Este domingo, 3 de setembro, a SIC estreou a sua grande aposta para a rentrée televisiva, "Casados no Paraíso". Apresentado por Cláudia Vieira, o programa é também o "guerreiro" escolhido na luta contra o "Big Brother", na TVI, que regressa à grelha da estação de Queluz de Baixo já no próximo domingo, 10. E depois de uma atenta análise à estreia de mais um dating show, temos veredicto? Claro que sim. É bom? Decididamente que não.

Cláudia Vieira desvenda pormenores sobre "Casados no Paraíso". "Senti-me madrinha daqueles casamentos"
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"Casados no Paraíso" é um desastre — e ainda nem chegámos às tempestades que prometem desfazer a cabana dos participantes. E o problema começa logo na estrutura do programa, que é uma mistura mal amanhada de "Casados à Primeira Vista" com "Survivor".

O programa da SIC volta a ser baseado num formato internacional, dos mesmos criadores do "Casados". E apesar de não termos estado presentes na primeira vez que os executivos se reuniram para discutir uma nova ideia, acreditamos que possa ter sido algo minimamente parecido com isto:

-"Ora bem, casar pessoas com outras que não se conhecem de lado nenhum dá sempre molho, mas precisamos justificar o dinheiro que nos pagam. Talvez algo novo?

- Já ninguém faz coisas novas, o que está a dar é ir buscar ideias que deram resultado e fingir que somos inovadores. Epah, o 'Survivor' até era giro.

- É isso, casamos os desgraçados com pessoas que não conhecem na mesma, mas tentamos afogá-los, não lhes damos roupas e ainda arriscamos que sejam comidos por bicharada. Mas atenção, num sítio bonito, que agora o pessoal tem tudo drones e temos de os ajudar a rentabilizar os gastos e fazer umas imagens impecáveis."

Se não foi isto, andou lá perto, porque é justamente esta a imagem com que ficamos de "Casados no Paraíso": há que continuar a espremer até ao tutano a aposta certeira que é "Casados à Primeira Vista", tentar acrescentar algo, mas resultar tudo numa salganhada que ninguém percebe, e onde não conseguimos tirar da ideia que há muita gente ali com propósitos que nada têm que ver com encontrar o amor, mas talvez os seus cinco minutos de fama.

Casados no Paraíso
Cláudia Vieira é apresentadora do formato

Mas, antes de continuarmos, vale a pena recordar a premissa: cinco casais dão o nó nas Filipinas e são largados sozinhos numa ilha deserta, onde devem sobreviver aos desafios de viver com o básico dos básicos durante semanas, ao mesmo tempo que se conhecem e tentam criar uma ligação amorosa.

No meio do desastre, recordamos os três momentos que ainda nos deixaram mais confusos e que, mesmo que já ninguém aguente com o "Big Brother", com a sensação que Cristina Ferreira é capaz de ganhar sem dificuldades a liderança aos domingos.

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(E bem sabemos que ninguém nos perguntou nada, mas com um desgaste do formato na TVI e aquilo que nos parece uma aposta totalmente ao lado na SIC, o melhor que a RTP podia fazer era mandar o "Taskmaster" para o campeonato dos crescidos, aka, o domingo à noite. Não somos de intrigas, mas a dupla Palmeirim e Markl, tão bem apoiados por um novo elenco de luxo, composto por Gabriela Barros, Wandson, Madalena Abecasis e o incrível Cândido Costa, era bem capaz de fazer "estragos". Fica a dica, José Fragoso)

O que é que se passou com aquele speed dating?

Apesar de a premissa do programa se basear no casamento com um desconhecido, e ao contrário do "Casados à Primeira Vista", aqui os participantes conhecem-se antes numa ronda de encontros rápidos. Supostamente, e pelas imagens que nos são mostradas, arriscamos dizer que todos os homens conversam com todas as mulheres, e que cada par tem direito a uma breve conversa de três minutos.

Mas não. Assim que o tempo termina, tanto homens como mulheres levantam-se das cadeiras e ficam no meio da sala a rabiscar sabe-se lá o quê num caderno e com um ar totalmente perdido. Quem assiste ao programa fica sem perceber que raio de lógica há ali e, honestamente, quais são exatamente os critérios para formar os casais.

Não nos é nada explicado, e também percebemos que os dois casais que já vimos formados não eram propriamente a primeira escolha um do outro — Elsa não tinha qualquer recordação de Nuno e Carina até chegou a dizer que preferia outros dois participantes com quem tinha falado nos encontros.

