Um estudo da Dove apresentado esta segunda-feira, 29 de maio, mostra que nove em cada 10 jovens já foi exposto a conteúdos de beleza tóxicos nas redes sociais. A marca reuniu um painel para discutir o tema desta investigação: o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens. Ao microfone estiveram Eduardo de Sá, Carolina Deslandes, a autora Catarina Raminhos e a influenciadora Catarina Cabrera.

A mesma investigação demonstra que os pais se sentem impotentes face aos conteúdos que os filhos consomem nas redes sociais, e que mais de metade acredita que as plataformas têm mais influência na autoestima e confiança dos filhos do que os próprios.

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Na ótica de Eduardo Sá, psicólogo e especialista em saúde e educação parental, este estudo e anos de observação em relação às redes sociais demonstram que estas “destroem as crianças em suaves prestações”. Já Maria Matos, representante da marca que conduziu a pesquisa, afirma que “os conteúdos tóxicos que encontramos muitas vezes na Internet estão a alimentar uma crise de saúde pública entre os adolescentes antes de estes atingirem a idade adulta”.

Catarina Raminhos e Carolina Deslandes

Para os pais e para quem quer contribuir para possíveis soluções, são aqui reunidas cinco das ideias apresentadas pelo painel, sobre as quais pode debater em casa e aplicar em família.

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1. Esperar até à idade apropriada para dar acesso

O estudo demonstra que os jovens portugueses começam a usar as redes sociais precocemente. Em Portugal, o número de jovens viciados nas redes sociais está acima da média europeia: nove em cada 10 começa a usar as redes sociais a partir dos 13 anos.

Carolina Cabrera contou à plateia que teve uma infância feliz e saudável. Mas a partir do momento em que se começou “a expor, começou a dar mais para o torto”. Neste contexto, ponderar sobre a idade apropriada para uma criança ter acesso a um telemóvel ou até às redes sociais é uma das soluções que o painel considera quando confrontado com estes números. Conforme afirma o psicólogo Eduardo Sá, “um telemóvel não é um instrumento indispensável na vida de uma criança”. Quando começa a ser inevitável a utilização de um dispositivo móvel, a segunda solução pode facilitar o processo.

2. Encontrar um equilíbrio no controlo de interações

Eduardo Sá sublinha que não entende “a distração dos pais, porque tudo se passa debaixo do nariz dos mesmos". "Na ânsia de evitarem dizer que não, estão a dar um empurrãozinho para que os filhos adoeçam com a ajuda deles”, afirma o especialista. No entanto, sabe-se que os pais têm muitas vezes rotinas aceleradas que nem sempre permitem um controlo tão acentuado, ou nem sempre é fácil saber os limites para o mesmo.

O especialista relembra que, da mesma maneira que os pais se mantêm a par dos amigos dos filhos – na vida real –, também é aceitável que o façam com amigos/seguidores no mundo online. Acrescenta também que ser autoritário “não é o mesmo que autoritarismo”, no sentido em que é possível para os educadores negarem algum acesso às redes sociais, desde que seja ponderado e pedagógico.

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3. Relembrar que as redes sociais criam ilusões

Catarina Cabrera, influenciadora digital, afirma que “hoje em dia nas redes sociais parece que tudo é perfeito". "A família é perfeita, o corpo e o namorado também. Mesmo se o dia de alguém estiver a ser horroroso, a pessoa tem 10 minutos de felicidade e só publica isso”, acrescenta.

Já o psicólogo garante que “quanto mais os jovens consomem redes sociais, na esperança de se tornarem bonitos, mais probabilidades têm de se sentirem feitos”. Adiciona também que, no que toca a autoestima e às redes sociais, “a maneira como as pessoas idealizam a sua beleza não é prejudicial, a forma como a validam é que é escorregadia”, diz Eduardo Sá.

4. Fazer parte do diálogo

Carolina Deslandes, cantora e mãe de três crianças, reforça que o facto de ter filhos ajuda a “aguçar o sentido de responsabilidade social” e explica que, mesmo quando vai contra a ideia de alguém e sabe que isso pode “levantar poeira”, aborda de forma educada. Esta pode ser a chave para uma conversa construtiva, em concreto sobre temas como “bodyshaming, saúde mental, empatia” e muitos outros que integram o universo das redes sociais.

Para além da importância de testemunhos individuais, o estudo comprovou que a maioria dos pais considera que “as marcas e os influenciadores também devem assumir o compromisso de publicar conteúdos de forma mais responsável”.

5. Reforçar a necessidade de leis para a esfera digital

Na investigação lê-se que “mais de 85% dos pais concorda que as redes sociais precisam de mudar para darem uma experiência mais positiva aos adolescentes” e que é necessário “adotar leis para responsabilizar as plataformas pelos danos que estão a causar à saúde mental dos jovens”.

Neste seguimento, a Dove lançou uma petição que pretendem levar ao Parlamento Europeu, na qual é proposta uma alteração legislativa na abordagem às redes sociais, para que existam regras e limites nas plataformas.

Maria Matos reflete que se “hoje em dia é seguro uma criança pegar no comando e ligar a televisão ao meio dia e não ver nada de problemático”, então é possível fazer o mesmo com as redes sociais. “Temos de tornar as redes sociais num ambiente seguro e saudável”, argumenta.

O estudo incluiu oito países: Portugal, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos e Canadá e foi conduzido com uma amostra de 1200 inquiridos, incluindo 500 pais e 700 jovens entre os 10 e os 17 anos. Os resultados foram divulgados no mesmo dia em que o parlamento recebeu jovens para estimular o debate acerca da saúde mental, numa sessão transmitida pela RTP.