Há cada vez mais portugueses a fazer compras online e, dos que o fazem, há um crescimento nos que escolhem as plataformas digitais para comprar e vender produtos em segunda mão.
O barómetro e-Shopper 2023, realizado em 22 países europeus pela serviço internacional de entregas Geopost (que engloba marcas como a DPD, Chronopost e Seur), revela que, em Portugal, 71% já fez algum tipo de compra online, um crescimento de 5% face ao ano anterior. 42% fazem regularmente compras online, uma percentagem que fica abaixo da média europeia (48%). Na média do ano, os e-shoppers regulares fizeram 11,1 compras, um valor também abaixo da média europeia (15,3).
As categorias mais procuradas pelos portugueses são a moda (59%), a beleza e saúde (51%) e o calçado (41%). O principal fator apontado para as compras online são a poupança de tempo (83%) e menos stresse do que a compra em lojas físicas (70%). 76% dos inquiridos indicam que o preço é o fator mais importante quando compram e 79% procuram sempre bons negócios.
No que toca à compra em plataformas c2c (consumidor a consumidor, como OLX, Vinted e similares), Portugal também está abaixo da média europeia (60% vs. 72%). Ainda assim, um terço dos e-shoppers regulares de Portugal indica ter aumentado as compras de produtos em segunda mão.
No total dos e-shoppers regulares, 32% compram e vendem artigos em segunda mão em plataformas online C2C. Neste segmento, 55% são mulheres e a média de idades é 41 anos. Pertencem a um segmento com rendimento baixo (57%) e a uma população urbana (85%). Os inquiridos dizem, em média, comprar 11,1 vezes por ano em plataformas c2c. 45% dos inquiridos revela também que vende artigos neste tipo de plataforma de comércio de produtos em segunda mão. O principal motivo é poupar dinheiro (65%), seguido de libertar espaço em casa (64%).
Um dos dados mais curiosos deste barómetro é a quebra nas compras através das redes sociais (51% face aos 60% de 2022). Os inquiridos adiantam que estas plataformas servem para recolha de informação e também para inspiração.
O que está acima da média europeia é a preferência por sites estrangeiros. 73% dos e-shoppers regulares prefere sites estrangeiros, contra os 58% da média europeia. Espanha (61%) e China (58%) são as nacionalidades dos sites mais procurados e a competitividade dos preços, mais uma vez, é o fator decisivo.
Num ano em que a inflação condicionou os hábitos de consumo dos portugueses, o barómetro da Geopost revela que 71% dos inquiridos considera que comprar online poupa dinheiro (a média europeia é de 65%). Apontam também que o preço é o fator mais importante nas decisões de compra (76%, a media europeia é 62%).
A entrega em mão caiu bastante (de 32% para 20%) e os consumidores preferem receber as compras através do operador escolhido pelo vendedor. O local privilegiado de entrega é em casa (70%) e depois no local de trabalho (34%). Os portugueses parecem ficar satisfeitos com esta forma de comércio porque apenas 6% devolveram a última compra.
"São as gerações mais novas que trazem uma preocupação acrescida com a sustentabilidade e que esperam esse mesmo compromisso do lado das marcas"
Em entrevista à MAGG, Carla Pereira, Diretora de Marketing e Comunicação da DPD Portugal reflete sobre os resultados do barómetro e-Shooper 2023 e o que eles significam para o mercado, não só online mas também para o comércio físico.
O comércio físico tem os dias contados a médio prazo? Que segmentos crê que vão sobreviver?
Não acredito que o comércio físico tenha os dias contados. O que estamos a assistir é a uma evolução dos comportamentos de consumo e da forma como os clientes interagem com as marcas. Diria mesmo que vivemos hoje um modelo híbrido, onde vemos o e-commerce a crescer de forma sustentada ao longo dos anos, e sobretudo desde a pandemia – com 71% de e-shoppers no total da população portuguesa – mas ao mesmo tempo uma continuidade da afluência de clientes às lojas físicas, muitas vezes para testar/experimentar o produto e depois adquiri-lo online.
Verificamos, aliás, diversas marcas a apostar na criação de experiências únicas no ponto de venda, onde os clientes passam a ter uma interação única e personalizada com o produto. Portanto, acredito que o caminho seja uma coexistência das duas realidades, ou seja a omnicanalidade.
