A 10 de outubro, a M80 estreou uma nova grelha que trouxe mudanças na programação, e, para quem já fazia parte da rádio, esta foi a oportunidade ideal para se reinventarem, adaptando-se a horários diferentes sem perder a autenticidade e a ligação que têm com quem as escuta diariamente. É neste cenário de novidades e continuidade que, sob o mote "3 mulheres, 3 vozes, 1 rádio", a MAGG esteve à conversa com Ana Moreira, Elsa Teixeira e Vanda Miranda, três trajetórias distintas, mas unidas por uma paixão comum: a rádio.
Entre experiências, histórias pessoais e muito amor pelo microfone, as três mostraram como é possível manter a sua identidade, mesmo em horários e formatos tão diferentes, criando sempre um espaço próximo e acolhedor para os ouvintes. No caso de Ana Moreira, a locutora juntou-se a Paulo Fernandes e Susana Romana nas 'Manhãs da M80', assumindo assim um dos horários mais ouvidos da estação (07h - 11h). Durante a conversa, falou sobre o ritmo frenético das manhãs e a energia necessária para começar o dia cedo, mantendo humor, leveza e uma ligação especial com o público.
Já Elsa Teixeira, que até 9 de outubro integrava a equipa das manhãs, conduz agora o ‘Regresso a Casa’ num estúdio sozinha (só em pessoa, que em espírito estão lá todos os ouvintes, das 16h às 19h), transformando o final do dia num momento de descontração, música e pequenas surpresas para quem chega a casa depois de um dia longo. Entre jogos, rubricas e participação de ouvintes, a locutora promete criar um espaço acolhedor e divertido, mostrando que a rádio também é feita de empatia e companhia.
Entre estes dois blocos, Vanda Miranda mantém a sua presença na faixa das 11h às 16h, consolidando-se como a voz oficial da M80 e garantindo que a rádio continua a bater ao ritmo certo durante a hora de almoço. Com a sua personalidade e experiência, a locutora vem para reforçar a identidade da estação, criando uma ligação próxima com quem a ouve e transformando música e palavras em momentos únicos ao longo do dia - até porque, para Vanda Miranda, o essencial é quem está atrás do microfone.
Ao longo da conversa, as três locutoras partilharam ainda a sua relação com a música, os desafios de adaptação aos novos horários, a forma como constroem programas memoráveis e os conselhos que dariam aos futuros locutores. Por detrás das vozes, Ana Moreira, Elsa Teixeira e Vanda Miranda revelam-se profissionais apaixonadas, criativas e, acima de tudo isso, humanas, que não só conduzem a rádio mas vivem mesmo para ela - e fazem com que os ouvintes sintam que fazem parte dessa casa.
A relação com a música da M80
A relação de cada uma com a música da M80 revela percursos distintos, marcados por memórias e influências muito próprias. Elsa Teixeira admitiu que não cresceu "com música em casa”, mas teve música à sua volta e ficava fascinada com este mundo. "Comecei nos anos 90, já na escola, a ouvir a rádio, na altura era a Rádio Cidade, que tocava as músicas que nós acabamos por tocar agora. Mas via nos videoclipes, na televisão, e ficava a dançar aquelas músicas rock, punha camisolas na cabeça a fingir que tinha um cabelão e dançava", contou.
Vanda Miranda, por outro lado, cresceu mergulhada em música. "Eu tenho um irmão mais velho, portanto cresci a ouvir o que ele ouvia", disse. “Sempre fui apaixonada por rock, por heavy metal, gosto das sonoridades mais pesadas", acrescentou, revelando ainda que a sua relação com a música é quase "académica". "Se pudesse tirar um curso superior de música, tirava. Mas não de instrumentos, da história da música, do posicionamento dos vários estilos", disse.
E também Ana Moreira falou da importância das influências familiares. "Os irmãos mais velhos são responsáveis pelas injeções de música", disse entre risos, revelando que foi o irmão quem a afastou dos ídolos pop da adolescência. "Ele fazia campanha contra os New Kids on the Block. Dizia 'Tu devias estar a ouvir isto e aquilo', e o 'isto e aquilo' eram os Metallica, os Guns N’ Roses, os Iron Maiden". A partir daí, descobriu outras sonoridades. "Smashing Pumpkins foi ele que me mostrou quando apareceu com o 'Siamese Dream'", acrescentou.
