Eram 19h30 em ponto quando chegámos a Tavira. Estacionámos e começámos a caminhada em direção ao restaurante que estava pronto para nos receber. Pelo caminho, apreciámos um pouco desta cidade algarvia que a cada canto parece ter uma história para contar. Depois de nos deslumbramos com pequenos apontamentos com os quais nos cruzávamos no caminho, entrámos no A Ver Tavira.

O final de tarde estava agradável (um típico final de tarde de verão algarvio) e como não podia deixar de ser, escolhemos a esplanada para apreciar não só o nosso jantar, como também a vista. Criado em 2006, este restaurante, localizado na zona histórica de Tavira, recebeu uns anos mais tarde o chef Luís Brito, que é agora o responsável por proporcionar a todos os que visitam este espaço uma verdadeira experiência gastronómica que junta tradição e inovação.

A Ver Tavira
créditos: Divulgação

O restaurante pertence ao Guia Michelin 2021 e aqui o conceito é assente no fine dining. Esta foi a minha primeira experiência num restaurante deste género, por isso, como podem calcular, a expectativa era alta. Antes de passar ao que realmente interessa (a comida), aproveito já para confirmar que ninguém sai insatisfeito ou com fome de um restaurante deste género. Eu, pelo menos, não saí.

A Ver Tavira
O chef Luís Brito é o responsável pelo A Ver Tavira créditos: Divulgação

O objetivo da visita foi experimentar os novos menus feitos a pensar no verão que estão disponíveis na carta até setembro.

A Ver Tavira celebra chegada do verão com menus que são uma verdadeira viagem de sabores
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Uma das opções é o menu "Reflexão" que integra tomate e sardinha, tartelete, azeitonas, cavala fumada, pão, azeite e manteiga — as entradas —, dois pratos principais (peixe de linha e sabores de cozido português) e duas sobremesas (amêndoa e mel e guloseimas). Tem o custo de 70€ por pessoa, ao qual acresce o valor de 45€ se optar por incluir a harmonização de vinhos.

A outra opção — que foi a que experimentámos — é a mais completa. Chama-se "A Viagem do Sabor" , tem o custo de 125€ por pessoa, com a possibilidade de incluir uma harmonização de vinho por um custo adicional de 75€. O preço não é para todos, bem sabemos, e, para quem nunca teve esta experiência, faz até questionar o que será que vem para a mesa para compensar este valor. A verdade é que garantimos que a experiência é única e mesmo que seja feita apenas uma vez na vida, vale muito a pena.

Para começar, chega-nos o pão da serra com barriga de porco. Pelo aspeto, nunca imaginaria o sabor que me esperava, mas isto foi o melhor pão com enchidos que alguma vez comi. Depois deste pequeno aperitivo, vem para a mesa o primeiro vinho. Um espumante fresco que serviu também para acompanhar as experiências seguintes.

A Ver Tavira

Cláudia Abrantes é a sommelier do restaurante, responsável pela escolha dos vinhos que casam na perfeição com os pratos que são servidos. É que no A Ver Tavira, os casamentos não se dão só à mesa. Cláudia e o chef Luís Brito partilham não só a vida profissional, como também a pessoal e, juntos, levam horas infinitas a pensar em todos os pormenores para que os clientes tenham uma experiência única.

Depois do pão com enchidos, surge uma das grandes surpresas da noite: macarons, uma mini tarte e uma oliveira. Apesar de esta ter sido a primeira vez num restaurante deste género, já sabia que nada do que vai para a mesa serve apenas para enfeitar, por isso aquela pequena árvore tinha de conter algum segredo.

A Ver Tavira
créditos: DR

Começámos por provar a tartelete (foi esta a ordem indicada) que tinha ovas secas de polvo, às quais o chef Luís chama de "caviar algarvio". Ótima, mas o melhor veio depois. Seguiram-se os "falsos macarons": assim nos foram apresentados por Cláudia e o nome não podia fazer mais sentido.

Ao pegar nesta bola achatada cor-de-rosa, esperamos, inevitavelmente, um sabor doce, mas eis que o palato foi completamente enganado. Sabia a tomate e sardinha, daquelas que nos fazem mergulhar em frescura e mar português. Depois, seguiu-se a apanha da azeitona à mesa, com uma verdadeira explosão de sabor a azeitona.

Depois destes pequenos momentos, chega o primeiro grande prato: carabineiro, cebola, lombo de boi marinado, caril e caviar. Enquanto nos explicavam o que estava a ser apresentado, íamos  pensando o que levava alguém a juntar carabineiro e lombo de boi numa só receita, mas o sabor superou as expectativas. Por esta altura, já vamos na segunda dose do Espumante Campolargo bruto 100% Cercial, a escolha para estas primeiras etapas.

