Depois de dois anos sem um projeto, Lucas Azevedo é o primeiro a admitir que sabia o que o público desejava. "Estava tudo à espera que eu abrisse um restaurante de sushi. E eu pensei que era justamente isso que não ia fazer aqui", refere o chef à MAGG sobre a abertura do Ryoshi, restaurante que abriu em abril deste ano na Rua da Boavista, em Lisboa, após a sua saída da barra japonesa do Praia no Parque, em novembro de 2022.

Cerca de seis meses depois da abertura do Ryoshi, o espaço faz sucesso e também trata de se reinventar constantemente, seja através da mudança frequente dos pratos da carta — uma liberdade que Lucas Azevedo considera importante — ou de eventos especiais, tal como o Nigiri Fest que aconteceu esta quarta-feira, 30 de outubro, ou o festival Rua da Boavista, no passado domingo, que dinamizou a rua onde se encontra o restaurante com provas de vinho, petiscos e música.

Ryoshi. Neste novo restaurante, Lucas Azevedo quer servir o melhor da comida japonesa e torná-la acessível
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Em abril, aquando da inauguração do Ryoshi, o chef explicava à MAGG que este foi um projeto muito pensado. "Já estava na minha cabeça há alguns anos, mas não era exatamente isto que eu estava a pensar fazer a seguir. Mas, enquanto cliente, percebi que faltava um restaurante japonês que servisse comida do dia a dia. Nem tudo tem de ser uma experiência com uma barra com 10 lugares, com um menu omakase. Entendo e faz todo o sentido que muitos espaços queiram seguir essa tendência, mas acho que entrámos aqui um bocadinho em espiral, começou a surgir muito e existiu um pouco o esquecimento de uma outra forma de trabalhar."

Lucas Azevedo
Lucas Azevedo

E é justamente do omakase, conceito em que um chef acaba por desenhar o menu para o cliente, que Lucas Azevedo deseja distanciar-se — tanto que uma das imagens chave do Ryoshi é o néon com as palavras omakase is dead, omakase está morto, em português.

Ryoshi
Ryoshi

"A pressão fica toda no chef, que tem essa obrigação de surpreender o cliente", diz-nos Lucas Azevedo durante o jantar onde a MAGG foi provar alguns dos pratos da carta. "Parece que nos esquecemos que podemos olhar para uma carta e perceber aquilo que realmente queremos comer."

E foi assim que avançámos sem medos — e com muita expetativa —  para a nossa experiência no Ryoshi, que apesar de não ser um espaço de grandes dimensões, consegue ter ambientes distintos entre a barra, as mesas e ainda um piso superior mais indicado para grupos. Mas, dica de amiga, não prescinda de ficar ao balcão, dado que consegue ver tudo o que está a acontecer e ainda trocar dois dedos de conversa com os chefs.

Mas vamos ao que interessa? Num jantar onde nada falhou e onde as nossas altas expetativas foram mais que alcançadas — e ainda conseguimos ser supreendidos com a oferta da garrafeira do restaurante e ficar rendidos ao Apelido Branco, um vinho alentejano —, escolhemos quatro pratos da atual carta do Ryoshi que nos levaram o coração.

Lingueirão

Ryoshi
Ryoshi

Um dos bivalves mais amados pelos portugueses ganha aqui uma adaptação dos deuses nas mãos de Lucas Azevedo. Cozinhados ao estilo japonês, mas com uma explosão de sabor, o lingueirão é confecionado com whisky e umeshu, um licor de ameixa japonesa, mas o sabor a mar e a frescura está lá todo, com um molho que é difícil descrever de tão delicioso. A dose custa 16€.

Oshizushi de peixe da nossa costa

Ryoshi
Ryoshi

Calma, que apesar deste não ser mais um restaurante de sushi, Lucas Azevedo não o ia privar de comer umas peças. No caso do oshizushi, que é feito com peixe do dia, este sushi onde o arroz é prensado (sendo mais seco do que aquele arroz que estamos habituados a comer nos nigiris, mas seco de uma forma boa, com muito sabor) é uma das maneiras mais elegantes e antigas de fazer sushi clássico.

Com um quick final de picante, graças à mostarda e ao wasabi (também muito diferente daquele que estamos habituados em restaurantes de sushi convencionais), este foi um dos nossos pratos favoritos. O oshizushi, feito sempre com peixe da costa portuguesa, custa 22€ a dose.

Bowl de arroz com carapau

Ryoshi
Ryoshi

Outro claro favorito. Nesta proposta, o arroz recebe a frescura do carapau, numa espécie de tártaro que deve ser envolvido com a gema de ovo que surge no topo do prato. Fresco, saboroso e a sensação que podíamos comer bowls atrás de bowls deste incrível prato. A bowl de arroz com carapau custa 14€.

Hot dog

Ryoshi
Ryoshi

Que nos perdoem os fãs de um dos pratos de maior sucesso de Lucas Azevedo, a Lucas-San K Sandwich (14€), que embora estivesse deliciosa, perdeu, na nossa humilde opinião, o duelo das sandes para o hot dog. Este é composto por uma salsicha arabiki no pão brioche mais fofinho de sempre e levemente tostado, e completado com uma maionese com kimichi picante que nos fez ir aos céus. O hot dog com kimchi mayo custa 15€.

Ryoshi
Ryoshi

No entanto, uma menção honrosa para a Lucas-San K Sandwich e um disclaimer: mesmo que seja esquisito, não torça o nariz à "carne especial", que é na verdade língua de vaca. Somos esquisitos, e embora não nos imaginemos a comer esta carne noutro contexto, nesta sandes é deliciosa.

Morada: Rua da Boavista 108, Lisboa
Telefone: 963 488 779
Horário: 18h30-1h30 (fecha ao domingo e à segunda-feira)