Quando é que foi a última vez que utilizou bolotas para cozinhar? A resposta, deixe-nos adivinhar, é nunca, certo? Mas está a perder muito. Apesar de ter pouca visibilidade, a bolota é uma fonte rica em nutrientes e um ingrediente capaz de dar ainda mais sabor a muitas receitas.
O dia da bolota celebrou-se a 10 de novembro e Trinca Bolotas, marca de vinhos alentejana que pede o nome emprestado a uma espécie autóctone portuguesa (o porco boloteiro), decidiu homenagear este superalimento com um evento de showcooking e degustação.
O objetivo da marca é poder dar, a longo prazo, uma nova vida a este alimento desvalorizado e esquecido e assumir-se como owner deste dia, promovendo-o e defendendo-o.
A MAGG esteve presente nesta manhã que contou com a presença de Joana Barrios e de Rafael Tonon.
O evento aconteceu no espaço House of Hope and Dreams, em Lisboa, e começou com uma conversa descontraída, informal e de partilha entre a artista Joana Barrios e Rafael Tonon, jornalista dedicado à gastronomia.
Natural de Montemor-o-Novo, Alentejo, Joana Barrios partilhou alguns dos benefícios do consumo da bolota – para a saúde e para o planeta – e as várias formas de aproveitar e explorar este ingrediente.
A história da bolota na alimentação dos portugueses
Tal como a avelã ou a noz, a bolota é um alimento que pode desdobrar-se em mil versões, como bebida vegetal ou farinha. Mas apesar das suas vantagens, só o vemos associado à alimentação de animais, nomeadamente, dos porcos.
E o motivo é simples, explica Rafael Tonon: “A bolota é um superalimento e dá à carne de porco mais sabor e características muito específicas, como a concentração de gordura, determinantes no posterior processo e período de cura.”
Mas se é tão benéfico para o porco, porque é que ainda não faz parte da nossa alimentação? Esta foi uma das perguntas a que Joana Barrios quis dar resposta. Apesar de ter nascido e crescido em Montemor-o-Novo, onde sempre viu a bolota como um alimento, sentiu a diferença assim que se mudou para Lisboa.
Primeiro, é importante percebermos que a bolota já fez parte da nossa alimentação, não há pouco tempo, mas há uns bons anos. A bolota era transformada em farinha e utilizada para produzir pão, mas o interesse comercial fez com que este hábito morresse.
“De repente, apareceu a produção de trigo mais intensiva e com excedentes, o que ajuda a construir o sistema económico em que vivemos hoje.” Isto é mais difícil com bolota, que é mais sazonal.
Mas, afinal, o que é que podemos fazer com este ingrediente? A resposta de Rafael Tonon é imediata: “Dá para fazer tudo. O mais óbvio, é utilizar a farinha da bolota para fazer biscoitos, bolos ou broa”, mas não fica por aqui. “Existe mel de bolota, uma espécie de café (assim chamado pelas semelhanças no processo), licor de bolota e até bombons deste fruto”.
A um primeiro olhar, a textura da bolota parece semelhante à de outros frutos secos, rígida. Mas a verdade é que este alimento é mais amanteigado e capaz de produzir até azeite.
Conclusão? Além de ser um superalimento, é capaz de fazer praticamente tudo o que as farinhas que utilizamos fazem. Com o olhar no futuro do planeta, Joana Barrios e Rafael Tonon falaram também do lado sustentável do consumo deste tipo de alimentos que, às vezes, estão mesmo ao lado de casa, mas tendemos a ignorar.
“O ser humano tem o hábito de atribuir valor a coisas que estão dentro de embalagens ou com um certo tipo de logotipo, coisas que nos comunicam mais ou menos luxo. Há uma série de questões que levam a este afastamento [de tudo o que está] no nosso habitat natural”, explica a artista.
Com o nome emprestado pela espécie autóctone que ilustra o rótulo, o vinho Trinca Bolotas tem vindo a promover, anualmente, a celebração deste Dia da Bolota. Em comum, têm a autenticidade no sabor. “Os vinhos alentejanos têm características muito específicas e o Trinca Bolotas partilha com a bolota este poder afirmativo”, afirma Joana Barrios.
O objetivo deste encontro foi promover este superalimento através de receitas com bolota, como as que fomos descobrir a seguir.
Momento de live cooking e de prova
Sem mais demoras, partimos para a cozinha, onde Joana Barrios preparou pão de bolota. Aqui, a artista explicou todos os passos e desenvolveu uma proposta salgada, com espargos, e uma doce, com compota de dióspiro.
O evento fechou com o momento pelo qual todos aguardavam: saborear e experimentar este superalimento na companhia dos vinhos Trinca Bolotas. À mesa, os convidados, influenciadores e jornalistas, tiveram a oportunidade de experimentar as duas receitas.
A versão com espargos foi a primeira e foi acompanhada pelo Trinca Bolotas Tinto. Alguns minutos depois, chegou o prato doce, que foi acompanhado pelo Trinca Bolotas Branco.
Ambas ficaram marcadas pelo sabor característico do pão de bolota, ligeiramente amargo, mas que nos despertou a todos novas sensações no paladar.