Para além da saúde, há algo que todos os pais desejam durante uma gravidez: ter um filho que durma bem. Por isso, quando uma criança começa a dormir horas seguidas no seu berço é como se os adultos tivessem ganho o Euromilhões. Mas calma, que mesmo que o seu bebé esteja há meses a dormir tranquilamente, é melhor não cantar vitória tão cedo — e tudo por causa das regressões de sono.
"O Tomás sempre dormiu bem. Desde bebé, era essa a regra", recorda Raquel Luís, 33 anos, professora de Inglês e mãe de um menino com 4. "Quando estava quase a fazer 2 anos, e já dormia na sua cama e no seu quarto, começou a acordar várias vezes durante a noite e a pedir para vir dormir connosco."
O filho de Raquel foi uma das muitas crianças que passou por uma regressão de sono, um termo comum que designa as "alterações ao padrão de sono que acontecem ao longo do crescimento e desenvolvimento dos mais novos", tal como explica à MAGG o pediatra Hugo Rodrigues. E apesar de crianças mais velhas poderem também ser atingidas por este fenómeno, é mais comum no primeiro ano de vida das crianças.
"As aquisições são enormes ao longo do primeiro ano, pelo que é normal que aconteçam algumas interferências também com o padrão de sono", salienta Hugo Rodrigues, referindo-se às grandes aquisições de desenvolvimento, um dos fatores que pode contribuir para uma regressão do sono das crianças. Mas há mais.
As grandes conquistas do seu bebé podem interferir com o sono
O pediatra Hugo Rodrigues é o primeiro a salientar que não existe uma única causa para as regressões de sono, mas sim "diversos factores que podem interferir com o padrão de sono" dos miúdos. "Em primeiro lugar, o desenvolvimento dito normal do sono das crianças ainda está a decorrer e assim podem existir alguns ajustes. Fatores como a ansiedade de separação dos pais, alterações nas rotinas e aquisições em termos de desenvolvimento, como já foi mencionado, também podem potenciar uma regressão."
Estes fatores estão intrinsecamente ligados a momentos-chave do desenvolvimento das crianças, sendo possível prever alturas em que as regressões do sono podem acontecer e ser mais comuns. "A estruturação das fases do sono acontece por volta dos 3, 4 meses, o que implica que o sono fique mais agitado e entrecortado. Geralmente é transitório e melhora naturalmente ao fim de um ou dois meses", salienta Hugo Rodrigues.
Aos 9 meses de idade dos bebés, "a ansiedade de separação, a dificuldade em separar-se da mãe e do pai, é mais notória", o que acaba por potenciar regressões de sono, bem como qualquer alteração nas rotinas, como "festas, férias ou mudanças de casa", alerta o pediatra.
Para além disso, os chamados saltos de desenvolvimento, as grandes conquistas dos nossos filhos, podem ser um marco para as perturbações no sono. "A capacidade de se aguentar sentado sem apoio (6-9 meses), de se aguentar de pé (9 meses), de gatinhar ou arrastar-se (9-12 meses) ou de dar os primeiros passos (12 meses) são alguns exemplos de marcos do desenvolvimento que podem condicionar o padrão de sono", esclarece Hugo Rodrigues.
Manter a calma e as rotinas: o segredo para lidar com as regressões de sono
No caso de Raquel e Tomás, a professora explica que sentiu uma frustração inicial, mas acabou por aceitar que seria um fenómeno passageiro. "Eu e o pai nunca quisemos que ele viesse dormir para a nossa cama. Nada contra, mas eu não me sinto confortável, acabo por não dormir bem. Foi altamente frustrante porque ele adormecia sempre na cama dele, acordava e acabava por ter de dormir connosco. Mas tentámos aceitar que era uma fase e havia de passar. Mantivemos rotinas, ele adormecia sempre na cama dele e esperámos pelo melhor."
Depois de um período de cerca de dois meses, com os pais a manterem as rotinas de sempre, Tomás voltou a dormir a noite toda, tranquilamente, e deixou de ir para a cama de Raquel e do companheiro — e a chave para o sucesso pode ter sido justamente a manutenção de hábitos.
"As rotinas são extremamente importantes e são elas que vão permitir que estas regressões sejam fenómenos transitórios e que melhorem com o tempo. Devem ser mantidas, reforçadas até", esclarece Hugo Rodrigues, que apela também à calma dos pais. "É preciso manter a calma, o que nem sempre é fácil. A privação de sono pode ter muita implicações em termos de dinâmica familiar, pelo que é muito importante tentar minimizar o impacto."
As regressões de sono podem durar "algumas semanas a resolver", tal como no caso de Tomás, mas o médico pediatra salienta que são geralmente transitórias. "Se não houver uma alteração drástica das rotinas, é uma situação que se resolve com o tempo", conclui Hugo Rodrigues.