Casados no Paraíso
Elsa e Nuno créditos: SIC

A meio do speed dating, a narração de Cláudia Vieira deixa-nos a saber que alguns participantes já terminaram os encontros, e vemos a apresentadora (ou a produção) a informar Nuno, Elsa, Carina e Luís que foram escolhidos. Porquê? Destacaram-se de que forma? Ninguém sabe.

Vemos a apresentadora e Cris Carvalho, a coach de relacionamentos que também faz parte do formato, a comentarem imagens do speed dating, mas nada nos indica que a especialista terá qualquer tipo de intervenção na escolha dos pares. E continuamos no vácuo.

Contas feitas, a sensação é que estes encontros não serviram para criar compatibilidades, mas sim polémicas, ao darem a oportunidade de os participantes se conhecerem, para depois acabarem por casá-los com outros que nem sequer causaram uma forte impressão.

Cláudia Vieira deixou os "Ídolos" para trás, mas trouxe consigo os cromos

Entre 2009 e 2012, Cláudia Vieira fazia dupla com João Manzarra na condução dos "Ídolos" que, na época, para além da busca por pessoas com talento para a música, dava igual destaque aos participantes que davam tiros ao lado, os chamados cromos. E embora na última edição do programa esse "segmento" tenha sido abandonado, dá-nos ideia que vieram parar aqui ao "Casados no Paraíso".

E temos um nome para lançar para a discussão: Luís. Desde o cabelo à beto/surfista que nunca, em tempo algum, deveria ser usado em alguém com mais de 13 anos, até aos lemas de vida, temos a certeza de estar perante um adolescente num corpo de um homem quase quarentão.

Casados no Paraíso
Carina e Luís créditos: Instagram/sic

"Tenho um lema de vida, que estou sempre a repetir (...) Os meus amigos já o associam a mim. 'Sempre a subir', estou sempre a dizer isso", diz Luís. Não, Luís, não roubes a frase a Manuela Moura Guedes, com o hit "Foram Cardos, Foram Prosas".

Para além de dizer "sempre a subir" até à exaustão — mesmo quando é mais sempre a descer —, define-se como "cavaleiro e cavalheiro", e assume realmente que é cavaleiro de profissão. Para elogiar a noiva, Carina, regressa à adolescência mais uma vez ao referir "estás mesmo gata", e todo o nosso corpo estremece de embaraço.

Mas, calma, que os momentos embaraçosos têm mais intervenientes. É que alguém acredita naquela filosofia de vida "shanti shanti" de Elsa, que num momento está a dizer "gratidão" a tudo (só melhorava se trocasse por gratiluz), pé descalço e muita calma na vida, para depois ficar aborrecida quando percebe que Nuno é baixo, gozar com ele à força toda ao afirmar que a cama pequena é feita à sua medida e ainda rir que nem uma perdida depois de ver o marido quase a afogar-se? Elsa, a nós não nos enganas, e quase que apostamos que estás a dar tudo para ganhar uma linha direta nas manhãs da SIC a substituir as cartas da Maria Helena.

Querem experiências de vida? Comprem um voucher da Odisseias, não casem com desconhecidos

O problema vem desde "Casados à Primeira Vista", e basta olhar para a quantidade de casais que chegaram ao fim da edições casados ou que acabara por divorciar-se pouco depois: muitas destas pessoas vão à procura de fama, visibilidade, quiçá até de umas férias pagas, mas a última coisa na sua checklist é realmente encontrar o amor às cegas.

Só isto explica que depois de grandes vídeos de apresentação, a alegar mundos e fundos de como só o amor importa, muitos destes participantes edifiquem uma barreira de distância com coisas simples como "é baixo", "não é loira", "é mais velho do que eu queria", e por aí fora. Meus amigo, a premissa é casar com desconhecidos, não é escolher à carta. Se eu quero um bife, adoro bife e me apetece um bife, não entro num restaurante a dizer ao chef "faça o que quiser". Tenham noção.

E depois há o outro lado da questão, o assumir logo à partida que o casamento não é o mais importante, tal como Carina, que descartou o enlace num depoimento, e afirmou que o que realmente a entusiasmava era a experiência de viver na ilha deserta. Amiga, aguarda então pelo regresso do "Survivor", que com tanta ideia mastigada, já faltou mais.

"Casados no Paraíso" é apresentado por Cláudia Vieira e transmitido aos domingos à noite, na SIC. Para além do programa semanal, há formatos diários de segunda-feira a sexta-feira.