Com o tempo, seguiu o seu próprio caminho, mas foi quando chegou à M80 que redescobriu parte dessas memórias. "Foi um reencontro. Reencontrei paixões antigas. Não estamos a falar de Queen ou Guns, mas de outras coisas, e percebi que ainda me dizem qualquer coisa". Hoje, assume-se como uma verdadeira eclética, assim como Vanda e Elsa. "Tenho uma costela indie, mas adoro Italo Disco. Acho que é bom ser eclético. Adoro um Justin Timberlake, uma Rihanna, coisas que animam, e depois do outro lado está War on Drugs e sons mais alternativos".
A identidade e a adaptação (nos horários e na era das redes sociais)
Ao longo da sua carreira, Vanda Miranda passou por várias rádios e formatos, mas mantém uma convicção que se tornou o seu mantra: "A rádio é o que acontece entre as músicas". Como explicou, esta frase, que leu há muitos anos, reflete o que acredita ser o verdadeiro valor do ofício, explicando que a personalidade do locutor é que faz a diferença. "Isto não é dar uma importância máxima ao locutor, mas a música pode ser igual em todas as estações. Se quem lá está não faz a diferença, tanto faz escolher A como B como C".
Na M80, a comunicadora sente então que encontrou um espaço singular. "Nenhuma outra rádio tem este mix de clássicos como nós, mas as pessoas nunca me disseram 'gosto de ouvir a rádio por causa das músicas que você toca'. A música é natural. As pessoas gostam é de ouvir as pessoas". E é esse entendimento que a orienta quando prepara o seu programa. "Eu não penso na música, porque já sei que a música é um facto consumado. Preocupo-me com a minha performance, porque sei que é isso que vai fazer a diferença".
Mas a verdade é que a experiência ensinou Vanda Miranda também a lidar com a exposição e a crítica. "É impossível agradar a gregos e a troianos", reconheceu. "Vai haver quem te ame e quem te odeie. Isso é normal". No entanto, isso só faz com que a locutora leve o seu trabalho com ainda mais seriedade e dedicação. "Chego duas ou três horas antes da minha emissão, porque são cinco horas no ar. Faço a rádio que eu gostaria de ouvir se fosse ouvinte. O meu modo de operar é esse", acrescentou.
Já Ana Moreira viveu o desafio recente de assumir um dos horários mais ouvidos da estação. Acostumada a outros ritmos, confessou que a mudança exigiu uma nova rotina e outra energia. "Eu já tinha feito manhãs, mas sinto que estou diferente. A idade muda uma pessoa. E a maternidade também", disse. Antes, admite, custava-lhe acordar cedo. "Sofria horrores, porque queria ir ao Lux à quinta-feira, beber copos com os amigos, e depois tinha de acordar super cedo. Muitas vezes vinha com um olho aberto e outro fechado", contou.
Mas hoje encara as manhãs com outra leveza (e humor). "Agora já me habituei. Continuo a sair, mas até às nove da noite. E já não me custa tanto. Eu sou uma morning person — uma serigaita matinal. E agora tenho outra rotina: preparo a máquina de café na véspera, deixo a roupa pronta. Assim que o cheiro a café invade a cozinha, ganho logo um boost. Quando chego à rádio, já está a valer", acrescentou, com Vanda Miranda a concordar.
Elsa Teixeira, por sua vez, viveu uma transição inversa. Habituada a fazer manhãs, teve de reorganizar toda a sua vida pessoal para o novo horário. "Agora tenho de arranjar maneira de passar tudo para as manhãs. O problema é que as manhãs são muito mais curtas que as tardes", explicou. "Perdemos anos de vida no trânsito", acrescentou, a rir-se. Ainda assim, valoriza o apoio familiar que torna tudo possível. "Não faço isto sozinha. O meu marido tem um papel fundamental, porque não é só a minha vida que muda, é a dele também".
Entre risos, a locutora revelou que até o discurso mudou. "Agora é aprender a dizer 'boa tarde' em vez de 'bom dia'. De manhã, as pessoas estão diferentes. À tarde, a energia muda. É toda uma nova dinâmica", acrescentou. No entanto, não foi só esta a mudança que as três sofreram na rádio - a era das novas tecnologias e das redes sociais também foi algo a que Vanda Miranda, Elsa Teixeira e Ana Moreira tiveram de se adaptar. "Eu fui para a rádio porque a rádio era só voz. De repente começaram as fotografias no site, os blogs, e nunca mais parou", disse Elsa.
Mas confessou, divertida, que sempre foi "bicho do mato". "Eu só queria estar aqui, atrás do microfone. E percebi que já não pode ser assim. Agora a rádio é muito mais do que só uma voz". Já Vanda Miranda explicou que sempre foi "muito tímida", e que por isso é que gosta da rádio. "A magia era essa: ninguém conhecia a tua cara. Ainda hoje não gosto que me fotografem ou filmem. Mas sabemos que tem de ser", disse. Já Ana Moreira encarou essa exposição com mais leveza. "É da maneira que dou vazão à minha maquilhagem", brincou.
