Mitch é um pivô de televisão charmoso e uma das estrelas do canal americano para que trabalha há vários anos. A popularidade, no entanto, distorceu-lhe a bússola moral e ética que o guia, tornando-o num dos mulherengos mais prepotentes da estação, que trai, seduz e manipula mulheres, suas colegas, que se deixam levar por um convite que não põem em hipótese recusar. Que impacto é que isso terá nas suas carreiras? Não sabem, não querem saber. E arriscam.
Esse convite, claro, leva a uma cama na qual o corpo de uma mulher, inerte, é explorado, violado e aproveitado de forma doente por quem não percebe os sinais; por quem não entende o conceito de consentimento; por quem se mantém convicto de que não é um predador, protegido pelo corporativismo que o incentiva a continuar.
Esta é uma das cenas mais importantes de "The Morning Show", a primeira grande série da Apple TV+ que junta Jennifer Aniston e Steve Carell nos papéis principais enquanto pivôs de um dos maiores programas de daytime dos Estados Unidos.
Embora O momento aconteça na reta final da história, este é daqueles acontecimentos anunciados logo no primeiro episódio da série quando toda a equipa da estação se vê a braços com a revelação bombástica de que Mitch, a estrela do canal, é despedido depois de graves alegações de assédio e abuso sexual no trabalho.
O argumento da serie divide-se em várias sub-histórias — como a guerra das audiências ou a competição entre jornalistas que querem o estrelato que antes pertencia a Mitch —, mas o foco principal é as relações de poder no trabalho e como o corporativismo de uma empresa se sobrepõe à segurança e bem-estar dos seus empregados.
É que, sabe-se depois, aquela foi só uma das transgressões do pivot que tinha a proteção do CEO do grupo que, em troca de bons resultados comerciais, abafava as queixas aliciando quem o denuncia com avanços na carreira ou aumentos salariais.
"The Morning Show" é, por isso, talvez a mais interessante produção televisiva a encarar de frente, e a desconstruir, o movimento #MeToo, as relações de poder em contexto profissional e a forma como um predador sexual se convence de que não o é.
E ainda que a série não tenha sido nomeada para as categorias principais dos Emmys, valeu a Steve Carell e a Jennifer Aniston as nomeações para Melhor Ator e Melhor Atriz Principal em Série Dramática, respetivamente. E está inteiramente disponível na Apple TV+, o serviço de streaming da Apple que chegou a Portugal a novembro de 2019, para que possa começar já a ver antes da entrega dos prémios mais importantes da indústria da televisão — a 21 de setembro.
Mas há mais nomeados. É o caso de "Succession", a série de drama da HBO sobre o mundo dos ricos e poderosos, ou "Little Fires Everywhere", que conta com Reese Witherspoon no papel principal e que vai a jogo na categoria de Melhor Série.
No total, são 28 as séries nomeadas e que pode ver em Portugal. A única exceção é "The Handmaid's Tale" que, embora esteja nomeada para Melhor Série Dramática, só estreia a segunda temporada em Portugal a 8 de agosto. A terceira temporada está no No NOS Play, o serviço da NOS.