A Ver Tavira
Carabineiro, cebola, lombo de boi marinado, caril e caviar. créditos: DR

Terminado o copo, segue-se mais um branco. Desta vez Herdade do Sabual Terras do Sado Vinhas Velhas de 1999. Foi escolhido para acompanhar a cavala fumada com alho negro, limão preto e caviar. Não sendo grande apreciadora de cavala, este foi o prato do qual menos gostei, mas uma vez mais temos de dar os parabéns pela apresentação. Acreditamos que, para quem gosta deste peixe, será mais uma experiência extraordinária.

Cavala
Cavala fumada com alho negro, limão preto e caviar. créditos: DR

Com o paladar já bem apurado, só nesta etapa nos chega à mesa o pão, a manteiga e o azeite (acompanhados de flor de sal).

A Ver Tavira
créditos: DR

Pegámos na faca e barrámos um pouco da manteiga caseira numa das fatias de pão, era demasiado doce, mas quando lhe juntámos uma pedra de sal, tudo passou a fazer sentido.

Estes eram elementos que serviam para acompanhar o resto da refeição, mas confesso que duraram pouco tempo na mesa. Depois de provar o melhor pão de sempre, mais um prato. Desta vez foi-nos servido um peixe de linha com arroz de Alcácer, molho de assado e kaffir. O vinho da harmonização foi um Quinta da Tabuadela 100% Encruzado do Dão (mais uma vez um sabor fresco, ideal para uma noite de verão).

A Ver Tavira
Peixe de linha com arroz de Alcácer, molho de assado e kaffir. créditos: DR

O dia já começava a escurecer, mas pela frente existiam três pratos para provar. "Se eu fosse uma cataplana" é o nome do último prato de peixe e, sem dúvida, o nosso preferido até agora (na categoria dos peixes).

A Ver Tavira
Se eu fosse uma cataplana créditos: DR

Camarão, percebe, ameijoa. Neste travessa azul havia de tudo e, de repente, mergulhámos no mar sem sair da mesa. Soube a Algarve, a casa. Para quem vive há alguns anos em Lisboa, é sempre bom regressar às origens e sentir o que de melhor esta região a sul do País tem para nos dar. Para acompanhar este prato, veio um Vulcano Rosé Vinhas Velhas da Ilha dos Açores.

De seguida, as carnes. "Sabores de um cozido Português" é como se chama o próximo prato que nos fez viajar do mar para o campo num abrir e fechar de olhos. 

A Ver Tavira
Sabores de um cozido Português DR

É difícil acreditar que nesta pequena amostra seja possível encontrar os sabores da típica refeição portuguesa que se caracteriza por ser apresentada em travessas cheias de tudo e mais alguma coisa. Sendo uma verdadeira apreciadora de cozido, estava com curiosidade. E sim, neste prato estavam todos os sabores de um bom cozido. Missão superada.

Para harmonizar, um Tiktak 2015 100% Merlot Lisboa. Desta vez um tinto escolhido por Cláudia que, uma vez mais, não desiludiu. Estava perfeito e, por isso, elegemos este como o terceiro melhor momento da noite.

Por esta altura, já tínhamos perdido a conta aos pratos que experimentámos e confesso que já estávamos saciados há muito tempo, mas nada de desperdício e devolver à cozinha um prato com restos de comida. Black angus, puré de aipo, cogumelos e jus marcou o último momento da noite. Estava delicioso, mas não superou o anterior. 

A Ver Tavira
Black angu, puré de aipo, cogumelos e jus DR

Chiquezas à parte, sair de um bom restaurante sem provar as sobremesas é pecado e aqui ainda nos esperavam duas criações do chef Luís.

A primeira sobremesa, uma espécie de mil folhas, sabia a amêndoa, amendoim, queijo de cabra e mel e vinha acompanhada por um gelado de maçã. Combinação que mais uma vez não desiludiu foi também o vinho. Um Late Harvest Espírito Lagoalva foi a escolha de Cláudia.

Por fim, chocolate. Esta espécie de bombom sabia também a frutos vermelhos e caramelo e vinha acompanha por um gelado de coco.

Por esta altura, o chef Luís já se tinha sentado à mesa connosco. Falámos do jantar, ficámos a conhecer um pouco da sua história, os sítios por onde passou e o que fez com que chegasse até ao A Ver Tavira — o restaurante que colocou no Guia de Estrela Michelin. Em conversa, explica que não sabia o que lhe faltava para que esta estrela lhe fosse atribuída, mas garantiu que o que o motiva a trabalhar mais e melhor todos os dias é ter a oportunidade de ver os clientes saírem satisfeitos do seu restaurante.

E foi justamente assim que saímos. Satisfeitos. Uma semana depois, continuamos a viajar em sabores — sinal de que o nome do menu não podia ter sido melhor escolhido e que o desejo do chef de agradar aos seus cliente estava cumprido.

No A Ver Tavira, além dos menus de degustação, são servidos também pratos à carta. As reservas podem ser feitas aqui. 

Morada: Largo Abu-Otmane, Calçada da Galeria, 13, Tavira
Telefone: 281 381 363
Horário: de terça a sábado das 10h às 23h e domingos das 10h às 15h

*A MAGG jantou no A Ver Tavira a convite do restaurante.