10 anos depois de ter pisado o palco do Rock in Rio Lisboa pela primeira vez, no Parque da Bela Vista, Ed Sheeran voltou a sentir a emoção dos fãs portugueses neste domingo, 16 de junho. Como cabeça de cartaz do segundo dia de um dos festivais mais esperados pelo público, muitos dos festivaleiros que estiveram presentes neste dia foram até ao recinto só para ouvir o artista britânico, que prometeu (e entregou) um espetáculo digno de ser ouvido.
Num dia em que a sensação térmica parecia bater nos 30ºC, a noite acabou por ser um pouco mais fresca, mas Ed Sheeran soube manter — e até subir — a temperatura no Parque Tejo. Num concerto feito apenas com a presença do artista em palco e da sua guitarra, os mais de 80 mil festivaleiros que estavam no recinto cantaram e dançaram até doer os pés ao som das cordas vocais de Ed Sheeran, que, verdade seja dita, fizeram um grande sucesso.
No entanto, nem tudo foi um mar de rosas. E não, não estamos a falar do concerto, mas sim do recinto desta 10.º edição do Rock in Rio Lisboa. A verdade é que todos já estavam habituados a ver o famoso Palco Mundo num vale, onde as condições para ver o artista, por muito pequenino que estivesse para a visão daqueles festivaleiros mais despreocupados, estavam lá todas. No novo Palco Mundo do Parque Tejo, a sensação é (bastante) diferente.
Com os stands das marcas à volta do palco principal, quem estiver mais para trás habilita-se a ficar com a visão cortada, conseguindo ver apenas metade de um dos ecrãs montados ao lado do Palco Mundo. O vale não é assim tão inclinado para os que estão mais atrás realmente consigam ver alguma coisa, e a tenda VIP, de tão grande e larga que é, também consegue obstruir a visão do público. A transmissão do som do concerto, no início, também não foi a melhor, visto que Ed Sheeran ficou completamente mudo durante alguns segundos, e o recinto ficou em silêncio. No entanto, o que nos vale é que o artista britânico soube como fazer esquecer isso tudo.
Numa alegria contagiante e a uma só voz, todos os êxitos do artista subiram com ele àquele palco, conseguindo trazer até Portugal uma verdadeira celebração da sua arte. Desde as suas baladas às canções mais mexidas, passando ainda pelos momentos em que Ed Sheeran já não era um artista pop e sim um rapper, o concerto de domingo ficou marcado pela maneira como o músico conseguiu entregar um espetáculo não só de música, como de luzes, ambiente e, acima de tudo, emoções. Eis alguns destaques do concerto.
1. Ed Sheeran encantou apenas com uma guitarra e um looper
É verdade. O artista britânico subiu ao Palco Tejo com dois microfones, uma guitarra, um pequeno piano e um looper, um instrumento com pedal que grava acordes em tempo real, que depois podem ser usados para complementar a melodia da canção. Perante mais de 80 mil pessoas, Ed Sheeran foi o único em cima do palco, mas conseguiu preenchê-lo todo com a sua energia.
O trabalho que foi preciso fazer para conseguir isto tudo sozinho teve a sua recompensa quando todos os festivaleiros cantaram numa só voz com o artista todos os seus êxitos, onde explicou, entre canções, que "tudo o que acontece no concerto é ao vivo e sem recurso a faixas pré-gravadas", graças ao looper. O início de algumas das suas canções demoravam um pouco a começar pois Ed Sheeran tinha de fazer primeiro os acordes e gravá-los para depois utilizá-los nos momentos certos, mas nem isso fez com que o público perdesse o interesse.
“Olá, Lisboa!”, começou por dizer, enquanto cantava “Castle on the Hill”, música que inclusive gravou no cimo do Castelo de São Jorge durante a sua passagem pelo País. Foram mais de 160 mil olhos em cima do artista britânico, que soube encantar o público apenas com a sua guitarra, como já vem habituando todos os seus fãs graças à sua simplicidade na indústria da música (algo que lhe valeu bastante pela reação do público ao concerto). Para nós, Ed Sheeran soube conduzir um autêntico espetáculo a solo, e ninguém sentiu falta do apoio de uma banda em palco — o artista sabe ser a sua própria banda.
