As Doce vão voltar a dar música e, desta vez, será através de uma nova série de televisão que promete continuar a história que começou a ser contada em "Bem Bom", o filme escrito por Filipa Martins e realizado por Patrícia Sequeira, que chegou às salas de cinema em julho.

Aquando da estreia do filme, adiado inúmeras vezes devido ao surto da COVID-19 no País, que obrigou ao encerramento das salas, Patrícia Sequeira falava destas Doce como um organismo que não se limitava apenas a uma produção. "Este é um projeto como um todo: é um filme, uma série e seria muito mais se não existisse uma pandemia. Foi daquelas empreitadas tão gigantes que, em vários momentos, se me apresentaram vários obstáculos que pensei não ser capaz de ultrapassar", contou a realizadora à MAGG.

A vontade de contar esta história foi tal que atores, produtores e técnicos estavam a lidar com dois guiões ao mesmo tempo.

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É que, enquanto ao longo das quase duas horas de filme se mostra a ascensão da banda e o fenómeno que criaram na sociedade portuguesa saída de mais de 40 anos de ditadura, a série da RTP, composta por um total de sete episódios, vai mais longe.

"No filme, acabámos por conhecer as Doce enquanto grupo e corpo único, mas na série vamos ter a oportunidade de ir um bocadinho mais a fundo na história de cada uma daquelas mulheres", explica-nos a atriz Bárbara Branco, que dá vida a Fátima Padinha em ambas as produções.

Ana Marta Ferreira, que no filme e na série interpreta Laura Diogo, fala de uma "produção [tematicamente] muito mais dura" quando comparada com o filme. "Na série, é aprofundada a parte pessoal de cada uma e conseguimos perceber melhor as situações" que passaram a fazer parte do quotidiano daquelas mulheres que, sob o escrutínio público, viram-se a braços com assuntos tão atuais como a propagação de notícias falsas.

O filme "Bem Bom" mostrou a formação da banda. A série vai mostrar o declínio

Um dos exemplos mais sonantes tem que ver com o rumor, abordado no filme, de que Reinaldo, na altura jogador do Benfica, terá conduzido a cantora às urgências depois de um envolvimento sexual. Nunca passou de uma mentira, mas o boato viralizou, e fez estragos, numa altura em que esse conceito ainda não era conhecido.

É nesse sentido que a atriz fala da série como uma "extensão daquilo que é a banda", na medida em que aborda, "de forma mais pormenorizada e específica, quem são aquelas mulheres e o que foi aquilo por que cada uma delas passou" enquanto membro integrante de uma das primeiras girls band da Europa — que, apesar disso, é fruto da mente de homens como o compositor Tozé Brito e Cláudio Condé, presidente da editora Polygram.

Da vitória no Festival da Canção ao declínio

Carolina Carvalho especifica, exatamente, as diferenças estruturais que separam a série do filme. "O filme acaba com a vitória no Festival da Canção [em 1982], enquanto a série arranca logo após esse momento para nos mostrar o que acontece depois disso", continua.

No fundo, vai até "ao fim da primeira formação da banda", acrescenta Lia Carvalho. "Acaba por ser um produto mais prolongado no tempo e também mais duro, claro", diz Carolina.

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E embora o filme mostre um Portugal ainda a preto e branco e a série continue a reforçar essa tonalidade, para Ana Marta Ferreira a mensagem é ainda mais profunda. Apesar de conceder que o filme e a série tratam temas "absolutamente atuais", como a propagação de notícias falsas, isso acontece porque, nas suas palavras, Portugal "está a retroceder" e parece ter laivos de intolerância para com o outro no ar.

"Ainda bem que esta história consegue mostrar isso e ainda bem que as pessoas conseguem ver que, afinal, estamos a andar para trás. Espero que seja uma mensagem para toda a gente, até porque será mais acentuada na série".

Na altura em que filmaram o filme, gravaram também a série e tinham dois guiões. Há cenas "um bocadinho diferentes" daquelas que aparecem no filme, continua Ana Marta Ferreira, mas que as atrizes se recusam a partilhar para não estragar a surpresa de quem vai ver.

"Vamos deixar que isso aguce a curiosidade do público", dizem-nos.

Tal como o filme, também a série vai contar com uma grande componente musical, através de atuações, ensaios e momentos em estúdio. O primeiro episódio de "Doce" estreia-se já a 2 de outubro, às 21 horas, na RTP1.

Depois disso, os restantes episódios serão disponibilizados semanalmente e sempre aos sábados. Do elenco fazem ainda parte nomes como José Mata, João Vicente, Igor Regalla, Hélder Agapito e Eduardo Breda.