descontraído ainda é o ambiente do quarto minimalista, com uma cama rente ao chão, iluminada por uma luz néon vermelha estilosa, e com apontamentos de um alojamento que se acha engraçadinho (e até é). “Choque. Toda a gente lava as duas mãos”, lê-se no gel de mãos, “queres aquela sensação de um novo carro?”, diz no gel de banho, e “o melhor serviço de cabelo na cidade”, no champô, são as frases que estão nos dispensadores da casa de banho — mais um apontamento moderno que reflete as preocupações ambientais (amenities, o vosso tempo está a acabar).
Mas vamos ao que interessa: a noite numa box. Deixamos já uma nota. Afinal, há uma janela, que só descobrimos antes de vir embora porque parece um acabamento do quarto. Contudo, vale o que vale, porque a vista é para os pisos dos quartos e a luz natural é próxima de zero.
Dormir completamente às escuras e num cubo foi das experiências mais engraçadas e prazerosas que já tivemos, para dizer a verdade. Em alguns hotéis e alojamentos os quartos, de tão grandes que são, tornam-se pouco aconchegantes. Este não só é acolhedor, como ideal para preguiçosos: está tudo à mão, desde a mala que pode ficar aos pés da cama às tomadas e interruptores na cabeceira da cama que apagam todas as luzes antes de irmos dormir.
Não ter luz natural a entrar por uma única janela é algo que só incomoda nos pensamentos de quem nunca experimentou este conceito e acha que se assemelha a estar dentro de um caixão, porque, na realidade, é bastante normal. Além disso, ao contrário das boxes japonesas, esta tem o luxo de incluir uma casa de banho.
Uma noite no ZERO Box Lodge Coimbra custa 55€.
Bixos e cocktails: como foi o jantar no restaurante do hotel
Miguel Torga escreveu “Bichos” e nós bebemo-los e comemo-los. Quer dizer, nem por isso, porque nenhum bicho foi comido durante o jantar no restaurante do Zero Box Lodge Coimbra, o Bixos.
A carta de cocktails dedica o nome de cada um a vários bichos do conto. Como preferíamos algo menos doce, recomendaram-nos (e bem) um aperitivo, o pisco sour, com pisco, limão e gema de ovo (7€). É forte, mas para os que gostam de algo mais suave e doce, indicaram-nos que o ideal seria o Miúra, com gin, tangerina, manjericão, limão e baunilha (7€). Foi o início perfeito num ambiente em que, apesar de haver um elefante na sala — metáfora usada quando existe um problema de que ninguém quer falar — afastou qualquer inquietação que tivéssemos.
O que se seguiu só ajudou a relaxar ainda mais: uma pinsa. Sim, pinsa e não pizza, porque a do Bixos é feita com "ingredientes naturais e vegetais, tem 50% menos energia, açúcar e carboidratos, 80% menos gordura e 100% menos colesterol", explica o restaurante. Tudo isto vai a altas temperaturas num forno de lenha e o resultado é surpreendentemente saboroso. Optámos pela pinsa de pesto, nozes e burrata (9€ a mais pequena), mas para os fãs de carne é famosa a de abóbora, guanciale (tipo de bacon não defumado italiano) e gorgonzola (desde 9,5€) e há outra mais irreverente de anchova, alcaparras, tomate e ricotta (desde 9,5€).
O café foi tomado nos sofás junto à lareira que estará acesa durante o inverno, prometeu (a meter-nos inveja por termos ido no início do outono) a diretora-geral do Zero Box Lodge Coimbra.
O ambiente do Bixos é extremamente agradável e convida a um jantar de amigos ou mesmo uma festa de aniversário. Isto porque o restaurante e o bar estão abertos ao almoço e jantar para hóspedes e visitantes (de quinta-feira a sábado das 12h30 às 3h; terça-feira e quarta-feira até às 2h, e domingo até às 4h).
No entanto, só os hóspedes têm oportunidade de ouvir o piano fantasma.
Surpreendido como nós? Ao pequeno-almoço, enquanto desfrutamos de um iogurte com fruta e granola ou de pães e croissants com guarnições — escolhas feitas à carta no check in — toca música moderna no piano programado por uma playlist, não precisando de ninguém para que as teclas se movam. Ir a Coimbra é como uma viagem constante no tempo: ora passado nos passeios, ora futuro no novo Zero.
*A MAGG ficou alojada a convite do Zero Box Lodge Coimbra.