Coordenador de equipas e conteúdos do maior reality show do mundo, Miguel Leitão é a voz que faz as apresentadoras do “Big Brother” muitas das vezes reclamarem de que “está alguém a falar ao ouvido”. Conhecido como Micas para os amigos, Miguel Leitão subiu até ao cargo em que está hoje depois de passar vários anos em áreas diferentes daquela que sempre ambicionou, mas garante que deixar a indústria alimentar e apostar na comunicação foi a melhor decisão da sua vida.
Foi no Instituto Educativo do Juncal que Miguel Leitão começou a criar uma paixão por esta área. O seu percurso, sempre muito envolvido com a comunidade letiva, é algo de que se orgulha e que o lançou para a esfera da comunicação. “Fazia parte do grupo de teatro, organizava as grandes festas, fui o apresentador da escola. Sempre me estimulou e me fez sonhar muito”, disse Miguel Leitão, em conversa com a MAGG. Foi também na sua adolescência que criou o “Projeto Mikas”, um palhaço que visitava os hospitais e que levava o sorriso a mais de 100 mil crianças, que apenas deixou de lado quando entrou para a equipa do "Big Brother".
No entanto, a maioria dos adolescentes tem dúvidas sobre aquilo que quer ser "quando for grande", e o jovem coordenador não foi exceção. “Eu também passei por isso. Fui aluno até ao secundário de Técnico de Laboratório e fiz parte de um laboratório de engenharia alimentar, mas o bichinho sempre continuou aqui”, confessa.
Miguel Leitão gostava das artes e do espetáculo, mas sabia que era uma área incerta e que nem todos conseguiam vingar. “Convidaram-me para ir trabalhar numa empresa de indústria alimentar em Alcobaça, mas eu queria ir para a faculdade”. Apostou em si, e entrou na Universidade Lusófona de Lisboa no curso de Comunicação, Marketing e Publicidade.
“Saltei do certo para o incerto”, conta. No entanto, nada ficou perdido e Miguel Leitão confessa que foi a melhor decisão que tomou. “Foi a melhor coisa que fiz, os melhores anos da minha vida”. Aqui, o coordenador foi convidado para trabalhar na direção de marketing da faculdade, onde ficou durante seis anos. Trabalhou com a gestão de campanhas, protocolos e eventos internacionais, mas ainda não estava satisfeito. “Decidi olhar para a caixinha mágica e disse:'não, eu quero trabalhar em televisão'”. Assim, despediu-se e candidatou-se aos recursos humanos da TVI.
O problema: a vaga que tinham era um estágio. Na altura, o jovem coordenador pensou que estaria a desperdiçar um emprego estável com um bom ordenado para ir estagiar e foi também chamado de maluco várias vezes, tanto por amigos como por colegas na redação. Sem remuneração e com uma duração de apenas três meses, Miguel Leitão avançou e acredita que ganhou muito mais do que isso.
“Eu ganhei tudo o resto que é mais valioso. Tinha contacto direto com as pessoas com quem eu queria trabalhar”, diz. Um dos nomes citados foi Manuel Luís Goucha, que o coordenador admirava. “Tinha o homem da caixa mágica que eu admirava a falar comigo todos os dias, e isso para mim foi muito importante."
Miguel Leitão começou por contactar pessoas com histórias de vida marcantes para irem ao programa “Você na TV”, começando depois a fazer reportagens. Entretanto, a vaga que vinha a ditar o resto da sua vida abriu e o coordenador não deixou escapar.
“A Isabel Silva estava a sair do projeto ["Você na TV”], estava a dar o salto da sua carreira, e eu consegui ter ali uma vaga e entrei numa equipa que me formou e que me fez crescer”, conta Miguel. Na altura, Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira eram os apresentadores, e o programa já ia a um ritmo bastante acelerado. “Foi altamente desafiante entrar num projeto que já estava a todo o vapor há mais de 10 anos”, recorda. Nesta altura, o agora coordenador passou para a frente do ecrã para fazer, finalmente, aquilo que mais gostava: televisão.
“Portugal Aqui Vou Eu” estreou em 2019 e era a sua rubrica dentro do programa da manhã, onde durante um ano andou de norte a sul do País sozinho numa autocaravana a pesquisar e contar histórias emocionantes. “No dia a seguir estava no ar a minha história daquele dia, onde a televisão nunca tinha ido”, diz Miguel Leitão.
No entanto, nesse mesmo ano, a história da televisão portuguesa começou a revolucionar-se e Miguel Leitão foi desafiado a mostrar a extensão das suas capacidades. Ao decidir ir para a concorrência, Cristina Ferreira fez com que a TVI sentisse uma grande necessidade de se revolucionar. Para criar uma “nova televisão”, um programa líder de audiências vinha dar a força que a estação de Queluz de Baixo precisava para voltar à ribalta. “A TVI estava a investir numa nova forma de fazer televisão, e foi a partir daí que chegou o 'Big Brother 2020'”, refere Miguel.
