A rádio continua a ser uma das grandes companhias do dia a dia de milhões de portugueses, quer seja enquanto trabalham ou enquanto estão presos no trânsito, e poucos são os programas que conseguem combinar humor, música e conversa no mesmo bloco horário - algo que o "Tá Bonito", da RFM, já é perito a fazer. Hélder Tavares e Catarina Moreira são hoje uma das duplas mais ouvidas no País, conquistando ouvintes de todas as idades com a sua energia contagiante e química natural, e prometem continuar a alegrar todo o público.
Mas a notoriedade da dupla não surgiu por acaso. Antes de chegarem à RFM, Hélder Tavares e Catarina Moreira já tinham começado a fazer história na CidadeFM, o que conquistou um bom leque de ouvintes assíduos, mas foi a transição para "uma grande estação", como explicaram nesta entrevista, que trouxe um novo desafio: entranharem-se num público diferente e habituado a outros formatos. A mudança gerou curiosidade entre ouvintes e profissionais do setor, e rapidamente se tornou num dos temas da rádio mais comentados.
No entanto, a adaptação à RFM não se limitou ao público, uma vez que a dimensão maior da estação, a equipa alargada e a responsabilidade acrescida também marcaram o início desta nova fase. Com um horário nobre e uma audiência exigente, a dupla teve de equilibrar autenticidade, espontaneidade e profissionalismo, enquanto continuava a divertir e a surpreender quem os ouve todas as tardes - e, pelos comentários feitos por quem os ouve, a verdade é que estão a conseguir fazê-lo desde março deste ano, altura em que a dupla começou no "Tá Bonito".
Assim, Hélder Tavares e Catarina Moreira falam com a MAGG sobre a mudança, a química da dupla, os desafios do programa, e a forma como conseguiram conquistar e fidelizar ouvintes, partilhando não só a sua visão sobre a rádio mas também aquilo que significa estar à frente de um dos programas mais ouvidos do País. Até porque a dupla quebrou "muitas regras", como garante a locutora, e a promessa de o continuarem a fazer continua bem assente no seu trabalho.
A mudança, a surpresa e as audiências
Chegar à RFM foi, para Hélder e Catarina, entrar num universo diferente daquele a que estavam habituados na CidadeFM, uma vez que um dos maiores desafios que tiveram até ao momento foi mesmo conquistar o público mais velho, que não os conhecia: "Para mim é um desafio ter de conquistar os ouvintes de uma faixa etária que não nos conhecia. Para não falar que tivemos de conquistar pessoas que durante anos ouviram a mesma voz, muitas vezes o Paulo Fragoso. Ainda é um desafio, mas é um desafio de que eu gosto", disse Hélder Tavares.
Para Catarina, a adaptação também passou pelo aumento da equipa e pela maior dimensão da rádio, com o sentimento de que, agora, a responsabilidade também parece ser maior. "Na CidadeFM, tínhamos três pessoas para gerir toda a produção. Aqui, só para o vídeo temos o dobro de pessoas, e no início foi intimidante ter tanta gente a assistir ou a gravar conteúdo, muitas vezes mais velha que nós. Isso dá mais peso e responsabilidade", revelou a locutora.
E sim, a mudança do público e a resistência de alguns ouvintes no que toca às novas caras das tardes da RFM não passaram despercebidas. "O povo é muito resistente à mudança. Mudas a rotina e é logo 'não quero saber'. Mas eu gosto desse desafio. Ou continuas a ouvir e habituas-te, ou trocas de estação. A Catarina contou há dias a história de um jantar em que alguém dizia que odiava o programa da tarde da RFM. Depois de conversar com ela, ele deu uma oportunidade e ouviu", recordou Hélder, mostrando que até a rejeição inicial pode transformar-se em curiosidade.
Mas Catarina Moreira reforçou que conquistar ouvintes é um processo gradual, e que fazer rádio de tarde exige atenção contínua. "É normal que as pessoas resistam. O desafio é conquistar quem à partida nunca iria ouvir o programa. É giro conquistar pessoas dos 8 aos 80. Há miúdos que adoram e puxam os pais, que depois acabam por perceber. E a rádio aqui é diferente da televisão ou dos podcasts: as pessoas entram a meio, às vezes ouvem algo fora de contexto e acham que não faz sentido. Por isso é importante continuar a comunicar e a conquistar", explicou.
Quanto às audiências, e apesar de estarem numa das rádios mais ouvidas do País, Catarina Moreira e Hélder Tavares não pensam muito nisso, e a locutora acredita até que, se se der muita importância, a autenticidade é a primeira coisa a ir embora. "Acho perigoso dar demasiada importância às audiências. Há muitos fatores que não controlamos, por isso, para nós, o melhor é olhar, continuar o trabalho e confiar que as pessoas vão ficando". "O facto de as audiências em rádio saírem de dois em dois meses dá espaço para o ouvinte se habituar", acrescentou Hélder.
Uma dupla fora da caixa
O sucesso do "Tá Bonito" passa, para Hélder, por alguns fatores que tornam a dupla única. "O facto de a Catarina ter um sotaque muito carregado, o que não é expectável num horário nobre, acaba por ser diferenciador, mas também faz com que quem é do Norte se relacione e se sinta representado. Depois, o facto de eu rir desalmadamente. Eu sou de riso fácil e as pessoas acham muitas vezes que é forçado, mas não, eu sou assim", explicou Hélder, destacando como a personalidade de ambos e a autenticidade da comunicação fazem diferença para o público.
