Ted Lasso é capaz de ser a única personagem da ficção atual que consegue olhar para as adversidades que lhe vão surgindo no caminho e sorrir. E fá-lo com uma ternura e uma genuinidade que quase nos inspira a ser pessoas melhores, mais tolerantes e menos mesquinhas. A personagem, interpretada por Jason Sudeikis, protagoniza a série a quem dá nome, um exclusivo da plataforma de streaming da Apple e que agora começa a ganhar o devido reconhecimento com a primeira nomeação aos Globos de Ouro na categoria de Melhor Série de Comédia.
Estreada em agosto de 2020, não podia ter surgido em melhor altura. Em Portugal, e no mundo, o impacto sanitário, económico e social da COVID-19 continuava a sentir-se e, na televisão, surgia a necessidade de continuar a apostar em ficção que não fosse preenchida por vilões sem escrúpulos ou odiosos, mesmo que carismáticos. Importava que as histórias densas e, regra geral, mais pesadas, fossem contrabalançadas com outras mais leves e descontraídas.
"Ted Lasso", assim como "The Good Place", que terminou em janeiro de 2020, veio ocupar esse lugar. Para Ted, o protagonista, nada do que possa acontecer alguma vez será capaz de lhe tirar a esperança. Para ele, está sempre tudo bem. Mesmo quando o casamento parece estar perto do fim; ou quando, não tendo qualquer experiência profissional em treinar equipas de futebol profissional, é contratado para dirigir uma equipa inglesa.
Sabemos, logo ao início, que a contratação, a mando da atual presidente do clube, é mesquinha e tem como objetivo levar o clube à ruína depois de o marido, o dono do clube, a ter traído com uma mulher muito mais jovem.
É a sua postura sempre otimista e contagiante que lhe permitem conquistar não só a presidente do clube, que o despreza sem este saber, mas também os colegas de equipa que se apercebem de que a contratação foi um erro e que Ted Lasso nunca será capaz de conseguir fazer com que a equipa suba na tabela de classificações. A verdade, no entanto, é que a equipa começa a ter sucesso com ele ao comando da equipa técnica — mesmo que, durante todo o processo, utilize métodos de treino pouco (ou nada) comuns.
Se houvesse uma lista que comportasse as séries mais fofinhas e bonitas do ano, "Ted Lasso" estaria sempre em primeiro lugar. A explicação é simples: em apenas dez episódios, com cerca de 30 minutos cada, há doses industriais de amor, bondade, empatia e tolerância.
Todos os conceitos que, de alguma forma, parecem ter sido ignorados na vida real com o início da pandemia, constroem e dão corpo a uma história que, após cada episódio, nos deixam aconchegados e menos receosos do caos que se vive lá fora.
Para contrastar com a feiura da conjuntura atual, teremos sempre "Ted Lasso" e a beleza das pequenas coisas que, movidos pelo nosso egoísmo e materialismo, escolhemos ignorar.