“Pela primeira vez a casa era ao ar livre, com uma vista extraordinária, era uma casa do futuro. Com isto estávamos a formar novas equipas, e como tinha acabado de ter um programa em meu nome com muito impacto, acabei por me destacar”. Miguel Leitão foi convidado para integrar o novo "Big Brother" apresentado por Cláudio Ramos. Desde aí nunca mais parou, tendo já feito mais de 10 edições de reality shows na TVI.
“Hoje em dia sou coordenador de conteúdos e de equipas do 'Big Brother', o que me deixa cheio de orgulho”, diz. “Se me perguntassem se alguma vez eu acharia que estaria à frente de um projeto tão grande como este, a minha resposta seria logo que não”. No entanto, Miguel Leitão agarrou este projeto com unhas e dentes e toma agora as rédeas de tudo o que acontece nos programas diários do reality show.
O seu dia, enquanto coordenador, começa com uma mensagem de Lourdes Guerreiro, a sua diretora, a dizer como correram as audiências e se foram líderes durante a noite. Depois, começa todo o processo de preparação dos programas da tarde e da noite, com paragem para almoço e finalizado às duas da manhã. “Recebemos um relatório com quase 20 páginas sobre tudo o que aconteceu durante a noite, alguém da equipa escreve tudo ao segundo para não perdermos nada”, afirma. As histórias que serão passadas nos programas diários começam a ser construídas, em conjunto com as equipas que estão na casa.
Os três programas principais, “Última Hora”, conduzido por Alice Alves, “Diário”, por Mafalda Castro e, uma vez por semana, Cristina Ferreira, e o “Extra”, levado a cabo por Marta Cardoso, são os pontos-chave do dia, já que são os programas que fazem a compilação dos conteúdos. “ O 'Última Hora' tem sempre todas as novidades e no 'Diário' é onde se tomam muitas das decisões e se fazem os dilemas, acaba por ter as imagens fortes do dia por ser a hora em que está mais gente em casa”, comenta.
Para além de Miguel Leitão, uma equipa inteira está de manhã à noite a cortar imagens e a decidir os teasers e os momentos mais impactantes para que também a internet receba conteúdo a tempo e horas. “A união faz, sem dúvida, a força. Somos todos Big Brother”, diz. Para além destas responsabilidades, o coordenador tem também de acompanhar os apresentadores e manter os comentadores atualizados, para que possam comentar sobre tudo. “Estou sempre na régie ao ouvido das apresentadoras a dar indicações”, afirma.
No entanto, Miguel Leitão não esconde a carga de trabalho que ser coordenador de conteúdos e equipas carrega consigo. Para ele, este projeto desafiante “só se faz com muita entrega”. “São mais de quatro meses intensos em que vais à cama e tens o telemóvel ligado à espera que aconteça algo, mas o 'Big Brother' é um desgaste que se traduz em felicidade”, diz. Ainda assim, este desgaste não pareceu suficiente para Miguel Leitão, que lança esta terça-feira, 14 de novembro, o seu podcast “Personalidades da Comunicação”.
“Foi precisamente por estar envolvido num dos maiores projetos do mundo que me fez perceber que são as pessoas que estão à nossa volta que nos inspiram”, começa por dizer. “E se elas nos inspiram e nos fazem sonhar, porque não passar ainda mais tempo com elas? Eu não só posso estar com elas e conhecê-las melhor, como posso também partilhar o que elas me podem dar, e foi daí que veio o objetivo deste novo projeto”. O novo podcast pretende dar a conhecer novas caras da comunicação de todo o tipo de áreas, desde a televisão até às grandes empresas comerciais.
“A nossa visão não é suficiente. Temos uma visão sobre algo, mas várias pessoas podem ter outras várias visões e são todas válidas, e para isso precisamos de conversar. Estar frente a frente com alguém a discutir sobre o nosso mercado, a comunicação, a concorrência, para onde vamos, o que fazemos, o que vamos fazer, o que ainda podemos fazer, é, para mim, das coisas mais importantes”, refere o coordenador.
No podcast irão ser ouvidas as vozes de figuras portuguesas conhecidas mas também de familiares e amigos de Miguel Leitão, que o influenciaram e o ajudaram a subir na carreira. Para o primeiro episódio, o convidado é já um grande conhecido dos portugueses: Mário Ferreira, administrador da Media Capital.
No entanto, o coordenador tem como objetivo descolar-se do universo da TVI e da televisão e ir procurar líderes na comunicação de outros universos. No segundo episódio, que também já está disponível nas plataformas, o convidado é António Corte-Real, gestor de marketing da Sport Tv. “Temos por exemplo a Inês de Castro, diretora de recursos humanos da Worten Ibéria, e muitos outros. O universo da TVI vai estar até aqui um pouco descolado da realidade”, diz.
Agora, mesmo depois de todos os anos em que esteve em áreas que não aquela que ambicionava, Miguel Leitão está a “viver o sonho” com o seu papel no mundo da comunicação. Para as gerações futuras que queiram ter um percurso parecido, o coordenador deixa apenas um recado.
“Hoje em dia, qualquer um tem um telemóvel para gravar uma entrevista, uma conversa. Não precisas de ter uma desculpa para fazeres o que queres, às vezes uma coisa que parece tão complexa basta apenas começar a ser feita."