"Maria" não é "Eu, Georgina". Temos de esclarecer isso logo à priori, não vão as pessoas achar que se trata de um conteúdo do filão doc reality, cheio de momentos engraçados, discussões meio encenadas, luxo, viagens, flashes e malas caríssimas.
Se tivéssemos de comparar os dois documentários, centrados no dia a dia de Maria Cerqueira Gomes e de Georgina Rodríguez, diríamos que "Eu, Georgina" é um filme de ação e "Maria" é a MyZen TV. No primeiro passa-se muita coisa (por vezes demasiada) no segundo não se passa quase nada. O que não é necessariamente mau, mas também não é bom.
"Maria", que chegou à Prime Video esta quarta-feira, 18 de setembro, é um documentário produzido pela Hola! Media, empresa que pertence à octogenária revista espanhola dedicada a temas del corazón. E é na "Hola!" onde aparece amiúde Cayetano Rivera, mediático toureiro espanhol que, de há quase dois anos a esta parte, namora com Maria Cerqueira Gomes. Seria de esperar que Cayetano aparecesse, nem que fosse de fugida, para dizer um "hola!" no filme documental. Mas nada. 'Aparece' num telefonema, atendido numa viagem de carro, e a apresentadora despacha-o enquanto o diabo esfrega um olho, com um "i'm in the car, ok?". Ok, nós sabemos que falar espanhol não é assim tão intuitivo quanto a malta pensa mas... em inglês? Estranho.
"Não estavas capaz, não vinhas" é o que apetece dizer ao fim de meia hora de documentário. Tudo é brando, tudo é politicamente correto, tudo corre a uma velocidade de cruzeiro. E sempre que parece que o filme nos vai dar um bombonzinho de drama - pumbas! -, Maria Cerqueira Gomes evita entrar por caminhos apertados e corta para mais um plano de ginásio, roupa, bastidores da TV ou algo do género.
Não faltam figuras de primeira linha em "Maria", desde José Eduardo Moniz a Cristina Ferreira, passando por Manuel Luís Goucha a Cláudio Ramos. No entanto, o que podia ter uma narrativa engraçada, intercalada com a sucessão de acontecimentos que transformaram Maria Cerqueira Gomes numa apresentadora de sucesso, acaba por ser uma sucessão de depoimentos politicamente corretos. Aliás, este filme, que corre vagarosamente do rio para o mar ao longo de 64 minutos, podia chamar-se exatamente assim, "Politicamente Correto". Há dificuldades mas está tudo bem, Maria está bem, os filhos estão bem, não se passa nada.
Particularmente ciosa da sua vida privada, Maria Cerqueira Gomes revelou na festa de estreia que demorou "10 meses" até aceitar fazer este documentário. Ao ver o resultado final, questionamo-nos verdadeiramente porque o fez. E ainda mais no curto segmento onde a apresentadora surge com o filho mais novo, João, de 6 anos. A criança ou surge de costas ou com a cara desfocada, uma exigência de Maria Cerqueira Gomes para preservar a identidade do filho. O que percebemos completamente. O que já é estranho é aquele passeio e aquele lanche tristonho, num banco de jardim, com garrafa de água e Kinder Bueno.
Os únicos momentos verdadeiramente engraçados são os passados em família, em particular com a avó Dulce, a única pessoa com quem Maria Cerqueira Gomes parece estar genuinamente descontraída e à vontade, e que nos dá pérolas de sabedoria como "os homens bonitos dão muito trabalho". Grande Dulce, estamos contigo.
Em abono de Maria Cerqueira Gomes, a grande falha aqui parece-nos ser de narrativa e edição, não tanto de conteúdo. Este tipo de filme documental assente na vida de uma figura pública (seja ela interessante ou não) vive de como se apresenta nos primeiros minutos, na forma como agarra o telespectador. Pode ser com uma situação inusitada, pode ser pela grandiosidade, pode ser pelo suspense. O problema de "Maria" é exatamente esse. É que, quando começa, não se passa nada. E é difícil uma pessoa ficar entusiasmada com a visão de um carro a ser atestado numa estação de serviço.