Pizza e Vinho. E queijos, e pão. E mais vinho. E a pena destas regras do desconfinamento, que nos atiram para fora dos restaurantes quando ainda só estamos no preâmbulo de uma apetitosa conversa, quando o que queríamos era comer mais um pedaço fofo de panetone, barrado com o mascarpone batido à mão, feito naquele dia pelo Igor.
Mas a vida em 2021 é mesmo assim e vamos antes dar graças por podermos finalmente sair de casa, jantar num restaurante, mas mesmo dentro de um restaurante, não numa esplanada exposta às intempéries.
Mariana Muñoz recebe-nos no Veramente Pizza e Vino com um sorriso e uma simpatia que nos fazem sentir logo em casa. Por sugestão do chef Igor Penna, que vem rapidamente cumprimentar-nos antes de voltar para a cozinha, começamos com uma Tavola Mista (21€).
Há crudo di Parma, Spianata piccante, mortadella (deliciosas fatias que se desfazem na boca, salpicadas com pedacinhos de pistachio e grãos de pimenta), um gorgonzola amanteigado e perfumado, fatias de Grana Padano, uma burrata cremosa, ideal para se ir comendo em pedaços de focaccia ainda morninha.
E se é em Itália que nos queremos sentir, é italiano que bebemos. Vinho branco, Falanghina Masseria Capoforte (22€), leve, frutado e que casa na perfeição com carnes fumadas e queijos.
Igor Penna, natural de Marano Ticino, província de Novara, trocou Itália por Portugal em 2018, "antes que fosse demasiado velho para deixar a sua zona de conforto", por sugestão de uma prima que já tinha vivido em Lisboa. Chegou, trabalhou no Valdo Gatti (Bairro Alto), depois iniciou-se como consultor da marca de farinhas 5 Stagioni, o que lhe permitiu conhecer Portugal de norte a sul. Em 2020, começou a procurar o lugar certo para abrir o seu primeiro restaurante e encontrou-o, mesmo no início da Avenida D. Carlos I, mesmo ao pé da Assembleia da República.
Perguntamos a Igor se há bons restaurantes italianos em Lisboa e o chef responde de forma pragmática. "Se houver italianos sentados à mesa, é porque é bom". Nem por acaso, minutos depois, um conterrâneo entra no restaurante e senta-se para jantar. Bom sinal.
E por falar em sinais, parece que já estamos a ver as nossas pizzas a saírem do forno. Cotto & Zolla (pomodoro San Marzano, mozzarella fiordilatte, cotto, gorgonzola e manjericão, 13,50€) e Pistacchio (mozzarella fiodilatte, mortadella, gorgonzola, grão de pistachio, manjericão, 14€).
Já comemos muitas pizzas. Más, boas, assim assim. Olvidáveis e inesquecíveis. Uma coisa distingue as de Igor das demais. A massa, uma textura indefinível, entre o fofo e o estaladiço, consistente mas não massuda ao ponto de se tornar indigesta.
O segredo, explica-nos Mariana Muñoz, está no processo de fermentação. "Entre 36 a 48 horas". Um trabalho de amor à massa, sem pressas, que resulta não só nas bases das pizzas mas também no pão e na focaccia que, apenas um reparo, podia estar um quê de nada mais bem cozida.
O Veramente Pizza e Vino abriu há duas semanas e já tem, como pudemos comprovar no quadro pendurado numa das paredes, pratos do dia. "Canneloni della Nonna, bebida e café, 12€", lê-se. Quase temos pena de não ter aparecido à hora de almoço.
E quando pensamos que já não conseguimos dar nem mais uma dentada, Mariana ainda traz para a mesa duas bruschettas (fatia de pão, tomate cherry, azeite extravirgem com alho, manjericão, 2,50€ cada unidade), só mesmo para experimentarmos o pão, feito com a mesma massa que fermenta "entre 36 a 48 horas". É, de facto, outra coisa, um pão feito com vagar, com uma crosta fina e boa de mastigar, o miolo denso, ligeiramente ácido e aromático.
Olhamos para o relógio e, caraças!, já são quase 22h30. Não houve tempo (na realidade, foi mais estômago) para sobremesa mas não conseguimos dizer não a uma fatia de panetone quentinha com o creme de mascarpone que Igor usa no seu tiramisù desconstruído (na realidade, desmontado, porque vem à mesa com os elementos base e cada um faz o seu). Delicioso. Dá vontade de levar o potinho para casa e comer à colherada. Talvez numa próxima visita.