Genevieve Kingston ainda guarda as cartas que a sua mãe escreveu para si, antes de morrer. Estas cartas fazem parte de uma iniciativa levada a cabo por Kristina Kingston, mãe da dramaturga e autora do livro de memórias "Did I Ever Tell You?", lançado em abril deste ano, que decidiu escrever mensagens para os aniversários e grandes marcos na vida dos seus filhos. Mas há duas que pode nunca vir a ler.

Atualmente com 35 anos, foi quando a mulher tinha apenas 3 que a progenitora foi diagnosticada com cancro da mama em estágio avançado, segundo o "Daily Mail". Foi tratada de todas as formas possíveis e imaginárias, mas, quatro anos mais depois, os médicos informaram-na do inevitável: o cancro era incurável, mas talvez tivesse mais um ano de vida, se fizesse tratamentos mais agressivos.

Nesta altura, a família, composta por Genevieve, os pais e o irmão mais velho, morava em Santa Rosa, Califórnia, onde os pais geriam uma empresa de bebidas nutricionais. Kristina deixou o trabalho para se dedicar a um novo projeto: escrever cartas para os aniversários e grandes marcos na vida dos seus filhos até que estes completassem 30 anos.

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A sala de jantar transformou-se numa autêntica oficina das artes. A mesa estava coberta de cartões, tesouras, cola, papel de embrulho e fitas. Além das cartas, Kristina gravou cassetes, nas quais se podia ouvi-la a ler as mensagens em voz alta, e guardou tudo em dois baús de cartão pintados à mão – um para cada filho.

Na altura, a dramaturga sentia ciúmes do facto de a mãe dedicar tanto tempo ao projeto. "As pessoas da nossa família também achavam estranho e questionavam se era a melhor forma de passar o tempo precioso que nos restava", lembra Genevieve, dizendo que, atualmente, acredita que a mãe foi "incrivelmente perspicaz".

kristina kingston
Kristina Kingston créditos: Instagram

Kristina morreu em fevereiro de 2001, quatro anos depois do período de vida que os médicos estabeleceram para si. Entretanto, já lá vão mais de 20 anos e é por isso que a artista diz que a mãe fez bem em ter perdido tempo a fazer todas aquelas cartas. "Já passaram 23 anos desde que a perdi e continuo a ter novas conversas com ela através das cartas que ainda não li", frisa.

A progenitora previu quase todos os momentos marcantes da vida da filha, mas nada podia antecipar um dos mais tristes de todos. Quando Genevieve tinha 22 anos, o pai suicidou-se sem deixar bilhete. "Foi um grande contraste entre a morte longa e preparada da minha mãe e o silêncio súbito do meu pai", conta, citada pela mesma publicação.

Foi por isso que, a certa altura, abrir as cartas se tornou um processo penoso para a mulher. "Era quase como se já não nos conhecêssemos. Ela não sabia o que me tinha acontecido, nem em quem eu tinha me tornado", explica, não descurando a "onda de gratidão e admiração pela coragem e convicção necessárias para executar este plano incrível".

genevieve e o marido
Genevieve e o namorado

Quando fez 30 anos, Genevieve abriu todas as cartas de aniversário, restando apenas três: uma de noivado, uma de casamento e uma de nascimento do primeiro filho. Apesar de estar numa relação há três anos, não acreditava no casamento, mas decidiu abrir a carta de noivado. Nas páginas, a mãe revelou que o seu próprio casamento tinha sido infeliz, mas destacou a importância do amor verdadeiro e do respeito mútuo.

Hoje, Genevieve, que ainda está com o seu companheiro, guarda as cartas de casamento e de nascimento do primeiro filho no mesmo baú pintado à mão. "De uma forma ou de outra, consegui o que precisava com o baú. Sei que sou e sempre fui amada, cuidada e considerada, e que a minha ligação com a minha mãe é sólida. Estou ansiosa por ler essas cartas um dia, mas já não me preocupo com quando as vou abrir. Estou apenas grata por tê-las", rematou, citada pelo tablóide.