A pandemia foi particularmente dura para crianças e professores. Foi preciso introduzir novas rotinas, quando todos tivemos que ficar em casa, e depois, trabalhar outras questões mais profundas, ligadas à socialização, ao cuidado, utilização do espaço, reintegração e adaptação a um mundo que está diferente.

A pensar nestas questões, a cooperativa PENHA SCO, com o apoio logístico da Junta de Freguesia da Penha de França, e com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa — Fundo de Emergência Social - Cultura, criou o (RE)INTEGRARTE, um projeto de arte-educação concebido por um coletivo de artistas. O objetivo passa por auxiliar as crianças  — sobretudo do primeiro ciclo, com idades entre 9 e 10 anos — a processar a transição entre isolamento e ressocialização, tendo como ferramenta a arte relacional e interdisciplinar.

A decorrer durante o durante o mês de dezembro, este projeto é constituído por cinco ateliês-performances pedagógico-artisticos em que os miúdos, guiados por artistas convidados de diversas áreas —artes visuais, dança, música e cinema —, embarcam numa série de atividades que os põe a refletir e trabalhar as questões sociais e afetivas: paragem e transição, a separação e inseparabilidade, risco, corpo e espaço, cuidado de si e cuidado do outro e, por fim, expansão.

penhasco
penhasco Francisca Veiga

"Quisemos elaborar este projeto com a ideia de criarmos práticas a partir de diversas disciplinas — artes visuais, dança, musica — como meio para propiciar uma experiência poética, lúdica e sensível, em relação a estes temas da separação e da inseparabilidade, do cuidado de si e do cuidado com outro, da relação do corpo com o espaço", explica à MAGG Julia Salem, natural de São Paulo, no Brasil, coordenadora do projeto em conjunto com Joana Levi.

Um dos aterliês-performance decorreu a 13 de dezembro, com o artista Gustavo Ciríaco, um dos cinco convidados para integrar o projeto: "Fez-se um desenho no chão e os miúdos dançavam à sua volta, com essa relação de estarem juntas, mas com distância", explica Júlia. "Aproximando-se e distanciando-se. O tema era sobre como cuidar de si e e como cuidar do outro."

A Enciclopédia Poética para inspirar os professores do país

O projeto (RE)INTEGRARTE tem dupla função: além de auxiliar as crianças no entendimento das questões sociais e afetivas impostas pela pandemia, irá culminar com a criação de uma Enciclopédia Poética, que servirá como material de apoio aos professores.

"Haverá referências bibliográficas que temos lido sobre filosofia, pedagogia ou prática artística. E também material complementar oferecido pelos artistas, assim como todo o material recolhido e desenvolvido por parte da coordenação", explica Júlia Salem.

"A enciclopédia junta material de reflexão, de expansão de conhecimento, com a possibilidade de criação de repertório próprio para, cada professor, à sua maneira, lidar com os alunos nesta fase."

penhasco
penhasco créditos: Francisca Veiga

Vão ser impressos e distribuídos, até ao final de março, 200 exemplares da Enciclopédia-Poética. Será a Junta de Freguesia da Penha de França a responsável por fazê-los chegar a escolas públicas e privadas.

Mas todos os outros professores do país terão acesso: "Vai ficar disponível num site, durante um ano, com todo o material, mas também links para poder ter um alcance maior ainda."

O projeto (RE)INTEGRARTE arrancou a 12 de dezembro com um atelier de Música com João Godinho e com um atelier audiovisual com Cláudia Alves. Seguiu-se a 13 de dezembro o atelier de dança com Gustavo Ciríaco e, neste sábado, 19 de dezembro, regressa a música, desta vez Ricardo Sá-Leão, e as artes visuais com Joana Gancho.

O projeto foi coordenado por Júlia Salem e Joana Levi, ambas com experiência vasta e diversificada em educação artística no Brasil. Contou também com a participação de Maria do Mar de Brito Lopes e Francisca Veiga, dupla que constituiu a equipa de apoio à pesquisa e produção