Que peso têm a Gen Z e a Gen Alpha, nativos digitais, na forma como o e-commerce é planeado? O setor já se adaptou a estes consumidores ou ainda há muito trabalho a fazer?
Diria que o impacto das novas gerações e nativos digitais está agora a começar a sentir-se ao nível do e-commerce, na medida em que assistimos cada vez mais estes grupos a penetrar o mercado de trabalho e, por sua vez, a ganhar a sua independência financeira e consequente poder de compra. Se olharmos para os vários números do Barómetro e-Shopper 2023, vemos já uma influência substancial das gerações mais jovens. Desde logo, nas opções de entrega. São os e-shoppers mais jovens aqueles que mais utilizam as opções de entrega Out-of-Home, particularmente no que se refere aos lockers, uma tendência que acompanha a crescente necessidade destas gerações por soluções mais cómodas e flexíveis.
Ao mesmo tempo, são as gerações mais novas que trazem uma preocupação acrescida com a sustentabilidade e que esperam esse mesmo compromisso do lado das marcas. No mesmo Barómetro, 63% dos e-shoppers regulares portugueses revelam que optariam mais provavelmente por um website, retalhista ou app que tenha opções de entrega amigas do ambiente; e 59% dizem ser importante para a compra online ter alternativas de entrega amigas do ambiente.
Esta tendência reflete-se igualmente em serem fervorosos utilizadores de plataformas C2C, para comprar e vender artigos, uma tendência que tem vindo a crescer e que será para manter, conscientes que os nativos digitais têm das vantagens de uma economia circular. Dito isto, diria que as marcas estão num processo constante de adaptação para responder à evolução dos comportamentos de consumo (dos jovens e não só).
Houve uma ligeira quebra na compra através das redes sociais em relação a 2022. A que é que acha que isso se deve?
Em 2023, as redes sociais continuaram a ser utilizadas pelos portugueses para fazerem as suas compras online, verificando-se que oito a dez e-shoppers regulares continuam a eleger esta via, embora menos do que o tinham feito em 2022 (51% vs. 60%). Esta quebra pode ser explicada, em parte, pelo crescimento das plataformas C2C – só nos últimos anos temos assistido ao surgimento de diversas plataformas com grande expressão no e-commerce mundial.
Hoje seis em cada dez e-shoppers regulares portugueses utilizam estas plataformas para comprar e vender artigos, uma tendência que tem vindo a crescer em Portugal e que será para manter, na medida em que os portugueses estão mais conscientes das vantagens de uma economia circular.
O crescimento do comércio eletrónico, sobretudo na parte da distribuição e entrega, levanta uma série de questões, quer humanas, quer de sustentabilidade. O que é que tem de ser feito, a nível global, para garantir justiça salarial e reduzir a pegada ambiental deste setor?
Se por um lado temos o reconhecimento que o setor da distribuição é um mais responsáveis pela emissão de gases com efeitos de estufa, por outro lado o crescimento do e-commerce e por sua vez da atividade de entregas expresso tem levado a que os operadores deste setor estejam focados em liderar a mudança sustentável do seu negócio e da sua atividade de entregas como um todo, deixando de fazer parte do problema e criando o caminho rumo à solução e futuro da sustentabilidade.
Na DPD, temos adaptado a nossa estratégia e áreas de negócio para conseguir contribuir para um planeta mais amigo do ambiente, através da otimização do processo de entrega, processo esse que temos vindo a trabalhar por duas vias.
Em primeira instância, na aposta progressiva na descarbonização da nossa rota, através do investimento em veículos elétricos, hoje operacionais em várias cidades portuguesas, como Lisboa, desde 2021 e Porto desde 2023, bem como na procura constante por alternativas ecológicas que reduzam a nossa pegada de carbono, uma vez que estamos comprometidos em continuar a disponibilizar entregas mais sustentáveis, sem custos adicionais para clientes e destinatários, em todas as nossas entregas.
Depois, temos investido na utilização da inovação na nossa atividade, através da oferta de opções de entrega e recolha de encomendas mais sustentáveis, e, também, flexíveis e convenientes para o consumidor, ajustando-se às suas necessidades do dia a dia, tais como os nossos lockers e rede de lojas Pickup, que ao serem uma alternativa ao home delivery, permitem reduzir recursos e a emissão de dióxido de carbono, ao concentrar várias encomendas num só ponto de recolha.