"O país funciona melhor com um homem bonito na Casa Branca". A frase não é nossa, mas de uma das personagens mais icónicas de todos os tempos: Samantha Jones, de "O Sexo e a Cidade". Em vez da Casa Branca, em Portugal temos o Palácio de São Bento, para onde deverá ir viver o deputado português que for indigitado pelo Presidente da República para ser primeiro-ministro, aquando das eleições antecipadas, que decorrem a 10 de março. E porque é que decidimos começar com esta frase? Bem, porque nem só de promessas e ideologias se faz a campanha dos políticos – a imagem também fala (e não é pouco).
Achamos que só celebridades ligadas à moda ou à televisão é que têm assessores de imagem, mas a verdade é que, embora de forma mais discreta, também profissionais de outras áreas precisam de ajuda neste campo. Veja-se o caso do conceituado treinador de futebol português Rui Vitória, que teve a sua imagem cuidadosamente curada pelo atual diretor da agência de modelos Elite Lisbon, Hélio Bernardino, segundo o "Record". Ou a preocupação que José Sócrates teve com a aparência, em 2011, antes de falar ao País, questionando o respetivo ajudante. A imagem tem poder e todos o sabemos.
Esta é realidade para o comum mortal – porque, ao fim e ao cabo, o modo como nos apresentamos ao mundo vai ditar a forma como aqueles de que nos rodeamos nos vão percecionar –, e para os políticos é algo que ainda pesa mais na balança, especialmente em contexto pré-eleitoral. É que não nos podemos esquecer da sua derradeira missão: angariar votos. E esse é um objetivo mais fácil de cumprir, caso a sua aparência faça o coração do eleitorado palpitar.
Também não somos nós que o dizemos, mas os estudos sociais, como o "Beautiful Politicians" (Políticos Bonitos, em português), publicado em 2009. Levado a cabo por uma dupla de investigadores da Universidade Nacional da Austrália, Amy King e Andrew Leigh, chegou-se a uma conclusão simples: políticos considerados bonitos têm maior probabilidade de serem eleitos. Tendo os candidatos às eleições federais de 2004 como mote, constatou-se que os mais atraentes registaram um aumento compreendido entre 1,5 a 2 pontos percentuais na quota de votos.
Se isso vai ter impacto nas eleições legislativas que se avizinham? Não sabemos – mas, se Pedro Nuno Santos sair vitorioso no dia em que os portugueses forem às urnas, não vamos pôr de lado a hipótese de o ter conseguido por ser "bué daddy". Ainda assim, aquando dos debates televisivos, que tiveram início a 5 de fevereiro e chegam ao fim esta sexta-feira, 23, com todos os representantes dos partidos com assento parlamentar, foi-nos impossível não pensar em pensar em algumas questões que diziam respeito à aparência dos candidatos.
Afinal, o que é isso de ser bonito (ou de, por outras palavras, ter boa imagem)? O que é que os representantes dos vários partidos fizeram bem durante os debates? E mal? O que é que podiam melhorar? Quem é que se veste melhor? E quem é que precisava mesmo de um banho de estilo? Precisávamos de respostas e, por isso, falámos com Filipe Carriço, stylist de vários nomes conhecidos do público português, dos quais Inês Castel-Branco e Victória Guerra são exemplos. Eis o que ficámos a saber.
Ter boa imagem "é relativo" – e varia no espetro político
O período eleitoral é caracterizado por pesquisas de opinião, pré-campanhas intensas, divulgação de agendas e uma série de atividades políticas voltadas para obter visibilidade pública através dos meios de comunicação. Para se destacarem nesta competição pela visibilidade, as campanhas dos políticos devem ser cativantes, assim como a imagem, que deve estar imaculada e irrepreensível.
Para Filipe Carriço, "ser bonito é muito relativo" em todos os aspetos da vida – mas, "no caso da política, ter uma boa imagem significa ser apelativo", refere. E isto aplica-se com ainda mais propriedade ao período conturbado que o País atravessa. "A situação política em Portugal está profundamente desintegrada e eles precisam de ter uma aparência especialmente cuidada para conquistarem o eleitorado", afiança.
Filipe Carriço diz que esta é a realidade a maior parte do tempo, mas que esta missão ganha ainda mais importância em contexto pré-eleitoral, nomeadamente durante os debates televisivos, em que a exposição é maior. Há que fazer o eleitorado, nesta altura tão decisiva, fazer acreditar que os partidos fazem e acontecem – ou, como diz o stylist, que “fazem milagres”.
"Eles estão nesta fase de angariar votos. E têm eventualmente a ideia de que vão trabalhar imenso, que vão fazer tudo, que vão mover montanhas para que a situação mude. Vão apresentar-se, mais uma vez, de forma formal", admite, acrescentando que o objetivo é passar credibilidade. Mas isso vai depender sempre das próprias ideologias do partido pelo qual vestem a camisola, que também ficam patentes na forma como se apresentam.
A lógica é simples. Nos debates (e não só), os visuais dos representantes de partidos de esquerda, como Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo, regem-se pela informalidade. Já os de direita, dos quais Luís Montenegro é o maior exemplo, encapsulam o conservadorismo no seu expoente máximo (e o facto de nunca lhe faltar uma gravata prova-o).
"Acho que tem muito a ver com os partidos da esquerda, com a intenção da aproximação às pessoas, através da ideia de que as pessoas de esquerda são muito trabalhadoras" e que não têm de usar um fato para porem as mãos na massa e fazerem a mudança, afirma Filipe Carriço. Já aqueles que se fixam no lado oposto do espetro optaram por looks mais institucionais, quase como se fosse uma "demonstração de rigor" e uma intelectualização.
