Com Portugal a atingir números máximos de novos casos e mortes por COVID-19 frequentemente no mês de janeiro, o País entrou de novo em confinamento. As escolas não foram exceção, e o governo decretou o seu fecho a partir de sexta-feira, 22 de janeiro, embora a medida de encerramento dos estabelecimentos de ensino tenha sido considerada tardia por muitas esferas da sociedade.
Mas concorde-se ou não com este fecho — que deverá durar mais que os 15 dias inicialmente anunciados —, os especialistas são coerentes nos efeitos negativos que a medida terá nas crianças e jovens portugueses. A falta das brincadeiras e da socialização, aliadas a um aumento da exposição aos ecrãs, podem originar mais birras, desentendimentos e frustrações dos mais novos, avançam os testemunhos de profissionais recolhidos pela Lusa, citada pelo "Diário de Notícias".
Em comparação com o confinamento de 2020, onde tudo era "desconhecido e uma incógnita", Raquel Raimundo, presidente da delegação regional do sul da Ordem dos Psicólogos, alerta que os mais jovens, atualmente, "já têm uma ideia do que é estar confinado". Assim, de acordo com a especialista, sentimentos como o medo, a angústia, a tristeza, a inquietação e a insegurança podem facilmente espoletar manifestações como birras e desentendimentos.
Inês Azevedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria, salienta que este novo confinamento pode deixar marcas no futuro das novas gerações, e sublinha que a situação é "dramática" e sem precedentes, ao mesmo tempo que acredita que o prolongamento do confinamento vai ter "impactos negativos, tanto na aprendizagem formal como informal" dos mais jovens.
Para além disso, os tempos que vivemos podem ter consequências na saúde mental e desenvolvimento destas faixas etárias, devido à "incompreensão do que se está a passar e o medo do desconhecido", refere a psicóloga Vera Ramalho à agência noticiosa, citada pelo "DN". "Os pais devem clarificar à criança porque voltámos para casa, explicando o que se passa com palavras adaptadas à sua idade, garantindo que elas compreendem", acrescenta a especialista.
Os perigos da distância
Apesar de as crianças estarem perto dos pais e dentro de portas, isso não é sinónimo que estejam completamente protegidas, dado que a maior exposição aos ecrãs, redes sociais e meios digitais podem potenciar o surgimento de situações de bullying online. "Mesmo à distância, podem começar a ser alvo de situações de 'cyberbullying' e é preciso que os pais estejam atentos às relações que eles estabelecem online", afirma a presidente da delegação regional do sul da Ordem dos Psicólogos.
A adição aos meios digitais, potenciada pelo confinamento, também pode ter reflexos em termos de saúde cardiovascular. "As redes já eram um problema que agora vai ser maior", assegura a pediatra Inês Azevedo, que também salienta os impactos na saúde mental das crianças e jovens, com os níveis de ansiedade, depressão e stresse a intensificarem-se.