"Experiencia Religiosa", esse grande hit de 1995, interpretado por Enrique Iglesias, foi a música que nos veio à cabeça quando chegou a hora de por em palavras a passagem pelo West Mambo. Porquê? Talvez por causa de uma das sobremesas, mas vai ter de ler até ao fim para perceber porquê (alerta clickbait à descarada).
O convite de Bernardo Agrela, chef e um dos donos do pacato restaurante, situado na zona do Saldanha / Picoas (é botar no Google Maps e chegam lá sem problema), estava pendente há umas semanas. Seduzidos pela palavra "sandes" (e por tudo o que pode encapsular esse sinónimo de pão com alguma coisa), rumámos ao West Mambo. Que, quando abriu, em 2019, era East Mambo. Depois veio a pandemia, fechou e, em abril de 2022, reabriu. Agora como West.
Este ou oeste, é aqui que, nas suas próprias palavras, Bernardo vem "para desanuviar". "Esta é a minha casa", conta-nos o chef de 32 anos que, juntamente com Camila Amaral (a também chef e cérebro por detrás de uma das mais espantosas sandes que já provámos... mas já lá vamos) e André Alves, detém o West Mambo.
É a este cantinho sossegado de mesas corridas que o também consultor do grupo Cultural Trend Lisbon (restaurante Povo, Music Box e Casa do Capitão, temporariamente fechada para obras) chama de "casa" e do qual, por umas horas, também fizemos a nossa.
O West Mambo tem tudo aquilo de que gostamos num sítio onde a ideia é comer à mão coisas boas, despretensiosas, de preferência acompanhadas de boa bebida. Poucas opções. Boas opções.
Há cerveja MUSA (e em breve haverá torneiras na parede junto às mesas) e apenas uma marca de vinho. Fomos para o vinho branco, Nat Cool (copo 4€, garrafa 24€), um novo projeto do grupo Niepoort, que tem como objetivo "criar vinhos leves e fáceis de beber". Confere.
De copo na mão, não estávamos à espera do que aí estava para vir. Um verdadeiro carnaval de sabores e sensações, de surpresas que não antevíamos, sobretudo porque não era disto que íamos à procura quando nos disseram "sandes".
O trio de starters (3,50€), vulgo entradas, trazia um cesto bem composto de pão lavash (tradicional da Turquia, fino e crocante) salpicado com spirulina e, como o nome indica, três opções: espinafres, requeijão e avelãs (cremoso e suave); feijão manteiga, aneto e óleo de aneto (a fazer lembrar bagels com salmão e queijo creme); e, o nosso favorito, húmus de lentilhas com alhos francês e coentros. Pungente, aromático e guloso.
Pedir uma sandes no West Mambo não é só pedir uma sandes. É ter uma sandes que vem com toda uma entourage de coisas boas. Vamos começar pelos acompanhamentos (3,50€). Mil folhas de batata, frito na perfeição a um ponto ridículo de estaladiço, banana frita e ainda couve kale tostada, salpicada com sementes de sésamo e sal (o único senão desta refeição, porque estava um quê de salgada).
Com o aligeirar das medidas impostas pela COVID-19, Bernardo e Camila puderam voltar a colocar em prática a partilha da tigela-maravilha que circula pela sala e cuja ideia é ser usada e partilhada pelos convivas. Lá dentro estão não dois, não três, mas sete frascos bojudos. Em cada um deles, um molho. Não de compra, não industrial, mas feito ali mesmo no West Mambo.
Para molhar a sandes, as batatas ou apenas para comer com os dedos, difícil foi escolher qual deles o melhor: trufa, picante (era maravilhoso), sésamo, ketchup de ruibarbo (doce e surpreendente), aquafaba (para os vegetarianos), wasabi e, por fim, o Especial da Camila, feito com folhas frescas de jambu, erva típica da região norte do Brasil. O nosso favorito? Não chegámos a um consenso... talvez tenhamos de voltar para decidir.
E com isto tudo falta-nos falar das sandes. O pão, que à primeira vista engana, porque parece um banal pão de hambúrguer, é delicioso, leve e tem o tamanho certo para transportar o conteúdo sem que haja derramamento de recheio ou, por oposição, embuchamento do comensal. Veio para a mesa uma sandes de camarão, que, na verdade, é uma homenagem às sandes de ovo que, em tempos menos hipster desta Lisboa, se serviam orgulhosamente nos tascos e pastelarias. A leveza está lá, a untuosidade do ovo também.
Vínhamos com a ideia da sandes de pernil mas fizemos um desvio para a opção vegan. E não, não nos desiludimos. A "carne", como nos explicou Camila, é feita de jaca, esse fruto tropical gigante e suculento, estava cozinhada nos sucos de cogumelos, reduzidos ao ponto de parecerem os suores de travessa de um assado carnívoro de domingo. Ficámos rendidos e com vontade de mais.
Hoje é quinta-feira, 19 de maio, e esta semana há sanduiche de moelas, como nos revelou antecipadamente Camila. Todas as sandes da carta custam 8,50€. Há as que ficam, as que rodam, as surpresas. É chegar, olhar para o quadro preto escrito a giz e descobrir.
Nem somos de doces, mas achámos graça aos nomes das duas sobremesas do West Mambo: Bolo da Sílvia (4,50€) e John's Parfait (4,50€), em homenagem às pessoas que serviram de cobaias quando as receitas estavam em fase de testes.
O Bolo da Sílvia é, na verdade, um petit gateau de caramelo salgado e o John's Parfait combina aipo, ruibarbo, favatonka e Estrelitas. Sim, Estrelitas. Essas Estrelitas. Um piscar de olho divertido aos miúdos dos anos 90, geração na qual nos incluímos. Agora queremos uma versão com Chocapic, se faz favor.