Uma série de contrastes que acompanha a transição dos loucos anos 20 para a ditadura em Portugal. É assim que João Lacerda Matos ("O Clube"), que assina o argumento da produção, descreve "Vento Norte", a nova grande série da RTP que tem estreia marcada para as 21 horas desta quarta-feira, 14 de abril.
Baseado em factos históricos, os dez episódios da série põem Braga, e a família Mello, no centro da ação. A transição que se sente no País à medida que caminha para o obscurantismo do Estado Novo é, também ela, refletida nas personagens principais.
"No arranque da série, o patriarca da família, Afonso Mello [interpretado por Almeno Gonçalves ] vive uma fase de grande dúvida", começa por dizer o argumentista à MAGG. Além das decisões difíceis e, por vezes, "ingénuas", que tem de tomar, vê-se a braços com a chegada do filho, gravemente ferido após a sua participação na Primeira Guerra Mundial.
"Tomaz [o filho ferido interpretado por Sisley Dias] serve como metáfora de um País que, marcado pela guerra, vive sem esperança", mas que aos poucos se vai tentando reerguer. Por oposição, temos Ricardo, interpretado por Rodrigo Tomaz, que "é um miúdo que só quer jogar à bola".
"Ele e os amigos servem como uma homenagem à fundação do Sporting Clube de Braga", que seria fundado em 1921. "Vento Norte" é, por isso, uma série que mistura "cultura, desporto, História, política e costumes" — até porque se passa em Braga, que nem sempre é retratada na ficção, embora tenha sido aí que "tiveram lugar alguns dos grandes debates acerca do que se estava a passar em Lisboa".
Da liberdade dos loucos anos 20 ao obscurantismo da ditadura em Portugal
"Tal como o sul não é apenas Lisboa, o norte não é apenas o Porto. Foi, aliás, na região norte do País que se deu a nossa revolução industrial e que sempre se manteve muito resistente à República". Por isso, continua Lacerda Matos, há uma ideia de contraste muito forte na história que será transportada para o ecrã.
Não só através da oposição entre a liberdade e o frenetismo dos loucos anos 20, mas entre o religioso e o profano que é encarnado por Mariana, a personagem de Joana de Verona. "De dia, Mariana passa o tempo com as freiras a cortar hóstias que, mais tarde, serão distribuídas pelos fieis. À noite, trabalha como prostituta no bordel da cidade."
Este contraste verosímil, diz o argumentista, foi pensado desde o início para dar corpo aos momentos "que ninguém conta da nossa História", ou seja, "como é que Portugal viveu os loucos anos 20 até, pelo menos, 1926".
A primeira temporada de "Vento Norte", composta por dez episódios, arranca com a chegada a Portugal daqueles que estiveram nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial até 1926.
Ainda que o primeiro episódio só tenha estreia marcada para as 21 horas desta quarta-feira, João Lacerda Matos diz que, "se o público gostar, há ideias, e expectativas", para dar continuidade aos dilemas da família Mello.
Realizada por João Cayatte, "Vento Norte" conta com um elenco composto por nomes como Iris Cayatte , António Melo, Ana Zanatti, Rodrigo Tomás, Natália Luísa e Patrícia Pinheiro.