No entanto, apesar da nostalgia, Vanda Miranda reconheceu que a adaptação foi necessária e bem-sucedida. "A rádio é como o rock: a morte está sempre a ser declarada. E a verdade é que nos adaptámos muito bem às 'ameaças' das novas plataformas. Trouxemo-las para o nosso lado. Mostrámos às pessoas que podem ouvir a rádio e ver a rádio. Não foi um medo, foi uma reinvenção", acrescentou. No fundo, o percurso das três mostra que, por mais que a tecnologia mude, a rádio continua a ser feita de pessoas.
O que esperar dos novos programas
Com os novos horários (com exceção de Vanda, que não tem um novo horário mas é agora a voz da estação) cada locutora procura encontrar o seu próprio espaço no ar, sem perder a autenticidade que as torna reconhecíveis para os ouvintes. No entanto, Vanda Miranda admitiu que não pensa demasiado nisso. "Se eu já ando aqui há tanto tempo e as pessoas ainda não se fartaram de mim", disse. "Eu sou eu. Como é que eu seria diferente? Continuo como o bolo de chocolate, de vez em quando ponho uns morangos ou umas cerejas em cima", acrescentou.
Até porque a prioridade da comunicadora é criar conforto e continuidade para quem a escuta neste horário das 11h às 16h. "As pessoas vieram para aqui há tanto tempo e continuam. A música é sempre a mesma, mas eu tenho de ser diferente todos os dias. Nem penso no pico de audiência, penso é nas pessoas que estão ali, no seu conforto e na sua vontade de continuar ali". Já Ana Moreira, agora uma das primeiras vozes que se ouve pela manhã, descreveu o ritmo dentro do estúdio como frenético e intenso, mas é precisamente isso que quer dar ao programa.
"As manhãs passam mesmo a voar. Começámos às sete e eu só fui à casa de banho há bocado. Esqueci-me de encher a garrafa de água, ou seja, não bebi água durante quatro horas", disse, entre risos. No caso de Elsa Teixeira, agora que está sozinha em estúdio, o objetivo é apostar na diversão e na interatividade. "A música está lá, portanto, a garantia está dada. Depois é fazer uns perlimpimpins com a nossa personalidade, tendo em conta o momento de quem está a ouvir. Ao final do dia, é preciso animar mais um bocadinho", disse.
Para isso, a locutora quer começar a introduzir jogos, rubricas e participação familiar. "Herdei o 'Jogo da Música', e vou criar uma rubrica em que os pais ajudam a responder às perguntas das crianças. De vez em quando teremos convidados, pequenas coisas para entreter". Cada uma, com o seu estilo, consegue assim criar um espaço único e acolhedor, mostrando que a rádio continua a ser feita de pessoas e de momentos que vão muito além das músicas.
Os conselhos para os mais novos
E por fim, chegam os conselhos para as gerações mais novas, que um dia poderão vir a ter o mesmo reconhecimento que Ana Moreira, Vanda Miranda e Elsa Teixeira. Na opinião de Ana, os futuros locutores precisam de encarar a rádio como um objetivo em si mesmo. "Eu diria para não usar a rádio como rampa para outras coisas, nomeadamente pegadas digitais e por aí fora. Elas podem coexistir, mas não fazer da rádio o meio para chegar a outras freguesias. Fazer da rádio a estrela, o objetivo, a casa, o cantinho", disse.
Vanda Miranda reforça também a ideia de não se deixar deslumbrar pelo reconhecimento. "Nunca te deixes deslumbrar, porque a partir do momento em que passas a achar que isto é ser famoso, perdes a tua essência. Eu não estou aqui para ser famosa e conhecida, estou aqui para comunicar, que é aquilo que eu gosto de fazer. Não lido nada bem com pessoas deslumbradas. Isto vive da tua honestidade", acrescentou.
Já Elsa Teixeira incentiva os mais jovens a abraçar os desafios sem medo. "Deixa-te ir. Diz que sim aos desafios que te propuserem sempre e depois logo vês. É o que eu faço agora, mas até há pouco tempo travava um bocadinho cada vez que me lançavam uma escada. Antes de pensar nisso, eu digo sim e depois vou. E depois lido com os problemas". Para Elsa, a coragem de experimentar e aprender pelo caminho é o maior aliado de quem quer crescer na rádio, e nada melhor do que guardar os conselhos das três maiores vozes femininas da rádio portuguesa.