Depois de tanta polémica à volta do evento, desde não haver apresentador até à possibilidade de certos prémios serem entregues durante o intervalo, aconteceu finalmente a 91.ª edição dos Óscares. E o que vos posso eu dizer como fã que sou de cinema?

Comecemos pelo início, apesar de estar com vontade de saltar para o fim dos meus raciocínios e já vão perceber porquê. Sem apresentador para fazer o habitual monólogo de início de cerimónia, Tna Fey, Maya Rudolph e Amy Poehler brilharam após a atuação dos Queen. Depois de deixarem claro que não iam ser as apresentadoras da noite, aproveitaram a polémica para fazer o público rir, imaginando como seria caso houvesse um apresentador. O resultado: algumas imitações hilariantes. Não demorou muito para todos os famosos na sala se renderem a tanto humor cativante.

Se senti ou não falta de um apresentador? Sendo o mais sincera possível, entristece-me que um evento cultural desta dimensão, cujo palco é dos mais ideais para alertar para os problemas atuais, seja castigado, perdendo-se assim uma oportunidade para se falar do que realmente importa. Como o caso do muro do México, por exemplo, mas que, mesmo assim, Maya Rudolph fez logo questão de o introduzir. Houve apenas oportunidade para se expor o que realmente interessa quando os vencedores das diferentes categorias subiram ao palco. Contudo, não desgostei do rumo que as coisas tomaram no Dolby Theatre.

Dezenas de caras conhecidas deram vida a alguns momentos caricatos. Sem dúvida que Mellissa McCarthy, na apresentação do vencedor para melhor guarda-roupa, deixou a plateia boquiaberta ao surgir repleta de coelhos. Mas como se isso não bastasse, ainda envergou uma bela marioneta que era um…coelho!

Passemos ao que verdadeiramente importa, os vencedores da noite. Sobre Alfonso Cuarón ter conquistado o Óscar de Melhor Realizador, penso que não foi novidade para ninguém. Agora, em relação aos restantes filmes: há uns tempos, escrevi-vos um artigo sobre a grandeza do “Bohemian Rhapsody” e de “Assim Nasce Uma Estrela”, mas, depois de ter visto o “Green Book”, filme inspirado na história do pianista Don Shirley, fiquei sem palavras. Este passou a ser, para mim, o candidato mais forte a Melhor Filme.

Para muitas pessoas à minha volta o drama foi mediano, mas como podem dizer isto? Desculpem, gostos discutem-se, só que a mensagem passada é tão forte e ao mesmo tempo tão subtil. Nós nem nos apercebemos no momento daquilo que está a ser transmitido. Na verdade, só quando saí da sala e comecei a refletir é que tomei consciência do que tinha acabado de ver. Mais uma vez, o racismo voltou a ser o destaque da noite e este não podia ser o filme mais adequado para os tempos em que vivemos, em que a união entre povos quer ser substituída por ódios e a tolerância chegou a um limite imaginário.

Dez vénias a Mahershala Ali, cujo Óscar de Melhor Ator Secundário pelo papel em “Green Book” foi mais do que merecido. Repito: mais do que merecido. Depois de "Moonlight", a entrega voltou a ser tanta... a dor e a vergonha que nos transmite incomoda-nos de forma tão simples e tão dura. É simplesmente brilhante. Palmas para Viggo Mortensen também, mas a categoria onde ele competiu estava repleta de outros estrelas mais cintilantes.

E foi aqui que fiquei surpreendida. Quer dizer, estava muito dividida entre o Rami e Christian Bale, que já deu provas suficientes do valor que tem, mas ainda não foi desta que foi reconhecido. Esperava que “Vice” tivesse mais protagonismo, mas acabou por passar completamente ao lado dos críticos da Academia. Contudo, a interpretação de Rami merece uma ovação de pé, tal como já vos tinha dito. E o discurso dele, após receber a estatueta dourada, foi uma declaração de amor tão bonita.

Ao contrário da excitação dos restantes, manteve-se sóbrio a falar, focou-se no mais importante e relembrou ao mundo as suas origens, homenageando os pais que emigraram do Egito. Mais do que isso, partilhou memórias de infância e resumiu-as, mostrando que interpretou o papel de um homem, Freddi Mercury, “gay e imigrante”. Passo a citá-lo: “O facto de eu, o (Freddi), estar a celebrar convosco esta noite, é a prova que de que todos nós ansiamos por mais histórias destas”. Tens toda a razão, Rami. Nós vivemos para estas histórias destas, que nos mostrem o lado humano da nossa espécie. Algo que, nos dias de hoje, parece que nos esquecemos.

Sem me querer alongar mais, porque perdi a noção do que já tinha escrito, não posso deixar de parabenizar Olivia Colman, por tamanha interpretação em “A Favorita”. Não adorei o drama histórico, é muito parado para aquilo que costumo preferir, mas fui perentória a afirmar que tanto Olivia, como Emma Stone e Rachel Weisz mereciam todas um Óscar. Já para não falar do humor britânico latente em mais de duas horas. Humildemente, Colman subiu ao palco e emocionou-nos com a sua falta de jeito para agradecer, mostrando-nos que não estava mesmo à espera de tal feito.

Faltou-me ver “If Beale Street Could Talk”, mas, pelo que li, porque não gosto de opinar sem saber do que falo, a distinção a Regina King era bastante óbvia. Já sei que estão a acabar de ler este texto e a perguntarem: “Não dizes nada sobre a Lady Gaga?”. Digo sim, não podia deixar de o fazer. Estamos a falar de uma mulher que foi violada, sofreu de bullying e a nuvem negra de uma depressão atacou-a. Mulheres: querem maior inspiração do que esta?