E se descobrisse que uma parte significante da sua vida era mentira? Foi o que aconteceu com Robert, David e Eddy, três gémeos separados à nascença e que cresceram sem saberem da existência uns dos outros. 19 anos depois reencontraram-se e descobriram a razão bizarra de terem sido separados e adotados por famílias diferentes.
Tudo começou em 1980, quando Robert Shafran tinha 19 anos e começou a faculdade na SUNY Sullivan, em Nova Iorque. No primeiro dia de aulas todos pareciam conhecê-lo e chamavam-lhe Eddy. “Os rapazes davam-me palmadinhas nas costas e as raparigas abraçavam-me e cumprimentavam-me. Estavam a ser todos muito acolhedores”, contou Robert ao “Daily Mail”.
Foi o aluno Michael Domitz que fez a ligação. Este tinha partilhado o quarto com Eddy Galland no ano anterior e viu que ele e Robert eram demasiado semelhantes. Não só a cara era parecida como a estrutura, o cabelo e até as expressões. Assim que Domitz descobriu que os dois “estranhos parecidos” tinham nascido no mesmo dia e no mesmo ano, a primeira coisa que fez foi juntá-los.
Mais tarde, os “desconhecidos”, que agora tinham a certeza de que eram gémeos, descobriram sinais de nascença semelhantes. Além disso, ambos praticavam wrestling na faculdade e até gostavam dos mesmos filmes. Os registos de hospital confirmaram o inegável. Os gémeos estavam em todo o lado, no jornal, na televisão, o que levou ao reencontro com o terceiro irmão, David Kellman.
O trio rapidamente se tornou famoso em 1980, onde chegaram a participar em vários programas de televisão, inclusive um “cameo” no filme com Madonna, “Desesperadamente Procurando Susana” (1985). Chegaram também a abrir um restaurante chamado Triplets em Soho, Nova Iorque.
Um estudo bizarro esteve por detrás da separação
Tinha tudo para ser uma história feliz sobre o reencontro de três irmãos, não fosse a razão bizarra da separação à nascença.
Os trigémeos eram na verdade três sobreviventes de quádruplos (o quarto morreu à nascença, de acordo com a agência de adoção Louise Wise em Manhattan) e alvos de uma experiência liderada por Peter Neubauer (psiquiatra), Violet Bernard (psicóloga) e desenvolvido pela organização Child Development Center. O objetivo? Estudar de que forma a genética influencia os gémeos que crescem em ambientes socioeconómicos diferentes.
Os envolvidos no estudo, que foi apoiado pela agência de adoção, controlaram em que famílias os irmãos iriam ser adotados, omitiram informação sobre os pais biológicos e não disseram à família adotiva que as crianças tinham irmãos. Ao invés, revelaram que os mesmos estavam a ser alvo de um estudo sobre o desenvolvimento de crianças adotadas. Quase todos os meses durante 12 anos, as famílias adotivas dos trigémeos, sem o conhecimento umas das outras, visitavam Manhattan para fazerem testes de personalidade, inteligência e comportamento.
De modo a aceder aos efeitos dos ambientes socioeconómicos, os três rapazes foram adotados por famílias de três classes sociais diferentes. Contudo, o estudo foi dado como terminado em 1980 devido a problemas de ética e consentimento. Neubauer nunca publicou os resultados e todos os dados encontram-se selados num arquivo em Yale até 2066.
"Three Identical Strangers" é agora um filme
É caso para dizer "a minha vida dava um filme". O realizador Tim Wardle não perdeu a oportunidade de pegar nesta história única e fazer o documentário “Three Identical Strangers”, que estreou a 29 de junho nos Estados Unidos da América (ainda sem data anunciada para Portugal) e venceu o prémio U.S. Documentary Special Jury Award for Storytelling no Sundance Film Festival no início deste ano.
Após o sucesso no festival, as produtoras Film4 e Sidney Kimmel Entertainment lutaram pelos direitos da história dos trigémeos e vão adaptar o documentário numa longa-metragem, onde Wardle será produtor executivo. O diretor da Film4, Daniel Battsek, contou à "Variety" que ficaram "impressionados com o potencial dramático" e que estão "ansiosos pelo desafio de capturar a emoção e as revelações da jornada dos trigémeos".