Com Portugal a atingir números máximos de novos casos e mortes por COVID-19 frequentemente no mês de janeiro, o País entrou de novo em confinamento. As escolas não foram exceção, e o governo decretou o seu fecho a partir de sexta-feira, 22 de janeiro, embora a medida de encerramento dos estabelecimentos de ensino tenha sido considerada tardia por muitas esferas da sociedade.

Mas concorde-se ou não com este fecho — que deverá durar mais que os 15 dias inicialmente anunciados —, os especialistas são coerentes nos efeitos negativos que a medida terá nas crianças e jovens portugueses. A falta das brincadeiras e da socialização, aliadas a um aumento da exposição aos ecrãs, podem originar mais birras, desentendimentos e frustrações dos mais novos, avançam os testemunhos de profissionais recolhidos pela Lusa, citada pelo "Diário de Notícias".

Está em casa com os miúdos? Temos mais de 20 ideias de atividades, dos 3 aos 17 anos
Está em casa com os miúdos? Temos mais de 20 ideias de atividades, dos 3 aos 17 anos
Ver artigo

Em comparação com o confinamento de 2020, onde tudo era "desconhecido e uma incógnita", Raquel Raimundo, presidente da delegação regional do sul da Ordem dos Psicólogos, alerta que os mais jovens, atualmente, "já têm uma ideia do que é estar confinado". Assim, de acordo com a especialista, sentimentos como o medo, a angústia, a tristeza, a inquietação e a insegurança podem facilmente espoletar manifestações como birras e desentendimentos.

Inês Azevedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria, salienta que este novo confinamento pode deixar marcas no futuro das novas gerações, e sublinha que a situação é "dramática" e sem precedentes, ao mesmo tempo que acredita que o prolongamento do confinamento vai ter "impactos negativos, tanto na aprendizagem formal como informal" dos mais jovens.

Para além disso, os tempos que vivemos podem ter consequências na saúde mental e desenvolvimento destas faixas etárias, devido à "incompreensão do que se está a passar e o medo do desconhecido", refere a psicóloga Vera Ramalho à agência noticiosa, citada pelo "DN". "Os pais devem clarificar à criança porque voltámos para casa, explicando o que se passa com palavras adaptadas à sua idade, garantindo que elas compreendem", acrescenta a especialista.

Os perigos da distância

Apesar de as crianças estarem perto dos pais e dentro de portas, isso não é sinónimo que estejam completamente protegidas, dado que a maior exposição aos ecrãs, redes sociais e meios digitais podem potenciar o surgimento de situações de bullying online. "Mesmo à distância, podem começar a ser alvo de situações de 'cyberbullying' e é preciso que os pais estejam atentos às relações que eles estabelecem online", afirma a presidente da delegação regional do sul da Ordem dos Psicólogos.

A adição aos meios digitais, potenciada pelo confinamento, também pode ter reflexos em termos de saúde cardiovascular. "As redes já eram um problema que agora vai ser maior", assegura a pediatra Inês Azevedo, que também salienta os impactos na saúde mental das crianças e jovens, com os níveis de ansiedade, depressão e stresse a intensificarem-se.