Há muito que me questionava sobre como seria jantar às escuras no famoso evento da Fever. Talvez por falta de "date" nunca experimentei, mas cansei-me de esperar. Fui com uma amiga, até porque o evento é "Dining in the dark" e não algo como "Romantic Dinner". Ainda assim, não há como negar que este evento é composto essencialmente por casais.

Foram vários os que vi entrar para a experiência no restaurante Varanda Azul e a ocupar as cadeiras junto às mesas com velas artificiais ligadas. Sim, vi. Nesta altura ainda estava de olhos descobertos a apreciar o ambiente e a observar o primeiro serviço a chegar à mesa: um copo alto com uma bebida de boas-vindas.

A partir daqui, foi tudo surpresa — e continuará a sê-lo para os leitores, uma vez que o menu das próximas sessões neste restaurante vai manter-se e não queremos dar spoilers —, embora tivesse demorado ligeiramente a chegar. Não que o problema fosse fome, estávamos no primeiro turno das 19h (o segundo começaria às 21h), mas sim o facto de as vendas estarem colocadas enquanto passavam uns bons minutos de conversa sem sabores para descobrir.

Crítica. A pizza do Igor demora 48 horas a chegar ao forno. Mas a espera vale tãooo a pena
Crítica. A pizza do Igor demora 48 horas a chegar ao forno. Mas a espera vale tãooo a pena
Ver artigo

Mas antes de detalhar o momento em que veio o primeiro prato, é preciso esclarecer: ao contrário do que pensava, o jantar não é totalmente às escuras. É mais como conduzir numa noite de nevoeiro cerrado com os mínimos acesos. Vê-se muito pouco, neste caso, apenas vultos, mas o efeito pretendido está lá: da comida nem sinal. Pelos menos à vista, porque os cheiros estavam bem presentes logo na entrada, com queijo.

O primeiro instinto? Tocar. Por sorte, o primeiro toque foi em algo seco, uma espécie de tosta, que mesmo sem venda comeria com as mãos. Quanto aos outros elementos do prato, optei por levá-los à boca com faca e garfo. Já a entrada do menu vegetariano, que também veio para a mesa, foi pensada para comer com as mãos — uma mais valia, dado que era o primeiro contacto sem ver a comida e não foi preciso andar à sorte com os talheres.

A entrada foi talvez a minha parte favorita e ao mesmo tempo mais odiada. Isto porque não me perdoo, enquanto amante de queijo, pelo facto de não ter conseguido identificar o queijo servido, que desde a primeira dentada pensava que era queijo brie. A entrada estava saborosa e com várias texturas que começaram logo a desafiar os sentidos do paladar.

Como é jantar sem ver nada? É de partir da louça toda

As experiências "Dining in the dark", da Fever, têm sempre três opções de menu — o verde (vegetariano), o azul (peixe) e o vermelho (carne) —, sobre os quais são dadas algumas pistas no site para satisfazer os mais curiosos. Tivemos oportunidade de provar o menu verde e o azul, sendo que mal foi colocado o prato principal deste último à minha frente, senti o cheiro irreconhecível daquele que o restaurante chama de "velho conhecido dos mares".

Também o prato principal vegetariano tinha uma pista: "Sabores da Ásia com uma surpreendente sensação de barbecue". Contudo, apesar da longa descrição, quem me acompanhava conseguiu resumir o prato em três palavras e duas delas nem combinavam, já que diziam respeito a dois hidratos de carbono no mesmo prato. Ainda assim, foram bem sucedidos pelas texturas diferentes: um estaladiço e outro soltinho (quase que também somos peritos nas pistas).

Entre garfadas, cada participante da experiência ia bebendo um refrigerante ou vinho pedido à carta (as bebidas são à parte do jantar reservado através da Fever), mais um desafio para quem tem os olhos vendados. E não é que houve louça partida? A certa altura ouvimos um copo a cair no chão e o riso foi inevitável — no fundo, estávamos todos no mesmo barco e podia acontecer a qualquer um de nós. 

Imperiais grátis, música e novas pizzas na carta. Assim é o regresso do Oh!Sorte
Imperiais grátis, música e novas pizzas na carta. Assim é o regresso do Oh!Sorte
Ver artigo

O melhor de não vermos os pratos é que não sabemos que quantidade ainda resta, logo, não existe aquela tentação de terminar tudo, mesmo que já estejamos satisfeitos. No entanto, desengane-se que acha que esta vai ser a próxima dieta da moda: comer de olhos vendados uma vez é fazível, tornar regra deixa de ser uma experiência divertida para ser um momento de stresse.

Por fim, já a aproximar-se a hora do turno seguinte, veio a sobremesa. O que é que acham que fiz? Pus o dedo, claro, tal como uma criança faz com os bolos de aniversário. Podia ter calhado algo seco, como um bolo de chocolate, mas não: assim que toquei percebi que era altura de limpar a mão ao guardanapo e pegar na colher. Apesar de a sobremesa ter sido saborosa, a entrada já me tinha conquistado, mas o mesmo não aconteceu no menu vegetariano. Neste caso, apesar de simples, a sobremesa foi o auge da refeição.

Agora que já pude jantar de olhos vendados, confirmo aquilo que a Fever anuncia em cada um dos emblemáticos eventos: "Estudos mostram que 80% das pessoas comem com os olhos; com esse sentido eliminado, a teoria é que os outros sentidos — sobretudo paladar e olfato — assumem o controlo para elevar a refeição a um nível totalmente novo". Ainda que não tenha sentido o paladar mais apurado, o olfato, esse, andava constantemente à procura de novos cheiros e raramente se enganou.

A Fever já tem novas sessões "Dining in the dark" planeadas. A próxima no restaurante Varanda Azul, no Estádio do Restelo, vai acontecer a 1 e 8 de junho, às 19h e às 21h, mas outros restaurantes da cidade de Lisboa também acolhem a experiência. O Panorama Restaurante, no Sheraton Lisboa Hotel & Spa, é um deles, cujos jantares estão marcados para 3, 10 e 17 de junho. Já no Terraço Editorial, na Rua dos Fanqueiros, há quatro datas previstas: 21 e 28 de junho e 5 e 12 de julho. As experiências "Dining in the dark" da Fever custam 30€ por pessoa.