2. A (imensa) interação com o público foi surpreendente e cativante
Ed Sheeran passou toda a hora e meia de concerto — fora as vezes em que estava a cantar, como é claro — a interagir com o público. Ora fosse a pedir para cantar “oooooo eeeeee” ora fosse a explicar no que é que tinha pensado enquanto gravava os seus maiores êxitos, a verdade é que o artista britânico foi um dos cantores do segundo dia de festival que mais conseguiu cativar o público nesse aspeto.
Foram várias as vezes em que pedia aos festivaleiros para cantarem os refrões das canções com ele, assim como para saltarem até doer os pés nas músicas mais mexidas. Houve até tempo para Ed Sheeran agradecer à mulher presente no ecrã que se encontrava a fazer língua gestual, pedindo para todo o público aplaudir a sua profissão. Os pequenos gestos, a explicar que a música “Eyes Closed” tinha ganhado um outro significado depois de o seu melhor amigo morrer, tornaram o espetáculo ainda mais emocionante. Aliás, todo o concerto conseguiu despertar várias emoções, entre lágrimas e risos, o que fez com que o ambiente parecesse ainda mais real e comovente.
Além disso, Ed Sheeran soube trazer outro ambiente com os inesperados fogos de artifício enquanto cantava, levando ainda mais ao rubro todos os festivaleiros — que, no final, ainda mais energéticos ficaram com o espetáculo gigante de fogo de artifício. Sozinho em palco, a sua interação, fosse de que maneira fosse, não passou, certamente, despercebida, e a tentativa de dizer algumas palavras em português como “olá”, “obrigada” e, tantas vezes, um “Lisboa” carregado, foram bastante carinhosas.
3. Um concerto que mais parecia (no bom sentido) um shuffle do Spotify - e com direito a rap
Já todos sabíamos que a maioria das músicas de Ed Sheeran se tornaram em autênticos êxitos assim que saíram. No entanto, o concerto do artista no Rock in Rio Lisboa veio comprovar isso e muito mais — na verdade, não há uma alma que não saiba pelo menos algumas frases de todas (e sim, mesmo todas) as canções que o músico britânico tocou. Começando com “Castle on the Hill” e terminando com a mais que famosa “Bad Habits”, o espetáculo que Ed Sheeran deu foi um autêntico shuffle das plataformas de música, e não foi, de todo, um desagrado.
Isso só prova que o britânico é um dos maiores artistas desta geração, e que em cada canto alguém vai conhecer de trás para a frente os seus maiores êxitos. Mesmo nas músicas menos conhecidas, como “Take It Back” ou “Loyal”, existia sempre alguém a cantar em plenos pulmões, elevando a energia do público. Além disso, Ed Sheeran chegou mesmo a incorporar este “shuffle”, ao combinar várias músicas seguidas através do seu looper.
E não, não tivemos direito a só músicas pop — onde Ed Sheeran é exímio. O artista britânico também sabe dar uns passinhos de dança no mundo do rap, e fez isso mesmo acontecer no Rock in Rio. Entre palavras ditas umas em cima das outras e uma respiração altamente controlada, houve quem se surpreendesse pela positiva com este lado do artista, que mostra, uma vez mais, a sua versatilidade.
Desde o homem que está atrás do microfone até àquele que escreve as canções, o artista britânico deu um presente ao público e cantou em plenos pulmões “Love Yourself”, música de Justin Bieber da qual é letrista. E sim, também não faltaram os seus grandes êxitos “Perfect”, “Thinking Out Loud”, “Shivers” e até “Shape of You”. Se não foi a este espetáculo, onde foi dada primazia à boa disposição e diversão, misturadas com boa música, aconselhamos, vivamente, a ir a outro concerto de Ed Sheeran — mas talvez não no Parque Tejo.