Das más às boas escolhas, estes candidatos deram que falar
Penteados que podiam ser melhores, barbas que deviam estar mais aparadas, a falta de gravatas que se fez sentir em determinados casos e "senhoras que precisam de uma grande mudança". Se quiséssemos ser sucintos, era assim que resumíamos aquilo que Filipe Carriço comentou com a MAGG. Mas vamos a exemplos práticos.
A começar por Mariana Mortágua. A secretária-geral do Bloco de Esquerda apresentou-se em vários debates com sapatilhas, como foi o caso do frente a frente com Luís Montenegro, a 6 de fevereiro. Filipe Carriço diz que é uma característica muito própria da mesma e que passa uma mensagem, que vai ao encontro dos valores que ela defende e das camadas de quem se quer aproximar – mais jovem e popular.
"A Mariana tem um estilo um bocadinho mais masculino. Opiniões políticas à parte, já que é a minha candidata preferida, acho que precisava de mudar aqui um bocadinho", comenta. É que se aqueles que se identificam já lhe são fiéis, esta imagem mais descontraída pode afetar a sua capacidade de conquistar novos eleitores.
"Já várias pessoas me disseram que se identificam com ela, mas que depois não tem aquele look de política. Parece que lhe retira esse peso", continua Filipe Carriço, acrescentando que existem mudanças que levaria a cabo. "Iria exagerar o look masculin-féminin [ou andrógeno, por outras palavras]", afiança, dizendo que vestiria a deputada com um fato de blazer assertoado, emparelhando-o com uma T-shirt ou camisa e sapatos mais clássicos, mas de atacadores.
Mas a líder do Bloco de Esquerda não foi a única que mereceu a reprovação de Filipe Carriço. O sucessor de António Costa aos comandos do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, também não se ficou atrás nas críticas – e estas não tiveram nada que ver com a indumentária pela qual optou nos momentos televisivos em que picou o ponto.
Veja os looks dos candidatos.
O que é censurável para Filipe Carriço são dois atributos físicos. "Não gosto do cabelo nem da barba de Pedro Nuno Santos", critica de imediato, acrescentando que esta última característica serve "para esconder a cara", especialmente quando as pessoas acham que não têm feições "propriamente bonitas". Na sua opinião, isto pode ser reflexo de alguma insegurança da parte de Pedro Nuno Santos. "Pelo menos aquele comprimento de barba e de cabelo não lhe fica bem", reitera, acrescentando que aconselharia a cortá-lo para dar uma imagem mais polida.
Mas se há coisa que faz com que consiga apontar o dedo a Pedro Nuno Santos é o uso sistemático da gravata, que considera "essencial" no look de um político – algo que Rui Rocha e a Luís Montenegro, da Iniciativa Liberal e do Partido Social-Democrata, respetivamente, também seguem à risca, tendo usado este acessório em todos os debates.
Há quem não o tenha feito e, por isso, surja contemplado na lista de críticas do stylist. É o caso de Paulo Raimundo e Rui Tavares, líderes do Partido Comunista Português e do Livre. "Claro que depende do espaço onde estejam e daquilo que estejam a fazer, mas acho que os políticos devem sempre usar gravata. Não gosto nada de ver um político sem ela – apesar de os homens aparentarem ter mais cuidado com a apresentação”, diz, lançando breves farpas a Inês Sousa Real, cujas "camadas não são muito bem escolhidas".
Afinal, quem é que se destacou pela positiva? Bem, fazendo as contas, só falta um candidato – sim, na opinião do stylist, é mesmo André Ventura que leva o prémio de mais bem vestido. Filipe Carriço enfatiza taxativamente que não se identifica com o candidato, mas não deixa que as ideologias lhe toldem a capacidade de crer que é este que lhe parece fazer as escolhas mais acertadas.
“Talvez o cabelo e a barba podiam estar um bocadinho mais cuidados, confesso. Mas o André Ventura parece-me genericamente sempre o mais bem vestido", afirma, dizendo que a preocupação com gravatas coloridas e que se destacam do fato são algumas das características mais cativantes do candidato. "O corpo também ajuda, parece-me ser uma pessoa que faz ginásio. Os fatos têm um bom corte e ficam-lhe bem, é mais magro e mais esguio", remata.
Eis alguns conselhos práticos
Se a imagem tem um peso importante, a preocupação em demasia com a mesma também pode ser prejudicial. "Não é preciso estar sempre assim extremamente arranjado para estar à frente de um país. Acho que tem de se ter cuidado e não roçar o luxo", diz Filipe Carriço. "Eles são eleitos pelo povo, que somos nós, estão a representar o País. E tudo passa uma mensagem", afiança.
Trocado por miúdos, usar vestuário que pisca o olho ao luxo – dos quais os fatos de Pedro Nuno Santos parecem ser exemplo –, num país que está a passar crises a vários níveis, pode não ser bom sinal. "Não podem ser dandy demais", declara. Ainda assim, o stylist deixou alguns conselhos práticos, tendo sempre uma máxima como mote: "Nada é uma obrigatoriedade. É uma sugestão".
- As candidatas devem "usar vestido e saltos o mais possível", se assim fizer sentido para a pessoa em questão;
- Apesar de não ser regra, optar por "algo sem muito decote e mais clássico";
- Os candidatos devem optar por usar sempre "fato, camisa e gravata" – ou, no caso de dispensarem a gravata, um lenço;
- Sapatos de boa qualidade também são "indispensáveis";
- "Todos devem ter cuidado com os padrões. Não devem ser estridentes, devem ser sempre peças o mais lisas possível";
- O stylist gostava de ver um candidato "com uma camisa e um cardigan de malha por cima – "e com gravata fica muito anos 70, muito Prada", diz.
- Mas, sobretudo, os políticos devem "preocupar-se em fazer o seu trabalho o melhor possível e trabalhar na oposição".