Além disso, Catarina ressaltou que a química entre os dois não é planeada, mas sim natural e perceptível todas as vezes que estão no ar. "Às vezes é difícil explicar esta química. Eu dou-me bem com muita gente e o Hélder também, mas quando vai para o ar não é igual. Pessoas da direção já nos disseram que fazemos muito bem um ao outro. Acho que tiramos o melhor proveito um do outro e conseguimos impor limites", acrescentou, dizendo que os ouvintes também gostam de explorar esta energia e gargalhada.
Mas não é por correr bem que a dupla não continua à procura da sua própria voz, uma vez que ainda têm um longo caminho por percorrer. Hélder acredita que, por mais anos que passem, nunca vai sentir que já encontrou a sua voz, sentindo sempre que pode "melhorar e crescer", mas Catarina acredita que o facto de já terem sido contratados como uma dupla foi uma grande vantagem. "Partimos de um lugar de privilégio. O que nos pediram para fazer aqui foi o mesmo. Por isso, acho que já temos um bocadinho mais a nossa voz do que qualquer pessoa numa nova estação", disse.
A ousadia da dupla e a quebra de algumas regras tradicionais da rádio também marcam o programa. "O Hélder tem uma forma de comunicar muito diferente, eu tenho um sotaque que não existia em rádio. Nós quebrámos muitas regras, não de propósito, não para fazer polémica, mas porque somos assim. Eu lembro-me de nós termos reuniões em que nos disseram os três temas que são proibidos de falar em rádio: o futebol, a religião e a política. E nós falamos de todos, porque eu acho que tudo se pode fazer com bom senso, com noção", disse Catarina.
"Eu até passo os áudios e brinco com a situação", continuou Hélder, que é assumidamente benfiquista. "O Benfica perde e quem não é do Benfica vai automaticamente gozar. Quando te permites brincar com a situação, permites que quem não é do teu clube também o faça de forma saudável. Há respeito e fair play, e as pessoas acabam por simpatizar com isso", acrescentou. Desta forma, a dupla reforça que o objetivo é divertir e animar os ouvintes, sem que existam segundas intenções. "A nossa função é essa, animar a vida das pessoas".
No entanto, mentem se disserem que não magoa ouvir certos comentários, especialmente de pessoas que, como referido logo no início da entrevista, não os conhecem nem gostam de ouvir o seu programa. "Às vezes, por ser um programa de entretenimento sobre as estupidezes da vida, sinto que as pessoas acham que somos rasos. Sinto que há muita gente que acha que nós somos só isto, que não temos profundidade nenhuma. O objetivo deste programa não é ser profundo, e às vezes custa-me um bocado, é injusto acharem que somos só dois parvos", disse Catarina.
A vida do "Tá Bonito" e o que vem aí
No final, chegar à RFM foi, para Hélder Tavares e Catarina Moreira, um choque de dimensão, mas um sonho (que nem sequer sabiam que tinham) tornado realidade. "Só percebi realmente o impacto nos primeiros dias em que cá cheguei. Sinto que aqui o que tu dizes propaga-se de forma surreal, porque eu e a Catarina já nos tínhamos tornado numa das caras da CidadeFM e aqui percebemos que há muito mais mundo do que aquele onde estávamos. É interessante perceber isso", disse Hélder.
Mas, para Catarina, esta transição também trouxe muitos desafios e oportunidades. "Felizmente as coisas estão a correr-nos bem. Se este programa tivesse um slogan, seria 'primeiro estranha-se, depois entranha-se'. Acho que a RFM está a arriscar, e arriscar pode correr mal, mas também pode correr bem. No início, os ouvintes ficaram a pensar 'quem são estas pessoas? A RFM enlouqueceu?'. Recebemos muito ódio, mas hoje recebemos mensagens de ouvintes a dizer que agora já não conseguem mudar de estação”, acrescentou.
"Nada nesta dupla foi planeado. Começámos à sorte. Muitas coisas surgiram do ar, como o grupo de Facebook que ainda hoje temos, ou os encontros de ouvintes nas sextas-feiras. Não vale a pena definir tudo em reuniões, o que dá certo é o que surge de forma natural", continuou Hélder, ao que Catarina acrescentou que, se calhar, deveria sim existir mais planeamento, mas que isso, certamente, não os iria fazer tão felizes. "Temos um lugar seguro, genuíno e natural, que surgiu do nada. Estar agora a meter pressões e objetivos rígidos podia estragar isso", disse.
E sobre o futuro e a identidade do programa, Catarina resumiu a fórmula da dupla. "Estou a pensar em química. Algo como energia ou diversão, que é muito isto. Energia, química" e "talvez surpresa", acrescentou Hélder, sendo estas três palavras aquilo que mais descreve o "Tá Bonito". "A rádio está aqui para animar a vida das pessoas. É isso que queremos transmitir todos os dias, sem perder a espontaneidade e a autenticidade", finalizou o locutor.